Modos de apreensão das propostas da reforma psiquiátrica: um estudo qualitativo interpretativo junto à equipe de um CAPS

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Moreira, Januaria Pralon lattes
Orientador(a): Miranda, Lilian
Banca de defesa: Miranda, Lilian, Azevedo, Creuza da Silva, Silva, Luna Rodrigues Freitas
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Departamento: Instituto de Educação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/14468
Resumo: A Reforma Psiquiátrica Brasileira (RP) é um movimento que proporcionou o questionamento das formas vigentes de se lidar com a loucura, permitindo que se passasse a criticar e transformar as práticas de cuidado em saúde mental. Questionando o caráter excludente das instituições psiquiátricas, o movimento da RP brasileira se pauta em propostas que envolvem os âmbitos político, legal, clínico, epistemológico e sociocultural. Nos últimos 20 anos foram inúmeras as conquistas que esse movimento alcançou, promovendo mudanças estruturais importantíssimas para o desenvolvimento de outras formas de cuidado à loucura e ao sofrimento psíquico de modo geral. Dentre os equipamentos criados para viabilizar um novo modelo de atenção, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) se tornaram os principais dispositivos de caráter substitutivo de tratamento em saúde mental, configurando-se como um serviço de cunho comunitário e com diretrizes políticas, clínicas e sociais que se afirmam antimanicomiais. Consideramos, contudo, que as mudanças em um nível micropolítico dependem, diretamente, do modo como as propostas são apreendidas e significadas pelos agentes de cuidado. Por este motivo, nesta dissertação tivemos como objetivo compreender os modos de apreensão das propostas políticas, ideológicas e clínicas da Reforma Psiquiátrica pelos profissionais de um CAPS. O referencial teórico adotado envolve autores que discutem a Reforma Psiquiátrica brasileira e a clínica ampliada ou clínica da atenção psicossocial. O método de pesquisa foi o qualitativo-interpretativo, apoiando-se na teoria da hermenêutica gadameriana. Realizou-se observação participante das reuniões de equipe semanalmente durante o período de cinco meses, com concomitante construção de diário de campo, grupos focais com trabalhadores de diferentes categorias profissionais do CAPS escolhido e uma entrevista com a coordenadora do serviço. O material empírico foi trabalhado a partir da construção de narrativas, que expressaram a formação de três núcleos de sentido: 1. O esmorecimento da clínica; 2. Articulação com a rede; 3. O lugar do médico. O primeiro núcleo nos apresenta certa fragilidade nas construções e discussões dos projetos terapêuticos singulares, sugerindo possível esmorecimento da clínica dentro do CAPS. A falta de articulação com a rede intersetorial de apoio ao CAPS também foi discutida. Debatemos ainda o lugar que a categoria médica tem ocupado nos CAPS e sua relação com a equipe e os ideais da RP. Ressaltamos que muitas das práticas realizadas no CAPS em questão estão em consonância com as propostas da RP, sobretudo aquelas ligadas a reabilitação/reinserção social, entretanto, pouco se discutiu sobre os princípios do movimento reformista. As práticas de cuidado também foram pouco analisadas e questionadas, de modo que a clínica parece carecer de mais vitalidade e exame crítico por parte da equipe. Consequentemente, esta demonstrou alguns sinais de cronificação, evidenciando a necessidade de espaços de reflexão coletiva, como, por exemplo, as supervisões clínico institucionais. Ainda mostramos que os princípios da RP aprendidos/incorporados pelos profissionais precisam ser integrados à história do serviço, num processo de construção de sentidos para o trabalho.