A rainha da Lapa e o padre: uma análise discursivo-crítica das representações socio discursivas de Luana Muniz nas práticas midiáticas digitais brasileiras

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Lima, Marcelo Rodrigues de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://locus.ufv.br//handle/123456789/26604
Resumo: Vivemos em uma sociedade midiatizada. As práticas midiáticas instituem significados que sustentam práticas sociais e (re)orientam a vida dos sujeitos, os quais são detentores de agência na atualização/ressignificação desses significados. Neste trabalho, investigamos as representações dos corpos/discursos transvestigêneres a partir da publicização de Luana Muniz. Com o propósito principal de analisar criticamente as representações sociodiscursivas da travesti Luana Muniz, produzidas e iteradas nas práticas midiáticas digitais brasileiras, objetivamos compreender: (i) como as práticas midiáticas representaram Luana Muniz, pe. Fábio de Melo e a publicização do encontro entre os dois; (ii) como pe. Fábio comprometeu-se em seu discurso e as valorações que tece sobre Luana Muniz; e (iii) como as vozes desses agentes sociais foram excluídas ou incluídas, articuladas e atribuídas no texto e suas implicações para uma abertura ou um fechamento da diferença. A Análise de Discurso Crítica faircloughiana, como abordagem teórico-metodológica, ofereceu os subsídios necessários para esta pesquisa, pois estabelece uma análise crítica e engajada, que compreende o discurso como espaço de lutas sociais para a manutenção e/ou transformação de relações de dominância e poder na sociedade contemporânea. Para a discussão crítica, adotamos, também, teorias sociais sobre corpo e Gênero. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, transdisciplinar, de cunho documental, de caráter interpretativo-explanatório e emancipatório. O corpus é composto pelo texto da pregação de pe. Fábio de Melo, 46 textos publicados entre a data da pregação e a data do falecimento de Luana Muniz, e outros 21 publicados após o falecimento. Selecionamos as categorias linguísticas: Representação de Agentes Sociais, Recontextualização, Interdiscursividade, Intertextualidade, Modalidade e Avaliação; e operacionalizamos as categorias sociais: Performatividade, Travesti, Corpo e Gênero. Na análise da narrativa da pregação, constatamos a negação iterada da identidade de Gênero de Luana Muniz, os discursos particulares que associam as travestis à prostituição e ao humor, a construção do corpo travesti como desumano, diferente e abjeto e a travestifobia produzida pelo sacerdote. Com base nos estudos do campo da Comunicação, articulamos as discussões de Fairclough (1992) sobre a prática discursiva, e seus estágios, com as discussões de Braga (2012), propondo um quarto estágio – a circulação. Verificamos, também, uma mudança discursiva nas recontextualizações do discurso do pe. Fábio produzidas pelas práticas midiáticas. Além disso, por meio da narrativa da trajetória de vida de Luana, discutimos o transvesticídio e a expectativa de vida de transvestigêneres no Brasil. A análise da conjuntura e dos discursos de representação dos corpos/discursos transvestigêneres apontou para a necessidade de mudanças discursivas e, consequentemente, mudanças sociais. Por fim, compreendemos que o corpo/discurso de Luana sempre foi um corpo/discurso político. A existência de Luana causou rupturas com as normas reguladoras de Gênero. As práticas sociais de Luana sensibilizaram um padre, fizeram uma Instituição olhar para os corpos/discursos que são produzidos como abjetos e desimportantes. Em Luana Muniz, percebemos a potência, a agência, a resistência do corpo/discurso transvestigênere que precisou/precisa lutar para sobreviver ao CIStema.