Implementação dos bundles de prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde e o seu impacto nas taxas de densidade de incidência em unidade de terapia intensiva especializada em transplante de rim

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Calegari, Luana Régia de Oliveira [UNIFESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/69151
Resumo: Introdução: A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) um grave problema de saúde pública mundial. As IRAS mais prevalentes em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) são aquelas associadas à dispositivos: infecção de corrente sanguínea associada à cateter venoso central (ICS-CVC), infecção do trato urinário associada à cateter vesical de demora (ITU-CVD) e pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV). As infecções são as principais causas de óbito entre os receptores de transplante de rim (TxR) no Brasil. Um pacote de medidas preventivas trouxe visibilidade e maiores evidências, e convencionou-se chamá-lo de bundles. Diversas evidências demonstram o impacto positivo da implementação de bundles para prevenção e redução das IRAS em UTI, entretanto, existe uma escassez de estudos que mensuram esse impacto entre TxR. Objetivo: Avaliar o impacto da implementação dos bundles de prevenção de IRAS em UTI especializada em cuidados de TxR nas taxas de densidade de incidência de IRAS (ICS-CVC, ITU-CVD e PAV) e as medidas de adesão aos bundles. Metodologia: Estudo coorte retrospectiva de centro único, que implementou bundles de prevenção de IRAS em dezembro de 2017. Como houve uma mudança da rotina assistência, desenhou-se experimento natural do tipo antes e depois, e considerou-se um período de treinamento e adaptação de 6 meses (3 meses antes e depois). Foram incluídos 1.257 TxR: 684 na era antes (março/2016 a setembro/2017) e 573 na era depois (março/2018 a junho/2018). Desfecho: taxa de densidade de incidência (TDI) das IRAS relacionadas à dispositivo. Medidas de adesão aos bundles de inserção do dispositivo CVC e CVD foram registradas no momento da inserção, as medidas de adesão aos bundles de manutenção de CVC, CVD e PAV foram capturadas e registradas por um único profissional, em períodos aleatórios, e avaliadas por médias de percentagens e tendência temporal. Desfecho exploratório: uso de CVC. Variáveis associadas ao uso de CVC foram analisadas por regressão logística. Resultados: Os pacientes tinham 58,5 anos de idade à admissão da UTI, com tempo após o transplante de 61,2 meses, e sepse foi a causa mais frequente (21,6%) de admissão. As taxas de uso CVC e CVD foram de 52,3% e 44,9%, respectivamente e 28,8% dos pacientes necessitaram de VM. Na estratificação das eras, houve uma tendência a maior uso de CVD na era antes (47,2 vs. 42,1%, p=0,06), mas sem diferenças nas taxas de uso do CVC e da VM. Do total, 53 pacientes apresentaram alguma IRAS-dispositivo, o que correspondeu a uma taxa de incidência de 6,6% (em 798 pacientes que utilizaram um dos dispositivos). Com a implementação dos bundles, houve uma redução na TDI das IRAS-dispositivos de 9,0 para 3,9 por 1.000 pacientes-dia (p=0,01). Considerando os tipos específicos de IRAS-dispositivos, houve uma redução significativa também na TDI de ICS de 8,03 para 3,42 por 1.000 CVC-dia (p=0,01). Apesar de reduções quantitativas terem sido alcançadas nas outras IRAS-dispositivos, não se observaram diferenças estatisticamente significativas: de 2,46 para 0,55 ITU por CVD-dia (p=0,22) e de 3,45 para 1,01 PAV por 1.000 pacientes em VM-dia (p=0.38). Foram realizadas 2.872 observações de adesão, havendo melhora temporal na performance para os itens de manutenção do CVC e do CVD, estabilidade para os itens de inserção do CVC e do CVD e redução para os itens de VM. Por fim, as variáveis associadas à necessidade de CVC, independente da era foram tempo de transplante, sexo homem, níveis séricos de potássio, SAPS3 e hemoglobina. Conclusão: A implementação de bundles de prevenção de IRAS-dispositivo reduziu a TDI das IRAS-dispositivo, quando analisadas em conjunto, com uma redução significativa de ICS-CVC em UTI especializada em cuidados de TxR. As medidas de adesão demonstraram tendência temporal de melhora para a manutenção dos dispositivos, estabilidade na inserção, mas para a PAV observou-se ums piora temporal. Tais resultados demonstram que mesmo em populações altamente vulneráveis à infecções, medidas estruturadas e supervisionadas de prevenção são eficientes e que é necessário manter programas de educação continuados para garantias de adesão à tais medidas.