Vico e a fratura moderna: o principio do verum-factum e a idéia de história na Ciência Nova

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2004
Autor(a) principal: Pereira Filho, Antônio José
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://ri.ufs.br/handle/riufs/1406
Resumo: O princípio moderno de que só podemos conhecer aquilo que fazemos ( verum factum convertuntur) assume na obra de Vico um sentido peculiar. De início, aproximando-se e distanciando se dos filósofos pós-cartesianos, Vico toma o princípio do verum-factum como eixo argumentativo para empreender uma revisão das teses cartesianas frente às criticas céticas. O resultado é a reivindicação de um espaço legítimo de conhecimento no qual o homem torna-se senhor de seus próprios objetos. Na obra mais madura, porém, Vico toma este princípio para se pensar uma “ciência do mundo humano” na sua dimensão própria – a história. É impossível não reconhecer o tom prometeico desta conversão. Porém, diferentemente de outros filósofos modernos, Vico não se vale do princípio do verum-factum como critério de planificação do mundo históricocivil.Aqui topamos com a outra ponta do fio da idéia viquiana de história: a noção de “providência”. Como conciliar as duas afirmações? Se a história é fruto de Deus e não dos homens, com que direito pode-se almejar conhecê-la, uma vez que só se pode conhecer aquilo que se faz? Trata-se de uma contradição flagrante ou de um sinal de prudência? Devemos concluir que Vico afim de salvar o conhecimento histórico, cai numa visão mistificadora, na qual o filósofo que reflete sobre a história, identificando-se plenamente coma mente divina torna-se uma espécie de Deus, sendo capaz de abarcar a história na sua totalidade e, ao mesmo tempo, fazer prognósticos sobre nossa condição futura? Qual o significado do termo “providência” em Vico e em que sentido “os homens fazem a história”? Tem sentido considerar Vico um “filósofo da história” no sentido moderno do termo? O que dizer da separação entre história “sagrada” e “profana” efetuada pelo autor? Teria Vico dado um passo atrás em relação ao processo de laicização moderno? Ou, ao contrário, ele antecipou criticamente as dicotomias deste processo? A fim de responder estas questões, veremos que na verdade as ambivalências de Vico fazem parte de uma estratégia argumentativa que parece encarnar o primeiro movimento em que a modernidade revê seus próprios pressupostos, realiza uma autocrítica, sem contudo abrir mão de uma idéia de humanidade e de razão. Nossa leitura terá como pano de fundo o contexto filosófico da tradição renascentista, da qual Vico é considerado o herdeiro tardio, e as discussões em torno da fundamentação do saber na passagem do século xvii para o século xviii. É entre estes dois momentos que Vico tenta imprimir sem sucesso suas idéias, que não por acaso só frutificariam muito tempo depois. _________________________________________________________________________________________ ABSTRACT: The modern principle according to which we can know what we create ( verum factum convertuntur) has a singular meaning in Vico’s works. In his early works, sometimes far and sometimes close to the post-Cartesian philosophers, Vico takes the principle of verum-factum as the argumentative center to make a review of the Cartesian theses in face of the skeptical critiques. The result is the vindication of a legitimate place for knowledge in which man is the master of his own objects. In his late works, however, Vico considers this principle as the setting-off for thinking about a “science of the human world in its own dimension – history. One cannot help noticing the Promethean route of this conversion. However, differently from other modern philosophers, Vico does not take the principle of verum-factum to be the criterion for planning the civil historical world. Here we find the other part of the Viconian idea of history: the idea of “providence”. How to join these two ideas? If history is God’s act not man’s, how can we wish to know it, since one can only know what one makes? Is it remarkable contradiction or a mark of prudence? Shall we conclude that Vico, in order to protect the historical knowledge, falls into a mystifying view, in which the philosopher, as it identifies himself to the divine mind, becomes a sort of God, being capable to embrace the whole history, and at the same time make prognostics of our future condition? What “providence” stands for, according to Vico ? In which sense “men make history”? Is there a sense in considering Vico as a “philosopher of history” in the modern sense of term? What can we say about the distinction of the “sacred” history and the “profane history” made by the author? Did Vico make a drawback regarding the modern process of laicization? Or, contrary, did he advance critically the dichotomies of this process? In order to answer these questions we shall see that, in fact, Vico’s ambivalences are part of an argumentative strategy that seems to engender the first moment in which modernity make the review of its own assumptions, enacts an auto-critique, without giving up of an idea of humanity an for reason. Our work shall have, as its background, the philosophical context of renaissance, of which Vico is considered a late heir, and the debate of the foundation of knowledge between XVIIth an the XVIIth century. It is between these two moments that Vico manages to establish successfully his ideas, which would bear fruits much later.