"Eu tomo essa bebida" - Etnografia em uma coletividade de Daime

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Bordião, Fernando Feital [UNIFESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/67455
Resumo: Esta escrita é resultado da minha forma de viver com Daime e dos afetos por ela criados. Afetos que foram se dando também, e ao mesmo tempo, com as Ciências Sociais na Universidade Federal de São Paulo. Então, além de seguirem um percurso acadêmico - principiado como Iniciação Científica -, as observações presentes nesta escrita tratam também da jornada esotérica em curso. Jornada que anima a descrição a seguir: uma etnografia tão densa quanto possível - e por isto tornada objetivo e não método -, que está em diálogo com os saberes compartilhados ao longo dos últimos 7 anos com Daime, Unifesp e as amizades e saberes que nestes lugares sigo colhendo. O uso de substâncias psicoativas acompanha as transformações de grupos humanos ao longo de pelo menos 15 mil anos. Relações inter-reinos bons à penser e que estão presentes ao tomar a bebida originária de povos humanos e além-de-humanos da floresta Amazônica que, a partir dos anos 30 do século XX, extrapola as práticas originárias e começa a ocorrer entre outras coletividades, e tem, nos anos 90 do mesmo século um novo movimento de expansão. Desta vez para áreas urbanas adensadas do Brasil, seguido do fenômeno de internacionalização de seu uso. É no desenrolar dessa diáspora que Daime chega também a Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, com a coletividade do Céu do Vale, onde vivo a experiência aqui descrita. Expansão que borra fronteiras e incorpora novos significados. Entre eles, os que dizem respeito ao tema das identidades do sistema sexo-gênero, tão marcado no universo daimista que está baseado em relações ‘tradicionais’ de gênero. O tema se manifestou logo nas minhas primeiras experiências com a bebida, dada minha natureza viado. Aos poucos deixei-me conduzir para além de “para fora da varanda”, em direção ao Reinado onde estão um cipó masculino e uma planta feminina - declara a experiência nativa. Ao longo dessa condução, na esteira do binarismo feminino/masculino, somaram-se outros como natureza/cultura, hegemonia/pós-colonialidade, educação/saberes, fim-de-mundo/nova era, formando uma malha de conhecimentos: a proposição metodológica aqui apresentada como Ciência Antropofágica. Conto para estas reflexões com a contribuição de um conjunto de produções antropológicas recentes que, por um lado, apontam para a centralidade do etnógrafo-autor na produção da escrita e, por outro, enfatizam a multivocalidade do campo etnográfico. Multivocalidade que se faz ouvir com saberes do pensamento pós-colonial, conhecimentos ancestrais, com a oralidade, vozes vegetais e a participação na coletividade daimista. Saberes que se revelam como uma via possível para compreender as relações com a bebida na contemporaneidade e seus temas emergentes. O caminho percorrido ao longo dessa jornada até aqui é o resultado a ser apresentado.