Aleitamento materno: (re)pensando a importância das representações sociais e da rede social no contexto local

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Marques, Emanuele Souza
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Valor nutricional de alimentos e de dietas; Nutrição nas enfermidades agudas e crônicas não transmis
Mestrado em Ciência da Nutrição
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/2696
Resumo: Muitos são os fatores que interferem na decisão da mulher- mãe durante o aleitamento materno, tais como: o contexto histórico, social e cultural (crenças e mitos) em que as nutrizes vivem; a influência de terceiros no cotidiano materno durante a amamentação; a atuação dos serviços de saúde local; dentre outros. Neste sentido, este estudo teve como objetivo: analisar a influência das representações sociais na prática do aleitamento materno sob a óptica da rede social (mãe, pai, avós e profissionais de saúde) no município de Coimbra, MG. Para a condução deste estudo, optou-se, primordialmente, pelo referencial teórico metodológico da pesquisa qualitativa. A pesquisa de campo foi realizada durante o período de outubro a dezembro de 2007. A coleta dos dados se deu em duas etapas: (1) Por meio de entrevistas semi-estruturadas individualizadas, realizadas no local de trabalho ou no domicílio dos entrevistados, e (2) Grupo focal com os profissionais da atenção primária de saúde do município. Participaram da pesquisa 58 mães (31,72%), 27 pais (14,76%), 31 avós (16,95%) de crianças menores de dois anos de idade e 17 dos profissionais da atenção primária de saúde (77,29%). Como referencial teórico, utilizou-se a Teoria das Representações Sociais descrita por Moscovici (2003) e Minayo (2006), e a Teoria de Rede Social descrita por Sanicola (1995). O corpus de análise dos dados qualitativos foi analisado por meio do método de Análise de Conteúdo de Bardin (1977). A análise compreensiva da rede social da nutriz revelou que esta foi composta por familiares, pessoas que viviam próximas à mulher-mãe, pai da criança e profissionais de saúde, sendo que estes indivíduos estabeleceram, com a nutriz, vínculos positivos ou negativos. A maioria das mães relatou ter recebido o apoio/suporte durante a amamentação, sendo que este apoio foi expresso de várias formas: (1) auxílio nas atividades domésticas; (2) ajuda nos cuidados com o bebê; (3) estímulo ao aleitamento; e (4) orientações e conselhos. No tocante à alimentação da nutriz, os discursos demonstram que, segundo as mães coimbrenses, a mulher necessita de uma alimentação especial durante o puerpério, sendo esta composta de alimentos considerados saudáveis, fortes, lactogênicos, além da ingestão de líquido. Ainda, analisando de forma temática os relatos das mães entrevistadas, extraiu-se seis categorias: “Amamentar é dar o melhor para o bebê”, “O leite materno não mata a sede do bebê”, “Crenças sobre o consumo de chá”, “A chupeta é uma ajuda para a mãe”, “Crenças sobre o uso de mamadeiras” e “A mulher-mãe se sente culpada por não amamentar o seu filho”. Observa-se que estas representações podem influenciar de forma positiva ou negativa a decisão de amamentar. Entretanto, apesar do discurso materno ter apresentado alegações ambíguas, observou-se que o conhecimento do senso comum sobre a amamentação das mães entrevistadas enfocou, na sua grande maioria, aspectos sócio-culturais. Quanto ao olhar dos profissionais de saúde em relação ao aleitamento materno, verificou-se que o ato de amamentar foi visto como uma obrigação da mulher. Pela análise dos depoimentos dos profissionais, observa-se que as orientações repassadas às usuárias do PSF, se baseiam mais na vivência e observação (da maternidade e da amamentação) advindas do senso comum do que no conhecimento científico, o que aponta para a necessidade de capacitação em aleitamento. Analisando-se as queixas das mulheres no pós-parto e as orientações fornecidas nesta fase de vida da mulher-mãe, segundo os profissionais entrevistados, observou-se que apesar do profissional de saúde conhecer e relatar as queixas, dúvidas e anseios da mulher-mãe, os resultados evidenciam um descompasso entre o conhecimento relatado pelo profissional e a práxis cotidiana do serviço de saúde. Uma vez que suas orientações não contemplavam as reais necessidades deste grupo populacional. Dentro desta perspectiva, fazem-se necessárias mudanças nas práticas de saúde no que tange à proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno. Nesse sentido, o estudo aqui desenvolvido, pode servir de subsídio para a formulação de novas políticas públicas que considerem a influência da rede social na prática do aleitamento materno, de maneira a envolver e incluir todos os membros da rede social da nutriz, já que estes contribuem para o sucesso ou insucesso desta importante prática. Além disso, ressalta-se a importância das políticas de educação permanente e continuada, bem como o papel das instituições de ensino como elementos-chaves na capacitação em amamentação, de maneira a formar profissionais com competências para responder às demandas sociais, tomando decisões a favor do aleitamento dentro do cotidiano das Unidades de Saúde da Família. A ampliação do olhar dos profissionais de saúde sobre a experiência da amamentação, tanto pelo conhecimento das representações construídas pela população de referência em seu território de atuação, como também pela compreensão do modo como estas são produzidas, atualizadas ou transformadas, seguramente contribuirá para o planejamento das ações de saúde local.