Eficácia e tolerância do peeling de fenol-cróton 1,6% versus imiquimode 5% tópico no tratamento de queilites actínicas: um ensaio clínico randomizado.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Garbers, Luiz Eduardo Fabricio de Melo [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/259482
Resumo: A queilite actínica (QA) é uma lesão classificada como alteração potencialmente maligna, que consiste na inflamação da mucosa labial devido à exposição solar crônica. Estima-se que de 3,9 até 28,4% da população brasileira possa ser acometida. Leucoplasia é a forma mais frequente da QA. Existem diversos tratamentos para as QAs objetivando à prevenção do surgimento do carcinoma espinocelular (CEC), tais como: terapia fotodinâmica, criocirurgia, ablação com laser de CO2, terapia fotodinâmica, eletrodissecção, vermilhonectomia e o uso de agentes tópicos isolados ou combinados com intervenções, como imiquimode 5% e 5-fluoracil. Até o momento, no entanto, não existe um tratamento consensual. O imiquimode é um medicamento tópico estimulante da resposta imune inata através do toll-like receptor 7 com ação indireta antiviral e antitumoral, com boa resposta no tratamento da queilite actínica. O peeling profundo de fenol-cróton, por sua vez, atua destruindo por completo a epiderme e remodelando o colágeno e fibras elásticas dérmicas promovendo, ao final de 15 a 21 dias, a reepitelização local com queratinócitos jovens e sem displasia. Dessa forma, o peeling de fenol-cróton pode ser uma nova estratégia terapêutica rápida e de baixo custo para o tratamento das QAs. O objetivo desse estudo foi comparar a eficácia do peeling de fenol-cróton 1,6% versus imiquimode 5% tópico no tratamento das QAs do lábio inferior. Foi conduzido um ensaio clínico aberto, paralelo, randomizado, comparativo e controlado. Trinta e seis pacientes com idade acima de 18 anos e diagnóstico histológico de QA no lábio inferior e sem tratamento prévio para QA nas últimas oito semanas foram incluídos e divididos em dois grupos: 18 pacientes foram submetidos ao peeling de fenol cróton a 1,6% e 18 pacientes foram tratados com imiquimode 5% creme à noite, três vezes na semana, durante trinta dias. Ocorreram reavaliações em uma, três e oito semanas e após seis meses do início dos tratamentos. O desfecho primário foi o clearance completo das QAs no D180 e os secundários constituíram os efeitos adversos, tolerabilidade, preferência por tratamentos e alterações histopatológicas nas áreas tratadas. O grupo consistiu em 36 pacientes, homogêneos quanto às principais características demográficas. Não houve desistências ou desvios de protocolo para esta amostra. Nenhum paciente desenvolveu CEC durante os 180 dias de acompanhamento. Após oito semanas das intervenções, a remissão clínica total da QA foi alcançada em 17 participantes (94%; IC 95% 72-99%) do grupo 1,6%-CROTON; entretanto, nenhum participante (0%; IC 95% 0-21%) do grupo 5%-IMI estava livre da leucoplasia e hiperqueratose (p<0,01). Reduções no borramento da borda do vermilhão, discromia, leucoplasia e hiperqueratose foram mais proeminentes no grupo 1,6%-CROTON (p≤0,01). Leucoplasia (clearance 6%) e ulceração (clearance 61%) foram detectadas em D180 no grupo 5%-IMI. A remissão clínica total no D180 foi igual à do D56. O número estimado necessário para tratar (NNT) e a redução absoluta do risco para remissão clínica foram de 1,1 (IC 95% 1,0-1,2) e 94% (84-99%) no D56 (p<0,001). Em relação à melhora geral do lábio inferior desde o início do tratamento até o D180 o escore GAIS foi superior no grupo 1,6%-CROTON (p<0,01). Todos os participantes do grupo 1,6%-CROTON experimentaram melhora no D180, já a melhora geral foi observada em somente 12 participantes (67%; IC 95% 50-83%) do grupo 5%-IMI. A avaliação histológica revelou que o escore KIN, a intensidade da elastose solar, hiperqueratose, hipergranulose e paraqueratose diminuíram para o grupo 1,6%-CROTON, mas não para o grupo 5%-IMI (p<0,05). A remissão histológica (KIN = 1) foi alcançada em 13 participantes (72%; IC 95% 49-87%) do grupo 1,6%-CROTON e em 3 (17%; IC 95% 5-40%) do grupo 5%-IMI (p<0,01). O NNT estimado e a redução do risco absoluto para remissão histológica foram de 1,8 (IC 95% 1,2-3,5) e 56% (29-83%) no D56 (p<0,001). A análise interina deste grupo de inclusão primário levou à interrupção precoce do ensaio por futilidade, uma vez que foi detectada diferença significativa entre os grupos de tratamento. Os efeitos adversos mais intensos no grupo 1,6%-CROTON ocorreram no D7 e diminuíram no D21. Em contraste, no grupo 5%-IMI, os efeitos adversos persistiram até o D21. No D56, nenhum efeito adverso foi relatado. Nenhuma cicatriz foi detectada em nenhum participante do estudo. Dez participantes do grupo 5%-IMI que não obtiveram remissão clínica se submeteram ao tratamento subsequente com uma sessão de peeling labial com fenol-cróton a 1,6%. Sete (70%) deles apresentaram eliminação total das lesões após 180 dias de acompanhamento. Ensaios clínicos que avaliam a eficácia dos tratamentos tópicos para QA são escassos. No estudo, o tratamento da QA com sessão única de peeling de fenol-cróton a 1,6% apresentou resultados clínicos e histológicos superiores aos do creme tópico de imiquimode a 5%, três vezes por semana, durante um mês. A alternativa do uso do peeling de fenol-cróton a 1,6% permite o tratamento das variadas apresentações clínicas de QAs nos diversos níveis da atenção à saúde, oferecendo uma opção de baixo custo, viável e efetiva em uma única aplicação, realizada pelo dermatologista. Isso contrasta com os tratamentos dependentes da aplicação do paciente em múltiplas sessões (como o imiquimode tópico) e propensos à má adesão, especialmente devido aos efeitos adversos, que podem comprometer a eficácia da intervenção. As potenciais limitações do estudo são seu desenho monocêntrico e a interrupção precoce, devido à análise interina que detectou diferenças consistentes entre os grupos. Somado a isso, uma maior duração do tratamento poderia melhorar a eficácia do imiquimode. Concluindo, uma única sessão de peeling de fenol-cróton a 1,6% produziu resultados clínica e histologicamente superiores com menor tempo de inatividade do que o creme tópico de imiquimode a 5% por 30 dias para o tratamento de QA.