Família, gênero e sexualidade: uma análise do discurso de pais de meninos e meninas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: CAMPOS, Maria Teresa de Assis
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
Brasil
UFTM
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://bdtd.uftm.edu.br/handle/tede/503
Resumo: A família representa instituição referência tanto na ordem social, quanto no desenvolvimento de seus membros. Ela comumente caracteriza-se como o primeiro núcleo de socialização dos sujeitos, tendo forte relevância na constituição de suas identidades e subjetividades. Frequentemente ela é significada como lócus de afeto, amor e acolhimento, porém as relações estabelecidas em seu interior estão sujeitas a formatações hierárquicas, que criam espaços para o aparecimento (ou manutenção) da dominação e da violência, muitas vezes apoiadas em normatizações de gênero. No entremeio das relações humanas, inclusive as familiares, estão os discursos, sustentando determinadas práticas, normas e ideologias, que mediam comportamentos e produzem sentidos, inclusive sobre sexualidade e gênero. Diante dessas questões, este estudo buscou identificar alguns dos sentidos produzidos sobre gênero e sexualidade no contexto familiar, a partir de duas perspectivas: no estudo um identificando as Formações Discursivas sobre a maternidade e a paternidade e no estudo dois identificando as Formações Discursivas sobre o feminino e o masculino. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e de corte transversal. Participaram do estudo cinco casais heterossexuais, coabitando há pelo menos dez anos e que possuíam pelo menos um filho e uma filha entre quatro e dezesseis anos. A coleta de dados foi realizada por meio de dois roteiros de entrevista semiestruturada, um para a aplicação individual com os cônjuges e um para a aplicação conjunta. Todas as entrevistas foram realizadas no mesmo dia, uma em seguida da outra, começando pelas individuais, a partir da ordem escolhida pelos participantes, e finalizando com a aplicação com o casal. As entrevistas foram audiogravadas e transcritas na íntegra. Posteriormente, os dados foram organizados e analisados à luz da Análise do Discurso de Pêcheux. Constatou-se que os participantes acentuam em seus discursos diferenças entre o masculino/pai e o feminino/mãe, e essas diferenças são apontadas por eles, de maneira direta ou indireta, como diretrizes que norteiam a divisão de tarefas, a rotina familiar, suas práticas referentes à parentalidade e o modo como educam os seus filhos. Essa diferenciação se sustenta em um apagamento histórico da construção social dos estereótipos de gênero, travestindo-o em algo dado, natural e biológico. Dessa maneira, homens/pais e mulheres/mães se adequam a papéis previamente estipulados na Formação Ideológica vigente (heteronormativa, binária e de dominação masculina) respondendo não a uma condição biológica, mas sim à Formações Imaginárias que os situam discursivamente, cerceando suas possibilidades de ser e orientando suas identidades, práticas e escolhas. A reiteração constante dos discursos tradicionais sobre sexualidade e gênero no âmbito familiar contribui para a cristalização de normativas que favorecem as relações de dominação e exploração, já que a família é responsabilizada por garantir que os sujeitos estejam adequados à Formação Ideológica em que estão inseridos. Por fim, a diferenciação entre o masculino e o feminino exerce papel crucial na sustentação dos modelos de produção capitalista, pois restringe os sujeitos às atividades designadas pela divisão social (e sexual) do trabalho, porém quando atravessada pela linguagem e pela Ideologia o faz de maneira que os mesmos internalizem esses valores e práticas sob a perspectiva da escolha ou do natural, mantendo a ilusão de autonomia sobre si e sobre a própria produção discursiva.