O passado e o futuro da pegada hídrica da soja e seus impactos socioeconômicos: a dinâmica espacial da última fronteira agrícola do cerrado no norte-nordeste do Brasil
Ano de defesa: | 2020 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal do Tocantins
Palmas |
Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente - Ciamb
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
BR
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Palavras-chave em Português: | |
Área do conhecimento CNPq: | |
Link de acesso: | http://hdl.handle.net/11612/3432 |
Resumo: | A soja [Glycine max (L.) Merrill] é, atualmente, uma das principais fontes de alimento no cenário mundial e o principal produto de exportação da agricultura brasileira. Em razão do discurso hegemônico de que o aumento de escala da agricultura comercial promove interiorização do desenvolvimento socioeconômico, essa cultura prosperou, a partir da década de 70, nos solos do Cerrado que, até então, eram considerados pobres para a agricultura comercial. No entanto, de acordo com o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, as áreas do Cerrado apresentam grande vulnerabilidade, já que nelas são absorvidas e afloram as águas que abastecem três importantes aquíferos e seis grandes bacias hidrográficas brasileiras. Nesse contexto, o objetivo central desse estudo foi entender a dinâmica espacial e temporal da Pegada Hídrica - WF do cultivo de soja diante de cenários de mudanças climáticas e seu impacto socioeconômico nos municípios inseridos na última fronteira agrícola do Cerrado das regiões Norte e Nordeste do Brasil. A metodologia utilizada foi adaptada do protocolo proposto por Hoekstra e contemplou o cálculo dos diferentes componentes (verde, azul e cinza) da WF da produção de soja, em sua forma relativa (m³/t) e absoluta (km³), no passado próximo (1999 – 2018) e no futuro de médio (2049/22050) e longo (2079/2080) prazo. Paralelamente, executou-se a validação e análise dos fatores e modelos climáticos determinantes para a estimativa da WF no passado e no futuro. Adicionalmente, o impacto social da produção de soja foi analisado sob a ótica do desenvolvimento econômico, bem como, da desigualdade de renda dos estabelecimentos agropecuários e da concentração de terras produtivas nos municípios produtores e não produtores de soja. Para isso, considerou-se diferentes agrupamentos de municípios conforme o tempo de consolidação do cultivo de soja e da proporção dessa no produto interno bruto agrícola de cada município. Séries temporais foram elaboradas para o período a fim de analisar as tendências comportamentais do clima, da produção, da ocupação de áreas produtivas, da aplicação de agrotóxicos, da WF relativa e absoluta, além de seus componentes. Diferentes resoluções espaciais foram utilizadas para localizar as microrregiões e os municípios com maior consumo de água para produção de soja. Os resultados revelaram que houve aumento da temperatura média e pequena redução da precipitação acumulada no período passado, mas isso não afetou significativamente a WF relativa, uma vez que os componentes verde e azul sofreram decréscimo em razão do aumento de produtividade das lavouras no decorrer do tempo. Apenas o componente cinza apresentou aumento significativo, independentemente do poluente ou legislação utilizada como parâmetro para o cálculo. Espacialmente, as microrregiões próximas a transição do Cerrado com a Caatinga foram as que apresentaram maior necessidade e escassez hídrica no passado e no futuro. As microrregiões próximas a transição Cerrado/Amazônia foram as menos afetadas pelo aumento de temperaturas e não apresentaram escassez hídrica, tendo as menores WFs. No aspecto socioeconômico, os municípios produtores de soja são os que apresentam maior crescimento e desenvolvimento econômico, mas sem ganhos expressivos em geração de empregos e distribuição de renda. Inclusive, os municípios com produção de soja há mais de 30 anos apresentaram indicador composto de saúde inferior as demais categorias. Além disso, a desigualdade de renda dos estabelecimentos agropecuários aumentou entre 2006 e 2017. Nesse período, a concentração de terras agrícolas aumentou apenas nos municípios com 10 anos ou menos de produção de soja. Sinteticamente, as evidências revelam que a produção de soja na última fronteira agrícola do Cerrado consome muita água doce, participa nas mudanças climáticas locais e se mostra vulnerável as mudanças climáticas futuras, além de contribuir pouco para o desenvolvimento dos municípios e para a redução das desigualdades rurais. |