Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2024 |
Autor(a) principal: |
Bertagna, Natalia Bonetti [UNIFESP] |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de São Paulo
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://hdl.handle.net/11600/70888
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Resumo: |
O transtorno por uso de etanol (TUE) é um transtorno multifatorial, sendo o estresse um importante fator de risco envolvido na iniciação, manutenção e recaída ao consumo de etanol. Experiências adversas na infância podem favorecer alterações moleculares duradouras que, aumentam a vulnerabilidade para o desenvolvimento do TUE. Em roedores, o protocolo de estresse de separação materna (SM) é reconhecido como um modelo preditivo para investigar os efeitos da exposição ao estresse na infância sobre o consumo de etanol na vida adulta. A amídala estendida, formada pela borda do núcleo accumbens (NAc shell), amídala central (CeA) e no núcleo intersticial da estria terminal (BNST), é conhecida pelo seu papel na mediação dos comportamentos relacionados ao estresse e consumo de etanol. A ativação do sistema do fator liberador de corticotrofina (CRF) na amídala estendida, particularmente na amídala (AMY) e no BNST, parecem estar envolvidas nessas respostas. O presente estudo teve como objetivo avaliar os efeitos a longo prazo da SM nos comportamentos de consumo de etanol em camundongos machos e fêmeas, bem como o envolvimento do sistema CRFérgico da AMY e BNST na interação entre estresse de SM e o consumo de etanol nesses roedores. Para isso, camundongos C57BL/6J machos e fêmeas foram separados diariamente de suas mães por três horas do dia pós-natal (DPN) 1 até o DPN 14. Os animais controle foram mantidos nas gaiolas moradia, sob os cuidados maternos até o DPN 21, quando ocorreu o desmame de todas as ninhadas. No primeiro experimento, a partir do DPN 45, os camundongos (Controle: n= 14, 7 machos e 7 fêmeas; SM: n= 14, 7 machos e 7 fêmeas) foram submetidos ao protocolo de consumo involuntário de etanol 20%, durante 3 semanas. Após, foi realizada a aquisição do comportamento de autoadministração operante de etanol em esquema de razão fixa (RF 1-3-5), em sessões de 2 horas, por 3 semanas. Em seguida, foi avaliada a influência da SM sobre a motivação pela busca do etanol 20% utilizando o protocolo de razão progressiva em 3 sessões de 2 horas. O consumo operante ilimitado de etanol 20% foi avaliado em uma sessão de binge com 4 horas de duração. Vinte e quatro horas após a sessão de binge, a busca pelo etanol 20% frente a um estímulo aversivo foi avaliada quando concentrações crescentes de quinino foram adicionadas a solução de etanol. O envolvimento dos subnúcleos da amídala estendida foi avaliado através da expressão da contagem do número de células positivas para a proteína Fos no Nac, AMY e BNST. No segundo experimento, foram utilizados os mesmos protocolos de SM e autoadministração de etanol (SM: n=31; 15 fêmeas e 16 machos; Controle: n=29; 15 fêmeas e 14 machos), porém, após o protocolo de razão progressiva, os animais foram alocados em dois grupos distintos: expostos (Controle: 8 fêmeas, 8 machos; SM: 7 fêmeas, 9 machos) e não expostos (Controle: 7 fêmeas e 6 machos; SM: 8 fêmeas, 7 machos) ao teste de Exposição ao Rato (TER). Após a exposição ao TER, os animais foram submetidos a uma sessão de binge e amostras da AMY e do BNST foram coletadas para análise da expressão dos receptores CRFR1 e CRFR2 e da proteína de ligação ao CRF (CRF-BP), por Western Blotting. Amostras de sangue foram coletadas antes do início do protocolo de autoadministração, depois do TER e do binge, para a análise das concentrações de corticosterona plasmática. No terceiro experimento, a partir do DPN 60, camundongos machos e fêmeas dos grupos controle e SM foram submetidos ao protocolo de livre escolha de etanol ou água, no qual a concentração da solução de etanol foi aumentada a cada 3 dias (5%, 10%, 15% e 20%). Em seguida os animais foram submetidos a uma cirurgia estereotáxica para a implantação de cânulas no BNST. Após esse procedimento foram realizados três dias de consumo voluntário de etanol 20% intercalados por três dias de abstinência, em que um grupo de animais controles e SM recebeu injeções intra-BNST de veículo e CP 376395 (antagonista de receptores CRFR1, doses 3,0 nmol/0,1 μl e 6,0 nmol/0,2 μl) e outro grupo de recebeu veículo e CRF6-33 (inibidor da proteína CRF-BP, doses 0,25 μg/0,1 μl e 0,5 μg/0,2 μl) que foram administrados seguindo o esquema Latin Square. No experimento 1, os resultados demonstram que a SM aumentou a ingestão de etanol em camundongos fêmeas, enquanto diminuiu o consumo em machos no consumo involuntário. Os animais submetidos SM apresentaram maior motivação para buscar etanol durante o protocolo de razão progressiva. Camundongos fêmeas do grupo controle, assim como machos submetidos a SM, foram mais resistentes a reduzir seu consumo em relação aos camundongos machos controle durante a adulteração com quinino. Para a imunohistoquímica, observamos aumento de neurônios imunorreativos para Fos na BLA e CeA em camundongos submetidos ao MS, mas não no NAc, nem no BNST. Já para o experimento 2, a SM induziu efeitos duradouros nas respostas comportamentais a um estressor heterotípico durante a vida adulta e na busca pelo etanol após a exposição ao TER, de maneira sexo-específica. Camundongos machos que permaneceram mais tempo na toca apresentaram maior número de reforços e respostas ao nose poke ativo em relação quando comparados às fêmeas. Camundongos dos grupos SM que não foram submetidos ao TER apresentaram redução da expressão de receptores CRFR1 no BNST e CRF-BP na AMY, enquanto aqueles que foram expostos ao TER apresentaram aumento na expressão de CRFR2 na AMY. No experimento 3, foi observado que a Sm reduziu o consumo de etanol em um protocolo de livre escolha de etanol com concentrações crescentes dessa substância. Esses efeitos não foram influenciados pelo antagonismo de receptores CRFR1 com CP376395. A inibição da proteína CRF-BP não produziu alterações de consumo e preferência de consumo entre os grupos. Esse estudo demonstra que a SM produziu alterações duradouras nos comportamentos relacionados ao consumo de etanol, de modo dependente de sexo e em diferentes protocolos de autoadministração de etanol. Observa-se também que esse estresse influencia comportamentos defensivos e o consumo de etanol em resposta a um estressor heterotípico, na vida adulta. Tais respostas foram associadas a ativação neuronal específica de subnúcleos da amídala estendida, de forma sexo-específica. Destaca-se, ainda, que a separação materna alterou a expressão de proteínas relacionadas ao sistema CRFérgico na amídala estendida. Entretanto, o antagonismo de receptores CRFR1 e a inibição da proteína CRF-BP parecem não influenciar os efeitos do estresse de SM sobre o consumo de etanol. |