Uma análise foucaultiana do currículo de Filosofia do proeja no IFTO

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Morais, Sônia Eduardo de
Orientador(a): Soares , Paulo Sérgio Gomes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Tocantins
Palmas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Filosofia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11612/2365
Resumo: : Atualmente, os currículos escolares estão passando por mudanças profundas para atender ao previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no que tange à formação de habilidades e competências específicas em cada modalidade de ensino, influenciando todo o processo de ensino e aprendizagem. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO/Campus Araguaína), local onde ocorreu a pesquisa, está diante desse contexto de modificação curricular e necessita que a implementação de conteúdos esteja contextualizada com a realidade social dos alunos. No caso, a pesquisa foi realizada no curso de Formação Inicial e Continuada em Operador de Computadores, na modalidade PROEJA, com os alunos da 1ª e 2ª séries do Ensino Médio, que são trabalhadores que não tiveram oportunidade de se inserir na educação formal em idade própria e que buscam na escola, hoje, suprir as necessidades exigidas pelo mundo do trabalho. O PROEJA é uma modalidade de ensino com especificidades como, por exemplo, a distorção idade-série, visível em sala de aula, que conta com alunos(as) com idades que variam de 18 a 60 anos e que, portanto, possuem uma experiência de vida que precisa ser considerada no processo de ensino e aprendizagem. A modificação curricular nos conteúdos de Ciências Humanas, que abrange o Ensino de Filosofia, precisou ser adaptado para esta realidade. Para proceder à reformulação curricular do Ensino de Filosofia observamos os conteúdos que estavam sendo aplicados, conforme a ementa, e vimos que estavam desarticulados da realidade sociocultural dos alunos e, portanto, das diretrizes curriculares do PROEJA. Tais diretrizes valorizam questões relacionadas com a vida dos alunos, como o trabalho, a cultura, a diversidade, gênero, a etnia, entre outros, com a finalidade de auxiliar na formação e na constituição de novos saberes e que estejam alinhadas com essa perspectiva. O problema de pesquisa teve como fulcro a reelaboração dos conteúdos curriculares da disciplina de Filosofia. Para tanto, aplicamos um conteúdo curricular a título de sequência didática experimental, pensando numa proposta de ementa articulada com as demandas sociais trazidas pelos alunos. Os produtos gerados pela pesquisa são uma ementa para o curso e uma sequência didática experimentada. O problema de pesquisa perpassou o processo de ensino e aprendizagem, onde constatamos, também, a necessidade de compreender como o ensino produz discursos que afetam a aprendizagem, ou seja, precisávamos compreender como os alunos estavam sendo afetados pelo que chamamos de “efeitos discursivos” próprios da educação formal e verificar como eles estavam atribuindo um significado próprio ao conteúdo que, muitas vezes, transbordava o esperado, o que chamamos de “ efeitos de sentido” – a forma como o aluno ressignifica o conteúdo e a partir dele expressa resistência, tomando como pressuposto fundamental a ideia do filósofo francês Michel Foucault de que onde há poder há resistência. A vontade de poder do professor é que o aluno aprenda o conteúdo curricular, mas qualquer exercício de poder produz resistência, tendo em vista que o próprio conteúdo já vem tangenciado por relações de poder-saber – a seleção de saberes predeterminada pela ementa, conforme a BNCC, dos saberes escolhidos pelos professores visando formar as habilidades e competências previstas. Todo o debate da dissertação está articulado com o pensamento foucaultiano de poder-saber, com vistas a proceder numa análise crítica do currículo de Filosofia vigente, do Documento Base do PROEJA (2007) e do material produzido pelos alunos, durante o ano letivo de 2019. Quais os efeitos da relação poder-saber sobre os modos de aprender dos alunos do PROEJA? Em que medida os enunciados filosóficos, considerando as implicações conceituais, sobretudo a relação de poder-saber, produzem resistências engendradas pelo próprio discurso formal escolar? São questões que procuramos responder ao longo do texto e orientaram a pesquisa. Num primeiro momento, buscamos analisar se os conteúdos previstos para estudos filosóficos, com base na ementa do Projeto Pedagógico de Curso (PPC), apresentava a relação necessária com os saberes e o modo de vida dos alunos. A pesquisa prática, por sua vez, foi realizada em 2019, com duas turmas de 1ª e 2ª série do PROEJA, e 25 alunos participaram, num contexto de uma aula semanal com cinquenta minutos cada. A partir dos dados coletados nas atividades pedagógicas realizadas pelos alunos, buscou-se, num segundo momento, verificar se com elas havia a possibilidade deles realizarem um revezamento discursivo de um saber a outro, no caso, de realizarem a passagem do senso comum para o senso crítico – reclamado pela Filosofia como reflexão e posicionamento crítico diante dos problemas filosóficos. Dessa forma ficou a dúvida, em que medida os saberes filosóficos críticos conduzem os alunos a um revezamento discursivo? A ideia de revezamento discursivo aparece num texto com diálogos entre Foucault e Deleuze, intitulado “Os intelectuais e o poder”, no livro Microfísica do poder, onde fica explícita a ideia de que as massas falam por elas mesmas sem precisar dos intelectuais, que podemos estender para a sala de aula, pressupondo que os alunos do PROEJA trazem um saber e um discurso que precisa ser considerado, que expressa por si mesmo uma resistência ao formal. Isso implica em dizer que não existe um saber melhor do que o outro, mas que existem saberes diferentes adaptados à realidade dos indivíduos. Em termos metodológicos, a pesquisa seguiu uma abordagem qualitativa com fundo exploratório-descritiva, tendo a pesquisadora como observadora participante, fator que permitiu desvelar e evidenciar o modo como o discurso educacional expressa um poder-saber no PROEJA e como os alunos são afetados pelos discursos e, ao mesmo tempo, resistem a eles. A análise e a interpretação dos dados trouxeram indicativos relevantes para pensar que é preciso considerar os alunos para reelaborar a ementa da disciplina de Filosofia e adaptar os saberes filosóficos aos saberes da vida.