Reabilitação psicossocial: concepções e práticas na construção de uma rede possível

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Freitas, Valeria Nancy de [UNIFESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=7488853
https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/52363
Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo problematizar as concepções e práticas em Reabilitação Psicossocial adotadas pelos profissionais atuantes na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de um município da Baixada Santista. Não obstante a construção histórico-conceitual do conceito de Reabilitação Psicossocial, a partir de 2011 ele passa a configurar também como um dos componentes da RAPS, cujos objetivos incluem a promoção de ações de caráter intersetorial destinadas à inserção produtiva, formação e qualificação para o trabalho, garantia da melhoria das condições concretas de vida, ampliação da autonomia, contratualidade e inclusão social das pessoas em sofrimento mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, e de seus familiares. No âmbito dessa pesquisa o termo agregará ainda a menção a um equipamento da RAPS que se responsabiliza diretamente pelo desenvolvimento de tais ações, a Seção de Reabilitação Psicossocial (SERP). O estudo teve caráter qualitativo, estando ancorado na perspectiva metodológica da pesquisa intervenção. Essa escolha foi uma estratégia com vistas a criar condições para encontros e devires, e assim provocar novas reflexões, desnaturalizando saberes e desestabilizando lugares confortáveis. Foram convidados a participar da pesquisa profissionais da RAPS que trabalham nos cinco Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de referência territorial para adultos, no CAPS de referência para problemas relacionados ao uso de Álcool e outras Drogas (CAPS ad) e na SERP. Os instrumentos para produção dos dados foram: grupos focais coordenados pela pesquisadora e registros em diário de campo redigidos por ela. A fundamentação teórica provém da análise institucional e de conceitos definidos por autores de referência na área. Foi realizado um grupo focal para cada um dos CAPS, com presença de todos profissionais que se portaram voluntários e de um profissional da SERP que aceitou participar. O local escolhido pelas equipes para a realização do grupo foi uma sala dentro dos CAPS, geralmente a sala de reunião da equipe. As falas dos participantes foram registradas, transcritas na íntegra e submetidas a análises temáticas, organizadas em função de eixos que se destacaram na leitura sistemática e que foram considerados importantes para a análise do tema. Os diários de campo trouxeram dados complementares que serviram para incrementar a compreensão do que foi trazido nos grupos e para elaborar a análise da implicação. O que se percebeu na prática é que o processo de reabilitação é multifacetado, mobilizado ou atravessado pelas diferentes concepções de loucura e mesmo de reabilitação que os profissionais têm, pelas dinâmicas político-institucionais e pelas diferentes (com) vivências que experimentam nos serviços diante dos desafios diários que o trabalho em saúde mental impõe. Os resultados apontam para a necessidade de aprofundar a discussão sobre o que é reabilitação junto aos profissionais da RAPS; provocar uma ressignificação coletiva das práticas e concepções que envolvam a todos, e problematize o lugar da SERP nesse contexto. A viabilização dos grupos focais, envolvendo profissionais de todos os CAPS e da SERP apontou um caminho possível para o fortalecimento da RAPS através da participação e corresponsabilização de todos que deles participaram. Corresponsabilização essa que não significa apenas assumir os problemas coletivamente, mas também, buscar a potência coletiva para superar as dificuldades. A análise temática permitiu identificar os seguintes temas: Reabilitação, Cuidado, Equipe/Profissional e Rede. Para qualquer um dos quatro temas analisados, os impactos, tanto negativos como positivos, repercutem sempre nos usuários. As diferentes concepções sobre reabilitação e as práticas adotadas denotam, muitas vezes, as forças manicomiais que disputam com a ReformaPsiquiátrica o tipo de cuidado que será ofertado ao usuário, desafio esse que atravessa todos os outros temas estudados, em um movimento de avanços e retrocessos. A análise da implicação identificou que todo o movimento da pesquisadora de olhar para si, para sua relação com a SERP, com os outros serviços, para os usuários e para a pesquisa serviu para perceber que nunca somos neutros. Foi preciso manter a atenção voltada para o exercício de uma postura ético-política, se colocando em análise, e deixando de lado a tendência à arrogância acadêmica, de forma a se permitir desconstruir certezas e poder falar honestamente do duplo lugar de profissional da RAPS e de pesquisadora. No entanto, entendemos que essa análise não esgota todos os aspectos da implicação, devido ao forte vínculo institucional existente. O estudo indica que a construção de um novo pensar/fazer reabilitação na RAPS não se constrói apenas com teorias, mas também com afetos, trocas e bons encontros.