Características de personalidade de mães de crianças com diagnóstico de autismo infantil: um estudo comparativo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2000
Autor(a) principal: Duarte, Cristiane Seixas [UNIFESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/16738
Resumo: Introdução: A descrição da personalidade das mães das crianças autistas, iniciada por KANNER (1943) e desenvolvida por autores da área psicanalítica, sugeria o comprometimento da capacidade afetiva e relacional. Nas últimas duas décadas, estudos sistemáticos têm referido níveis elevados de estresse em mães de crianças autistas e há intenso trabalho de investigação sobre que fatores estariam associados ao estresse experienciado. Mais recentemente, tem sido investiga a hipótese de que a vulnerabilidade genética no autismo poderia se parentes não- autistas das crianças autistas, por alterações leves, mas qualitativamente semelhantes àquelas das crianças. São identificadas alterações sociais, na comunicação e padrões repetitivos de comportamento em mães de crianças autistas. Objetivos: Verificar se as mães de crianças autistas possuem características específicas de personalidade nas áreas afetiva, de relacionamentos interpessoais e estresse; identificar quais fatores estão associados a essa(s) característica(s); e se essas mães apresentam um padrão próprio de representação objetal. Desenho do Estudo: Caso-controle. Local: Três ambulatórios de psiquiatria infantil, um Centro de Saúde e duas escolas da rede pública (cidade de São Paulo). Participantes: trinta e uma mães de crianças autistas pareadas por idade/gênero da criança e idade da mãe com 31 mães de crianças sem problemas de saúde mental (escore T < 60 no Inventário de Comportamentos da Infância e Adolescência – CBCL). Metodologia: O Método de Rorschach, aplicado e avaliado conforme instruções do Sistema Compreensivo foi utilizado para avaliar dez características de personalidade relacionadas com as hipóteses do estudo e mais três variáveis confundidoras. Além das características de personalidade, na avaliação dos fatores associados foram consideradas cinco características sócio-demográficas e sete características relacionadas ao quadro clínico de autismo, escolarização e tratamento. Para investigação do padrão de representações objetais das mães foi aplicada às respostas humanas a Escala de Relações Objetais (BLATT et al., 1976) e efetuado um estudo das temáticas recorrentes nessas respostas. A concordância entre examinadores no Método de Rorschach (aferida através dos coeficientes Kappa e Coeficiente de Correlação Intraclasses) variou de substancial (0,61-0,81) a excelente (>0,81) em todas as variáveis do Sistema Compreensivo e em todas as categorias da Escala de Relações Objetais, exceto duas. Resultados: A análise de regressão logística mostra que as mães das crianças autistas têm probabilidade duas vezes maior do que as mães do grupo controle de experienciar estresse, parte do qual determinado por elementos situacionais (OR=2,01; IC95%:1,18–3,69). A análise de três modelos de regressão logística indica que esse estresse está associado a ter um filho autista (OR=13,27; IC95%:2,83–62,17); baixa propensão a demonstração de afetos (OR=1,46; IC95%:1,04-2,05); pouco interesse por pessoas (OR=1,39; IC95%:1,09–1,78); maior idade materna (OR=0,86; IC95%:0,74–0,89); e menor idade da criança (OR=1,53; IC95%:1,08–2,17). O nível de desenvolvimento estrutural da representação de objeto das mães de crianças autistas é semelhante ao de controles em respostas adequadas à realidade (7,94 e 8,95; p = 0,131, respectivamente na Escala OR+) mas menor em respostas distorcidas (4,97 e 7,0; p = 0,04 respectivamente na Escala OR-). A abordagem temática das representações objetais revela figuras humanas bem construídas e coerentes embora desvalorizadas com componentes relacionados à sexualidade não devidamente integrados. Observa-se também a representação de temas relacionados à infância de modo indefinido e passivo. Conclusões: As mães de crianças autistas experimentam maiores níveis de estresse ao menos parcialmente determinado por elementos circunstanciais o que sugere que ao menos parte desse estresse seja uma consequência do contato com a criança autista do que associada às causas do quadro. Não foi identificado um padrão particular de demonstração e expressão afetiva (área do afeto) ou de interesse por relacionamentos interpessoais. O principal fator responsável pelo estresse das mães estudadas é o fato de ter um filho autista, mas a presença de outros fatores (como expressão afetiva e interesse por pessoas diminuídos, maior idade materna e menor idade da criança) podem aumentar ainda mais esse estresse, o que sugere a existência de subgrupos de mães de crianças autistas que merecem especial atenção por parte dos profissionais de saúde mental. Fatores associados à gravidade do autismo, seu tratamento e escolarização da criança autista parecem não ter influência sobre a experiência de estresse das mães de crianças autistas. O padrão estrutural de representação objetal de mães de crianças autistas é semelhante ao de mães de crianças sem problemas de saúde mental quando é empregada a Escala OR+ ou quando um escore único, contínuo de representação estrutural de objeto é utilizado (RORSCORE). Quando são consideradas separadamente as situações de distorção perceptiva da realidade (Escala OR-), mães de crianças autistas apresentam níveis de desenvolvimento das representações estruturais de objeto menores do que as mães do grupo controle. Esse resultado, considerado em conjunto com elementos observados na análise temática podem ser interpretados como indicadores do emprego de estratégias defensivas rígidas por parte das mães de crianças autistas que podem estar associadas a uma estrutura neurótica de personalidade. Algumas mães de crianças autistas apresentam uma visão de si mesma e de seus filhos associada a elementos primitivos, mas parece que esse fato não caracteriza o grupo de mães de autistas.