Associação entre circunferência do pescoço na gestação com diabetes gestacional e grau de tolerância à glicose entre 2 e 6 meses pós-parto em mulheres com sobrepeso ou obesidade

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Carvalho, Camila, Rodrigues de Souza [UNIFESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11600/63768
Resumo: Introdução: O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e o diabetes gestacional (DMG) são problemas de saúde prevalentes no mundo e no Brasil. O excesso de peso é um fator de risco devido a sua função na fisiopatologia da resistência à insulina. É importante identificar, dentre mulheres com excesso de peso, as que cursam com DMG, bem como aquelas com maior risco de progredir para alterações do metabolismo da glicose no pós-parto no intuito de direcionar medidas de prevenção do diabetes. A circunferência do pescoço (CP) tem ganhado atenção como uma boa medida antropométrica para predição de risco cardiometabólico. O objetivo deste estudo foi avaliar a associação da CP medida durante primeiro e terceiro trimestres da gestação com diagnóstico de DMG (Artigo1) e grau de tolerância à glicose entre 2 e 6 meses no pós-parto (Artigo 2) em mulheres com com sobrepeso ou obesidade, acompanhadas nos ambulatórios do Centro de Diabetes e da Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Métodos: Para o estudo atual, foram incluídas todas as mulheres que aceitaram participar provenientes dos 2 ambulatórios assim que ingressaram no sistema de atendimento entre dezembro de 2018 e dezembro de 2019. Foi realizado questionário para obtenção de dados demográficos, socioeconômicos e inquérito alimentar durante a gestação. Essa coleta de dados também foi realizada entre 2 e 6 meses pós-parto quando foram feitas avaliação bioquímica das participantes por coleta de sangue. As pacientes que aceitaram participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A análise foi realizada tendo como variável de exposição a circunferência do pescoço durante a gestação e a de desfecho a presença de DMG e perfil glicêmico e de resistência à insulina entre 2 e 6 meses pós-parto (glicemia de jejum, glicemia de 2 horas, HbA1c, insulina de jejum e de 2 horas, HOMA-IR e TyG). Peso pré-gestacional, paridade, ganho de peso durante a gestação, realização de atividade física, história familiar de diabetes, dieta, uso de medicação hipoglicemiante durante a gestação foram utilizadas como covariáveis. Resultados: (Artigo 1) - Mulheres com e sem DMG apresentaram média (DP) de IMC pré-gestacional semelhante [30,3 (4,0) vs 29,4 (3,5) Kg / m2, p = 0,16]. Mulheres com DMG eram mais velhas [32 (6) vs 28 (6) anos, p <0,001] e tinham maior CP [36,0 (2,7) vs 34,5 (1,8) cm, p <0,001]. CP foi semelhante em mulheres com DMG no primeiro ou terceiro trimestre [p = 0,4] e foi ix correlacionado com glicemia de jejum [r0,29, p = 0,01] e com pressão arterial sistólica [r0,28, p = 0,001] e diastólica [r0,25, p = 0,004]. CP foi associada com diagnóstico de DMG [OR 1,25, IC 95% 1,03-1,52] ajustado para idade, atividade física, escolaridade e histórico familiar de diabetes. Na análise ROC, a área sob a curva foi de 0,655 e o valor de corte de 34,5cm teve 0,70 de sensibilidade e 0,51 de especificidade para a presença de DMG. Mulheres que tiveram CP ≥ 34,5 vs < 34,5 cm tiveram frequências mais altas de hipertensão na gravidez [32,3 vs 4,2%, p = 0,01]. (Artigo 2) –Para as análises do artigo 2, a CP foi dividida em tercis (tercil 1: CP ≤33,3 cm, tercil 2: 33,4 a 36,3 cm e tercil 3: ≥36,4 cm). Encontramos diferenças no IMC pós-parto (27,4 ± 3,1 vs. 29,4 ± 3,7 vs. 32,1 ± 3,6 kg / m², p <0,001) e CP pós parto (33,16 ± 1,32 vs. 34,8 ± 2,0 vs. 37,4 ± 2,6 cm, p < 0,001) de acordo com o primeiro, segundo e terceiro tercis, respectivamente. Em relação ao metabolismo glicêmico no pós-parto, os níveis de HbA1c (5,3 ± 0,2 vs. 5,4 ± 0,3 vs. 5,6 ± 0,4 %, p = 0,006), insulina em jejum (9,5 ± 4,9 vs. 11,1 ± 5,8 vs. 13,2 ± 6,6 µUI/mL, p = 0,035), HOMA-IR (9,5 ± 4,9 vs. 2,5 ± 1,3 vs. 3,1 ± 1,7, p = 0,035) e índice TyG (4,5 ± 0,3 vs. 4,5 ± 0,2 vs. 4,6 ± 0,2, p = 0,010) foram menores no primeiro e segundo tercis do que no terceiro, respectivamente. Na análise de regressão linear bruta, a CP durante a gravidez teve associação estatisticamente significativa com os níveis de glicose plasmática de jejum, glicose de 2 horas, HbA1c, Log HOMA-IR e índice de Tyg, mantendo a associação após ajuste para idade, história familiar de diabetes e número de gravidezes. Quando ajustado para IMC pré-gestacional e ganho de peso gestacional, a CP persistiu independentemente associado à glicose plasmática em jejum e HbA1c. Ao ajustar pela presença de DMG as associações perderam a significância estatistica. Conclusão: Em um grupo de gestantes com sobrepeso ou obesidade, a CP medida na gestação foi capaz de identificar o diagnóstico de DMG e pior perfil metabólico da glicose no puerpério. Desta forma, a CP pode ser uma ferramenta viável para a identificação precoce de mulheres com maior risco de desenvolver DMG e DM2. Estudos prospectivos de mais longo prazo são necessários para confirmar o valor preditivo da CP para DM2.