Plantas medicinais utilizadas por pessoas com Diabetes mellitus controlam o estresse oxidativo e apresentam baixa toxicidade: avaliação in silico, in vitro e in vivo da “Pata-de-vaca” e “Macela”

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Salgueiro, Andréia Caroline Fernandes
Orientador(a): Puntel, Gustavo Orione
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Pampa
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://dspace.unipampa.edu.br:8080/jspui/handle/riu/1671
Resumo: Muitas plantas são utilizadas na medicina tradicional para o tratamento do Diabetes mellitus (DM) e suas complicações. A hiperglicemia crônica no DM está intimamente associada ao aumento do estresse oxidativo. Assim, esta pesquisa teve como objetivos: i) investigar quais plantas são utilizadas na medicina tradicional por pessoas com DM na cidade de Uruguaiana/RS; ii) avaliar o potencial antidiabético, antioxidante e toxicológico de duas destas plantas in silico, in vitro e in vivo. Para isso, foi realizada uma entrevista com 105 pessoas com DM em Uruguaiana/RS, no intuito de investigar os hábitos de consumo de plantas medicinais (Manuscrito 1). Dos entrevistados, 67,6% afirmaram usar plantas medicinais. As quatro plantas mais utilizadas foram a pata-de-vaca (Bauhinia), jambolão (Syzygium jambolanum; Syzygium cumini), camomila (Matricaria recutita) e macela (Achyrocline satureioides). A infusão foi a forma de preparo mais utilizada e a frequência de consumo, em mais de 80% dos casos, foi diária. Predições in silico dos constituintes majoritários das plantas mais utilizadas mostraram a existência de provável atividade (Pa) antidiabética para alguns dos compostos analisados (Manuscrito 1). Na sequência, o potencial antidiabético, antioxidante e tóxico da Bauhinia forficata Link subsp. pruinosa (BF) foi testado in silico, in vitro e in vivo, neste último caso utilizando camundongos com hiperglicemia crônica (Manuscrito 2). Os resultados mostram que os fitoconstituintes previamente identificados na infusão de BF (quercetin 3-o-(2-rhamnosyl)rutinoside; kampferol 3-o-(2-rhamnosyl)rutinoside; quercetin-3-O-rutinoside; e kaempferol-3-O-rutinoside) apresentam alta predição in silico como antioxidantes e baixa predição como antidiabéticos e como agentes tóxicos (mutagenicidade, cardiotoxicidade e hepatotoxicidade). A predição antioxidante foi confirmada in vitro e ex vivo, sendo a BF capaz de reduzir a peroxidação lipídica e controlar os níveis de espécies reativas à diclorofluoresceína (DCF-RS) em eritrócitos de camundongos com hiperglicemia crônica. Da mesma forma, a baixa predição antidiabética foi ratificada, visto que tanto a hiperglicemia, quanto os demais sintomas clássicos do DM (poliúria, polidpsia, polifagia e perda de peso) não foram controlados pelo tratamento com a BF (Manuscrito 2). Além disso, a ação da BF sobre os danos hepáticos induzidos pela hiperglicemia foi avaliada em camundongos com DM (Artigo 1). Os resultados mostraram que os animais com DM apresentavam altos níveis de NQO-1 no pâncreas, e de DCF-RS e lipoperoxidação no fígado, assim como diminuição da atividade da catalase hepática. O tratamento com a BF foi capaz de normalizar estes parâmetros, porém não teve efeitos sobre a hiperglicemia, a hepatomegalia, as proteínas carboniladas, os tiois não-proteicos e a atividade da - aminolevulinato desidratase (Artigo 1). Adicionalmente, o potencial antidiabético, antioxidante e tóxico da Achyrocline satureioides (AS) foi testado (Artigo 2). A toxicidade foi predita in silico e avaliada in vitro no ensaio de cometa com linfócitos humanos isolados, e no ensaio de determinação da dose letal mediana (DL50) em naúplios de Artêmia salina. Os resultados mostraram que os componentes majoritários identificados na infusão de AS (quercetina, isoquercitrina e ácido cafeíco) apresentam alta predição como antioxidantes e baixa predição de toxicidade, exceto para a quercetina. A ação antioxidante foi confirmada tanto para o extrato aquoso bruto (infusão), quanto para os constituintes isolados. A DL50 determinada classifica a planta como não tóxica. No ensaio de cometa não foi identificado potencial genotóxico para a infusão de AS (Artigo 2). Os dados apresentados confirmam o elevado uso de plantas por pessoas com DM na medicina tradicional. Da mesma forma, as análises realizadas apontam o estresse oxidativo como sendo um dos mecanismos envolvidos nos danos teciduais decorrentes do DM. As análises mostram ainda que os efeitos protetores resultantes do tratamento com a BF podem ser atribuídos à sua capacidade antioxidante, demonstrada in vitro e ex vivo, visto que não foi identificado potencial antidiabético in silico e in vivo. Nesta mesma linha, o alto potencial antioxidante e baixa predição toxicológica apontam a AS como uma alternativa para o tratamento dos danos causados pelo estresse oxidativo. Em suma, os resultados aqui apresentados permitem concluir que a planta BF, utilizada na medicina tradicional para tratar DM e suas complicações, não apresenta efeito antidiabético direto na forma como foi aqui testada. No entanto, sua importante atividade antioxidante faz, tanto da BF quanto da AS, potenciais agentes para o tratamento complementar do DM, especialmente considerando as complicações diabéticas decorrentes do incremento do estresse oxidativo. Neste contexto, abrem-se perspectivas para investigações futuras do uso dessas plantas como terapia complementar ao tratamento clínico tradicional.