A fibromialgia e a dor crônica: o tratamento pelo exercício físico e a influência de componentes biopsicossociais no entendimento da dor

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Franco, Katherinne Ferro Moura lattes
Orientador(a): Cabral, Cristina Maria Nunes lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Cidade de São Paulo
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Fisioterapia
Departamento: Pós-Graduação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.cruzeirodosul.edu.br/handle/123456789/2767
Resumo: O objetivo principal deste estudo foi avaliar a efetividade e custo-efetividade de exercícios do método Pilates modificado em comparação com exercícios aeróbicos no tratamento de pacientes com fibromialgia. Para isso, neste estudo controlado aleatorizado, 98 pacientes que preencheram os critérios de classificação da fibromialgia do Colégio Americano de Reumatologia de 2010, com idade entre 20 e 75 anos, e com intensidade de dor ≥ 3 pontos na Escala Numérica de Dor, foram aleatoriamente divididos em Grupo Aeróbico (exercícios aeróbicos em esteiras e/ou bicicletas ergométricas) ou Grupo Pilates (exercícios modificados do método Pilates) e tratados duas vezes por semana, durante oito semanas no Centro de Excelência em Pesquisa Clínica em Fisioterapia da Universidade da Cidade de São Paulo. Os seguintes desfechos serão avaliados por um avaliador cego no início do estudo, oito semanas, seis meses e 12 meses após a aleatorização: impacto da fibromialgia (Questionário de Impacto da Fibromialgia), intensidade da dor (Escala Numérica de Dor), cinesiofobia (Escala Tampa de Cinesiofobia), incapacidade específica (Escala Funcional Específica do Paciente), capacidade funcional (teste de caminhada de 6 minutos), qualidade do sono (Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh) e qualidade de vida relacionada à saúde (EQ-5D e SF-6D). Como resultado foi encontrado que houve uma diferença estatisticamente significativa em favor do grupo Pilates para dor após 8 semanas (diferença média [MD]: 1,2 pontos, 95% intervalo de confiança [IC]: 0,0 a 2,3), qualidade do sono após 6 meses (MD: 1,9 pontos , IC 95%: 0,5 a 3,3) e qualidade de vida relacionada à saúde após 12 meses (MD: 0,07; IC95%: -0,1 a -0,00). A análise de custo-utilidade mostrou que o Pilates parece ser a opção preferida para o EQ-5D, mas não para o SF-6D. Os objetivos secundários desse estudo foram: sumarizar a evidência existente sobre a prescrição de exercícios para pacientes com dor crônica (fibromialgia, distúrbios associados à lesão de chicote crônica e dor cervical idiopática); comparar diferentes instrumentos de utilidade de estado de saúde em pacientes brasileiros com fibromialgia e definir variáveis que estão associadas com estes instrumentos; avaliar o quanto os sintomas psicológicos influenciam a intensidade da dor e o nível de incapacidade em pacientes com fibromialgia; e avaliar a presença de distorção da imagem corporal em pacientes com fibromialgia. Para sumarizar a evidência sobre a prescrição de exercícios para fibromialgia, distúrbios associados a lesão de chicote crônica, foi realizada uma revisão sistemática. A busca foi realizada no Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), MEDLINE (Pubmed), EMBASE, CINAHL e PEDro. Dados relacionados ao tipo de exercício físico, características e parâmetros para o tratamento da dor foram extraídos para análise. Cinquenta ensaios controlados aleatorizados, com 3562 participantes foram incluídos na síntese qualitativa e 24 estudos foram incluídos na meta-análise. Para fibromialgia: há evidências de muito baixa qualidade de que o exercício aeróbico parece ser melhor do que apenas os exercícios de alongamento. Parece não haver diferença entre a realização de exercícios aeróbicos terrestres ou em piscina. No entanto, há evidências de baixa qualidade de que o exercício aeróbico parece ser semelhante aos exercícios de fortalecimento e o fortalecimento muscular parece ser melhor do que os exercícios de alongamento. Em relação à prescrição do exercício, sessões supervisionadas, com 50 a 60 minutos, 2 a 3 vezes por semana, por um período de tratamento de 13 semanas ou mais, podem ser utilizadas em pacientes com fibromialgia. Para distúrbios associados a lesão de chicote crônica: Apenas dois estudos foram incluídos e mostraram que os exercícios de consciência corporal são similares à combinação de exercícios aeróbicos + fortalecimento + coordenação. E não faz diferença acrescentar exercícios com sling à combinação de exercícios de força muscular + resistência muscular. Sessões supervisionadas, duas