Biologia reprodutiva de duas espécies ornitófilas de Mutisia (Mutisieae, Asteraceae): localização de áreas estigmáticas, biologia do pseudanto e sistemas reprodutivos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Barbosa, Joseane Bessa
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Botânica estrutural; Ecologia e Sistemática
Mestrado em Botânica
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/2537
Resumo: O gênero Mutisia, da tribo Mutisieae, possui 60-63 espécies nativas da América do Sul. No Brasil, ocorrem quatro espécies, dentre elas M. speciosa Aiton ex Hook e M. campanulata Less., analisadas no presente estudo. Estas espécies possuem atributos florais da síndrome de ornitofilia, tais como corola tubulosa de coloração viva (p. ex. vermelha), sem odor perceptível e néctar oculto na base da corola e longe dos órgãos sexuais. Os indivíduos estudados de M. speciosa encontravam-se na Estação de Pesquisa, Treinamento e Educação Ambiental Mata do Paraíso (20º38 07 S e 42º51 31 W), no município de Viçosa, e os de M. campanulata no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (42º20' e 42º40'S e 20º20' e 21º00'W), no município de Araponga. Os locais de estudo pertencem ao Estado de Minas Gerais, sudeste brasileiro. Nesses locais foram acompanhados 17 indivíduos de M. speciosa de janeiro a novembro de 2008 e 20 de M. campanulata de outubro de 2010 a setembro de 2011. Foram objetivos localizar as áreas estigmáticas em M. campanulata; analisar a biologia dos capítulos e das flores, os sistemas reprodutivos e identificar os polinizadores de M. campanulata e M. speciosa. Duas hipóteses foram testadas: 1) M. campanulata, assim como M. speciosa, apresenta áreas estigmáticas ventromarginais em ramos longos, contrariando o previamente estabelecido na literatura, de que as áreas cobrem a superfície ventral em ramos curtos; 2) Essas espécies são dependentes de beija-flores, como agentes polinizadores, para que ocorra a frutificação. Para localização das áreas estigmáticas foram realizados testes com solução de vermelho neutro, peróxido de hidrogênio 3%, polinizações cruzadas e análise em MEV. Capítulos foram acompanhados desde a antese das flores até a dispersão dos diásporos. Foram realizadas polinizações manuais e controle (polinização aberta ou natural) e verificadas as porcentagens de germinação das sementes. A freqüência de visitação foi avaliada em 100 horas de esforço amostral, 50 horas por espécie. M. campanulata possui duas longas linhas estigmáticas por ramo, unidas no ápice de cada ramo. Cada linha posiciona-se ventro-marginalmente e é constituída por células papilosas. Essas características, descritas pela primeira vez em M. speciosa, parecem ser comuns em espécies ornitófilas de Asteraceae. M. speciosa apresenta capítulos heterógamos, com longevidade de aproximadamente 30 dias; em M. campanulata os capítulos são homógamos, com longevidade de aproximadamente 45 dias. As flores do disco abrem em grupos, numa sequência centrípeta que dura três a quatros dias, em M. speciosa e M. campanulata, respectivamente. A antese de suas flores é matutina e a apresentação de pólen ocorreu das 10:00 às 15:00 horas. Nas espécies, o mecanismo de apresentação de pólen é do tipo cilindro-pistão. Esse mecanismo é acionado pelo polinizador durante a visita à flor, que recebe o pólen em pequenas doses. As espécies são autocompatíveis, mas dependem de polinizadores para que ocorra a frutificação (M. campanulata) ou para que aumente o sucesso reprodutivo (M. speciosa). Em M. campanulata, diferentemente de M. speciosa, não ocorre autopolinização espontânea, pois as fases estaminada e pistilada de suas flores são intermediadas por uma fase neutra. Em M. speciosa a frutificação obtida na autopolinização espontânea foi cerca de duas vezes menor que a obtida no controle. Os beija-flores, especialmente Phaethornis pretrei, P. ruber e P. squalidus, foram considerados polinizadores efetivos, pois contatavam o androceu e o gineceu durante a visita em busca do néctar. Esse estudo amplia para quatro o número de espécies ornitófilas de Asteraceae estudadas. Outras 24 espécies potencialmente ornitófilas merecem estudos semelhantes, incluindo a localização de suas áreas estigmáticas, além do sistema reprodutivo e da identificação dos polinizadores.