Fragmentos de uma história Panhĩ: história e território Apinajé na longa duração

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Fagundes, Marcelo Gonzalez Brasil
Orientador(a): Bueno, Lucas de Melo Reis
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Santa Catarina
Florianópolis
Programa de Pós-Graduação: Programa de pós-graduação em História
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11612/4077
Resumo: Esta pesquisa investiga a história Apinajé, considerando-a em uma perspectiva de longa duração. Insere-se no campo de estudo da História Indígena e nos fundamentos metodológicos da etno-história. A investigação considera a relação intrínseca entre história e território para os povos indígenas e propõe observar a formação, a luta pela consolidação e manutenção de seu território. Analisa as histórias de origem a partir das significações dadas ao território, percebendo-as como uma forma de escrita da história. Os elementos da paisagem – petróglifos, cavernas, serras e rios – estão imbuídos de significado histórico. A pesquisa constata que a língua Apinajé possui uma origem comum às línguas Mẽbêngôkre, e que estas seriam uma cisão mais antiga das línguas Timbira. A partir das investigações arqueológicas ao longo da bacia do rio Tocantins, indica a presença de uma tradição arqueológica Tupiguarani na região de confluência dos rios Araguaia e Tocantins e analisa as evidências arqueológicas vinculadas à tradição ceramista Aratu, identificada com os povos falantes de língua Jê. Destaca a necessidade de um olhar diacrônico para a cultura material dos povos Jê como forma de pensar a história indígena de longa duração. A partir de uma análise da documentação escrita, produzida pelos cronistas entre os séculos XVII e XIX, a pesquisa procura perceber a dinâmica do processo de ocupação dos Jê setentrionais no interflúvio e a distinção entre os falantes da língua Apinajé, destacando sua mobilidade ao longo da bacia do rio Tocantins. Além das fontes escritas, as referências cartográficas destacam diferentes etnônimos para referir-se ao povo Apinajé. Essa distinção relaciona-se, provavelmente, à compreensão das distintividades dos subgrupos Apinajé: Rôrcôjoire, Côcôjóire e Krinjobrêire. A partir da investigação dos relatórios de presidentes de província e do Ministério da Agricultura, investiga o estabelecimento de uma política indigenista imperial e a inserção dos Apinajé no âmbito das relações capitalistas. Constata-se que os Apinajé mantiveram certo grau de autonomia, pacificando a relação com o mundo não indígena. Na medida em que avançaram as frentes colonizadoras e as epidemias, os Apinajé abandonam as margens do Araguaia e concentram sua população nos territórios mais próximos ao rio Tocantins. No princípio do século XX, sua reduzida população enfrentou a pressão de posseiros sobre suas terras. A partir da análise da documentação do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), instalado no território Apinajé na década de 1940, constata-se que as ações da política indigenista se concentraram no atendimento à saúde dos Apinajé, o estabelecimento de atividades produtivas rentáveis à renda indígena e no controle da territorialidade Apinajé. A partir da segunda metade do século XX, com o estabelecimento de políticas desenvolvimentistas, houve um impacto na sua territorialidade a partir da construção da rodovia Transamazônica e do Programa Grande Carajás. Isso levou a um aumento do conflito fundiário na região do Bico do Papagaio e ao confronto final pela demarcação da Terra Indígena, em 1985. A documentação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) demonstra que as influências políticas interferiram na área demarcada, excluindo partes do território ancestral. No século XXI, os Apinajé enfrentaram uma nova onda desenvolvimentista que os levaram a reorganizarem suas estratégias de luta através da Pempxà, associação da União das Aldeias. Por fim, a investigação constata que o panorama da história de longa duração possibilita um olhar dinâmico sobre o território, apontando as conexões entre o tempo dos antigos e o tempo do presente