Conhecimentos na análise de ambientes: a pedologia e o saber local em comunidade quilombola do norte de Minas Gerais
Ano de defesa: | 2008 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Dissertação |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Viçosa
BR Fertilidade do solo e nutrição de plantas; Gênese, Morfologia e Classificação, Mineralogia, Química, Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas UFV |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://locus.ufv.br/handle/123456789/5400 |
Resumo: | Como resposta ao processo de degradação ambiental, ocasionado em grande parte pelas práticas e ações de paradigmas reducionistas, é crescente a incorporação e apropriação de epistemologias voltadas à sustentabilidade, valorização das relações homem-ambiente e a percepção da necessidade da manutenção da complexidade dos sistemas produtivos. O saber construído pelas populações tradicionais sobre o ambiente em que vivem, tem sido geralmente desconsiderado em programas de pesquisa e desenvolvimento, embora muitos estudos reconheçam e comprovam sua importância para o cotejamento responsável e condizente às especificidades dos agroecossistemas locais. A dificuldade da comunidade da ciência do solo em considerar o conhecimento local, de agricultores de base familiar, dos povos indígenas, remanescentes de quilombos, entre outros, remete a necessidade de incorporação de outros enfoques e abordagens nos estudos dos agroecossistemas. A combinação de ciências naturais e sociais e a consolidação de campos de cruzamento de saberes, como a agroecologia, etnoecologia e a etnopedologia, passam a contemplar o processo de pensar os ambientes de forma integrada e com a participação da população local. Neste sentido, este trabalho teve o objetivo de resgatar, identificar e valorizar o saber tradicional sobre o solo e o ambiente e inter-relacioná-lo com o conhecimento do meio científico. Para isso, fez-se a estratificação dos ambientes do território quilombola de Brejo dos Crioulos com base em critérios locais e pelo método pedológico convencional, considerando o solo e sua interface com outros componentes ambientais. Associou-se a caracterização dos agroecossistemas, com a interpretação e reconhecimento da lógica dos sistemas tradicionais de uso e manejo dos recursos naturais, articulando o saber local com as informações geradas pelo conhecimento do meio científico. Os quilombolas identificaram quatro macroambientes que foram compatíveis com as distinções de geoambientes estratificados com base na geomorfologia e geologia, pedologia e a influência do ciclo das águas no território, a saber: (i) brejo (aluviões Holocênicos); (i) vazante (rampas de colúvio-aluviais - terço inferior de encostas); (iii) cultura vermelha (rampas de colúvio - terço médio e superior de encostas); (iv) carrasco (coberturas argilosas e arenosas - teto da paisagem). Além dessas, existe o complexo furado, que é formado em áreas de dolinas que não são abastecidas pelo rio Arapuim. Nos furados, os solos são eutróficos, resultantes do processo de rebaixamento localizado do terreno, constituem-se em áreas receptoras de água e sedimentos, cercadas pelo amplo domínio do carrasco. No período chuvoso, tem-se o acúmulo e estagnação de água, propiciando a gleização, formando assim, o ambiente reconhecido localmente como brejo do furado. A topossequência típica formada por esses ambientes é caracterizada pela ocorrência de Neossolos Flúvicos e Gleissolos Háplicos, no brejo; Cambissolos Háplicos nas vazantes; Latossolos Vermelhos Eutróficos na cultura vermelha e Latossolos Vermelhos Distróficos no carrasco. Com a intensificação do processo de intemperismo, as micas que ocorrem no brejo (área com elevada soma de bases e não afetada por sais) passam a argilominerais 2:1 (esmectitas) até a predominância da caulinita nas áreas de Latossolos Vermelhos Eutróficos (cultura vermelha). Esse processo de remoção de bases culmina com a distrofia característica dos solos do carrasco, no topo da paisagem. Constatou-se que os quilombolas reconhecem o melhor momento (tempo), o ambiente (a terra, a umidade, o microclima), a espécie e variedade, combinam atividades e elencam o conjunto de práticas que permitem o sustento de suas famílias. Aproveitam a boa fertilidade natural e a maior capacidade que os solos do brejo e vazante têm para conservar a umidade, em meio à aridez regional. Na cultura vermelha instalam as moradias e quintais, estabelecem as pequenas criações, ampliam as roças e integram os sistemas produtivos, ligando o carrasco com suas possibilidades de extrativismo e solta do gado com os aluviões, onde estão a maior parte das lavouras e a água. Os quilombolas dominam um sistema próprio de estratificação dos ambientes, com base em uma lógica que pode ser explicada, interpretada e articulada ao conhecimento gerado no meio científico. Para isso, construiu-se chaves de identificação dos ambientes com base nos critérios dos quilombolas, elaborou-se modelos de distribuição dos solos na paisagem e fez-se o levantamento semidetalhado dos solos do território de Brejo dos Crioulos. As informações obtidas com base no saber local, o aprofundamento da caracterização dos ambientes e o mapeamento de solos contribuíram para a melhor compreensão das estratégias agroalimentares dos quilombolas. Estes consistem em resultados, que ao serem interrelacionados, podem subsidiar processos de planejamento e usos sustentáveis das terras do território quilombola. |