Resumo: |
O objetivo do estudo foi compreender a dimensão prescrita e real das práticas de profissionais de saúde na implantação do programa de Segurança do Paciente. Estudo de abordagem qualitativa, delineado pela estratégia Estudo de Caso, fundamentado na Sociologia Compreensiva. A pesquisa foi realizada em um hospital de ensino localizado na Zona da Mata de Minas Gerais, cenário que desenvolve algumas ações voltadas para a qualidade, gerenciamento de risco e segurança do paciente. Os participantes da pesquisa foram os membros do Núcleo de Segurança do Paciente e a equipe de Enfermagem da Unidade de Internação. A escolha por entrevistar a equipe das unidades de internação se deu com base em resultados de uma pesquisa na qual o objetivo era avaliar a incidência de eventos adversos em hospitais no Brasil. Seus resultados apontaram que a enfermaria foi o local com maior frequência de eventos adversos (48,5%). A escolha de profissionais do núcleo se deu por entender que são eles quem gerenciam e prescrevem as ações para alcançar a segurança do paciente. Foram entrevistados os membros do núcleo, enfermeiros, e para os técnicos de enfermagem, utilizou-se o critério de saturação dos dados, totalizando 31 participantes. A coleta de dados foi realizada por meio de dados primários e secundários. Os dados secundários foram obtidos por meio de pesquisa documental (documentos da qualidade, relatórios, protocolos, indicadores, registros e plano de ação do núcleo) possibilitando o resgate de fontes prescritas, ou seja, as práticas planejadas para alcance da segurança do paciente. Os dados primários foram coletados por meio de entrevistas, com roteiro semiestruturado, e observação, com registro em diário de campo. A observação e as entrevistas possibilitaram o resgate de fontes reais. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra para análise e interpretação dos dados. Para análise dos dados foi utilizada a Análise de Conteúdo. Todos os aspectos éticos foram respeitados de acordo com a Resolução 466/2012 sob parecer no 1.072.502. Como resultados foram identificados como fatores de insegurança na instituição estudada: a estrutura física, com instalações inadequadas, falta de recursos materiais ou ausência de qualidade dos materiais utilizados, recursos humanos insuficientes, ausência de uma relação adequada entre liderança e demais profissionais, características pessoais que influenciam o comportamento como, o conhecimento e a qualificação profissional, influenciando nas práticas de saúde. As transformações ocorridas como, a criação do Núcleo e Plano de Segurança do Paciente; a implantação de protocolos e de indicadores foram evidenciadas mais nas concepções prescritivas do que na prática. Na prática profissional evidenciou-se ausência de interação dos membros do núcleo com demais profissionais, ausência de capacitação da equipe e de avaliação das ações com metas e estratégias de trabalho. A prática de notificação de eventos adversos encontrava-se marcada pelo medo e apresentava lacunas no conhecimento. Necessária se faz a superação das diversas formas de comunicar o evento adverso, superar a realidade punitiva e de subnotificações. Na unidade de internação foi possível identificar algumas mudanças na prática de enfermagem como mudanças na admissão e na identificação do paciente com ênfase para o gerenciamento dos riscos. A interação com a equipe médica mostrou-se frágil, com repercussões na segurança do paciente. A segurança do paciente foi evidenciada prioritariamente no âmbito prescrito das práticas na instituição estudada. A comunicação e a prática gerencial se revelaram como importantes entraves entre o prescrito e o real, e as relações sociais como o principal caminho para configurar novas práticas. |
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