vezes por semana por até 90 minutos, por um período de tratamento de 10 a 16 semanas podem ser usadas nesses pacientes. Para dor cervical idiopática crônica: há evidências de baixa qualidade de que o exercício combinado parece ser melhor do que as terapias meditativas, e os exercícios de controle motor parecem ser similares ao fortalecimento muscular inespecífico. E sessões supervisionadas, com 30 a 60 minutos de duração, 2 a 3 vezes por semana, por um período de 7 a 12 semanas de tratamento podem ser usadas para esses pacientes. Para comparar diferentes instrumentos de utilidade de estado de saúde em pacientes brasileiros com fibromialgia, foi realizada uma análise secundária de um ensaio controlado aleatorizado. Neste estudo foram avaliados 97 pacientes com fibromialgia. Os desfechos analisados foram o impacto da fibromialgia (Questionário de Impacto da Fibromialgia), e índices de utilidade (Short Form 6 Dimensions - SF-6D, EuroQol 5 Dimensions - EQ-5D, e EuroQol - Escala Visual Analógica - EQ-EVA), oito semanas, seis e 12 meses após a aleatorização de um ensaio controlado aleatorizado com avaliação econômica. Os índices de utilidade foram comparados em uma análise da validade convergente e responsividade. Modelos de regressão múltipla foram usados para verificar variáveis que poderiam estar associadas com os instrumentos de utilidade. Como resultado, a análise da validade convergente mostrou que houve correlação moderada entre os instrumentos EQ-5D e SF-6D com o impacto da fibromialgia (r=-0,410; r=-0,393 respectivamente), e uma correlação fraca para o EQ-EVA (r=-0,324). Há uma forte correlação entre EQ-5D e SF-6D (r=0,534), fraca entre SF-6D e EQ-EVA (r=2,97) e não houve correlação entre EQ-EVA e EQ-5D (r=0,191). Na análise de responsividade, foi observado que EQ-5D foi responsivo nas avaliações de oito semanas e seis meses, SF-6F foi responsivo somente em seis meses e EQ-EVA não foi responsivo. A análise de regressão múltipla mostrou que apenas o impacto da fibromialgia se relacionou com as pontuações do EQ-5D e do SF-6D, e a duração da dor e depressão com a pontuação do EQ-EVA. Para verificar a associação entre níveis elevados de dor e incapacidade e a presença de fatores psicológicos em pacientes com fibromialgia, foi realizado um estudo transversal, no qual os seguintes desfechos foram avaliados em 104 pacientes com fibromialgia: dor (Escala Numérica de Dor), incapacidade (Escala Funcional Específica do Paciente), depressão (Escala de Depressão de Beck), ansiedade (Inventário de Ansiedade Traço-Estado), cinesiofobia (Escala Tampa de Cinesiofobia), catastrofização da dor (Escala de Catastrofização da Dor), crenças e atitudes frente à dor (Inventário de Atitudes Frente à Dor) e a ocorrência de abuso em algum momento da vida. A análise estatística foi realizada utilizando modelos de regressão linear. Como resultado, foi observado que altos níveis de depressão foram associados a altos níveis de intensidade da dor (0,07; IC 95%: 0,02 a 0,11; p = 0,00), e altos níveis de cinesiofobia foram associados a altos níveis de incapacidade (-0,06; IC 95%: -0,09 a -0,02; p = 0,00). A depressão pode explicar 10% da intensidade da dor, enquanto a cinesiofobia pode explicar 9% da incapacidade. Para avaliar se existe distorção da imagem corporal em pacientes com fibromialgia, e se há modificação da imagem corporal desses pacientes após o exercício, foi realizado um estudo transversal e uma análise secundária de um ensaio controlado aleatorizado. Os seguintes desfechos foram avaliados em 24 pacientes com fibromialgia e 24 participantes assintomáticos: dor (Escala Numérica de Dor), imagem corporal (Desenho e Teste de Discriminação de Dois Pontos), e circunferência dos membros (cirtometria). Após a avaliação, os pacientes com fibromialgia foram alocados para os grupos: Exercícios Aeróbicos e Pilates. Nossos resultados mostraram que não houve diferença significante da imagem corporal da cervical (4,7 mm; IC 95%:-23,6 a 33,1), lombar (11 mm; IC 95%: -40,3 a 62,4), mãos (-3,6 mm; IC 95%: -3,6 a 62,4) e pés (-8,3 mm; IC 95%: -21,9 a 5,1) entre os participantes com fibromialgia e assintomáticos. Porém, os pacientes com fibromialgia tiveram a imagem corporal alterada pela comparação dos desenhos com a cirtometria. Após a intervenção, não houve diferença significante entre o exercício aeróbico e Pilates para dor (0,42 mm; IC 95%: -1,8 a 2,7) e para imagem corporal na cervical (11,3 mm; IC 95%: -16 a 38,6), lombar (3,1 mm; IC 95%: -12,4 a 18,6), mãos (-0,9 mm; IC 95%: -12,9 a 11,2) e pés (0,9 mm; IC 95%: -17,4a 19,2) nos pacientes com fibromialgia.