Perfil de risco cardiometabólico e resposta ao tratamento clínico da obesidade de acordo com a fase de início da obesidade e seus fatores desencadeantes

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Prado, Marta Germano
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=9968262
https://hdl.handle.net/11600/62191
Resumo: Introdução: A obesidade possui status de epidemia global com tendência crescente e está associada a morbimortalidade e incapacidades (físicas, psíquicas, sociais entre outras), tornando relevante o investimento em maior conhecimento sobre fatores de risco e medidas de controle e tratamento do excesso de peso. O tratamento clínico da obesidade consiste em mudança de estilo de vida, podendo ou não ser utilizado fármaco como coadjuvante para perda de peso, porém, possui baixa taxa de sucesso - representada por perda igual ou maior a 10% do peso inicial. Dentre os fatores relacionados a fases da vida podemos citar o momento em que iniciou a obesidade, o fator desencadeante e histórico familiar de obesidade. Esclarecer se esses fatores estão associados com pior perfil cardiometabólico e se influenciam a resposta ao tratamento clínico pode contribuir para o entendimento da história natural e nortear melhor efetividade no controle da obesidade. Objetivo: Avaliar se o período da vida relatado como início do excesso de peso e seus fatores desencadeantes estão associados a diferenças no perfil cardiometabólico atual e em diferenças na resposta ao tratamento clínico da obesidade em adultos acompanhados no ambulatório de obesidade do Hospital do Rim (HRim) da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP). Materiais e Métodos: Trata-se de um estudo do tipo quantitativo, observacional e transversal a ser realizado com pacientes (n = 125) com idade superior a 17 anos, de ambos os sexos, que não tenham sido submetidos à cirurgia bariátrica e que tenham um ano de acompanhamento ambulatorial no mínimo. Os indivíduos foram estratificados de acordo com a fase da vida em que relataram ter iniciado a obesidade (infância ou adolescência e vida adulta) e, em uma segunda análise, pela resposta ao tratamento clínico (ganho ou manutenção do peso - falha no tratamento, perda de peso < 10 % - pouca resposta, e perda de peso ≥ 10 %, sucesso no tratamento). As variáveis de interesse foram analisadas de acordo com o grupo de estratificação. Foram considerados fatores de risco cardiometabólicos: dislipidemia, hipertensão arterial e diabetes mellitus do tipo 2 e doenças cardiovasculares (relatada em prontuário). Resultados: O grupo que iniciou a obesidade na infância ou adolescência (n=40) apresentou maior média (DP) de IMC [44,8 (7,7) vs. 40,3 (6,7) kg/m2 , p = 0,020] e era mais jovens [35,8 (10,3) vs. 47,9 (10,5), p< 0,001] do que os que iniciaram obesidade na vida adulta (n=84), mas não houveram diferenças entre esses grupos em relação a variáveis sociodemográfica, duração de obesidade e história familiar de obesidade. Observamos que o grupo que iniciou a obesidade na infância ou adolescência referiu, em maior proporção, dieta inadequada e sedentarismo como fatores desencadeantes da obesidade. Apesar de mais jovens durante o tratamento atual, o grupo que iniciou a obesidade na infância ou adolescência apresentou maior frequência de obesidade severa (IMC ≥ 40 kg/m2) [29 (72,5) % vs. 42 (50,0) %, p=0,018)] do que aqueles que relatam obesidade somente na vida adulta, enquanto que a frequência de 3 ou mais fatores de risco cardiometabólicos foi semelhante nos dois grupos [15 (29,4) % vs. 36 (42,1) %, p=0,705) respectivamente. Em relação a resposta ao tratamento clínico da obesidade o grupo de falha no tratamento apresentou diferença percentual de peso em mediana (intervalo interquartil) de 3,3 (1,0 a 6,6) %, o grupo de pouca resposta, de -3,6 (-6,7 a -1,9) % ,e o grupo de sucesso de tratamento, de -14,7 (-18,4 a -12,6) % (p = 0,000). Não houveram diferenças entre os grupos de resposta ao tratamento em relação a sexo, idade, história de obesidade na família, duração da obesidade, fatores precipitantes da obesidade, perfil cardiometabólico, bem como tempo de acompanhamento clínico, uso de medicação e acompanhamento com psicólogo e nutricionistas. Relevante notar que o grupo que iniciou a obesidade na infância ou adolescência, apesar de ser mais jovem do que o grupo que iniciou obesidade na vida adulta, apresentou resposta semelhante em relação à perda de peso corporal durante o seguimento [-2,2 (-6,4 a 3,5) vs. -2,6 (-7,9 a 1,0) kg, p = 0,98] respectivamente. Não observamos, também, diferenças estatisticamente significativas entre as perdas de peso durante o acompanhamento considerando estratificação pelas medianas da idade cronológica (< ou ≥ a 35 anos) e do tempo de obesidade (< e ≥ a 17 anos). Foi observado que o grupo de sucesso no tratamento apresentou maior porcentagem de redução de peso no primeiro ano de acompanhamento [-11,4 (-14,8 a -7,8)% vs. -3,3 (-6,8 a -1,5) % vs. 1,5 (0,3 a 5,9) % (p = 0,000)] e maior frequência na prática atividade física semanal ≥ 150 minutos [60,0% vs. 14,3% vs 7,4 %., p < 0,001] do que os grupos de pouca resposta e de falha no tratamento clínico respectivamente. Dentre aqueles que tiveram sucesso no tratamento, 55,6 % já tinham atingido uma perda de ≥ 10 % no primeiro ano e 100 % perderam ≥ 5 % nesse mesmo período. Conclusões: Nossos achados mostraram que os pacientes com início da obesidade na infância ou adolescência, apesar de mais jovens, não diferiram quanto ao perfil cardiometabólico e de resposta ao tratamento clínico quando comparados indivíduos que referiram aumento de peso na vida adulta. O tempo de exposição à obesidade e fatores desencadeantes da obesidade não influenciaram a resposta de perda de peso. Em concordância com o conhecimento científico atual, sucesso de perda de peso após 3 anos de acompanhamento clínico foi associado à prática de atividade física e a maior perda de peso durante o primeiro ano de tratamento. Nossos resultados podem sugerir que a obesidade iniciada precocemente no ciclo da vida pode ser mais severa e mais resistente a perda de peso.