Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2015 |
Autor(a) principal: |
Lopes, Helena Rodrigues
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Orientador(a): |
Schmitt, Claudia Job |
Banca de defesa: |
Schmitt, Claudia Job,
Marques, Cláudia Charão,
Porto, Marcelo Firpo de Souza,
Medeiros, Leonilde Servolo de |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
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Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
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Departamento: |
Instituto de Ciências Humanas e Sociais
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País: |
Brasil
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Palavras-chave em Português: |
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Palavras-chave em Inglês: |
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Área do conhecimento CNPq: |
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Link de acesso: |
https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/11590
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Resumo: |
O presente trabalho tem como objetivo central analisar as dinâmicas de estruturação e reprodução das práticas associadas ao uso de agrotóxicos desenvolvidas por agricultores familiares, produtores comerciais de olerícolas, na região de Barbacena/MG. Parte-se do pressuposto de que essas práticas não podem ser explicadas, unicamente, nem através da experiência individual dos atores e nem como um mero reflexo das pressões de uma estrutura social externa aos indivíduos, adotando-se, portanto, uma abordagem que busca compreender os atores e suas práticas levando em consideração a trama de relações nas quais estão envolvidos. A institucionalização do uso de agrotóxicos, sementes melhoradas e adubos químicos, a partir, principalmente, dos anos 1960, através da chamada Revolução Verde, apresentou-se, em boa medida, na região estudada, como uma imposição para os agricultores familiares. Uma série de mecanismos como o crédito agrícola e os programas públicos de extensão rural, possibilitaram que os agrotóxicos fossem legitimados ao longo do tempo e naturalizados como parte inerente ao processo de produção de olerícolas. Entretanto, apesar das forças coercitivas e da naturalização do uso dos agrotóxicos, os agricultores familiares revelam-se, de acordo com suas possibilidades, como agentes ativos na produção e reprodução destas práticas. Os agrotóxicos foram pensados neste trabalho, na sua dimensão material e simbólica, como tecnologias que ganham existência através de redes sociotécnicas. A rede na qual o agrotóxico está imerso organiza as condições de fabricação, venda, uso e legitimação desses produtos. Uma das funções da rede é garantir a circulação dessas tecnologias e cessar ou minimizar as controvérsias associadas à sua utilização, transformando o agrotóxico, nos termos propostos por Latour (2000; 2004), em uma caixa-preta, resguardada de riscos e incertezas. A pesquisa tomou como principal foco de investigação as práticas dos agricultores como usuários destas tecnologias. Utilizou-se para isso de uma perspectiva etnográfica, procurando apreender as relações que os agricultores familiares estabelecem com os agrotóxicos na vida cotidiana em um contexto econômico, social e ecológico específico. Recorreu-se, ainda, à pesquisa documental, à análise de fontes secundárias e à realização de entrevistas semi-estruturadas como forma de complementar as informações obtidas a campo. O trabalho evidenciou que as incertezas relativas aos agrotóxicos são parte integrante das práticas acionadas pelos agricultores familiares. Na região de Barbacena/MG, ao mesmo tempo em que se percebe a legitimação e naturalização do uso dos agrotóxicos e também a adoção de algumas práticas associadas ao chamado “uso seguro”, identifica-se a agência, tanto dos agricultores familiares como das organizações locais, construindo conhecimentos e reacendendo controvérsias em meios às regras e à naturalização. De acordo com seus próprios parâmetros, os agricultores familiares selecionam os agrotóxicos a serem utilizados em suas unidades e constroem estratégias de seguridade na sua relação com estas tecnologias, estabelecendo relações com diversos agentes que influenciam as práticas de uso dos agrotóxicos no cotidiano, incluindo os órgãos de fiscalização e defesa agropecuária, sindicatos de trabalhadores rurais, casas agropecuárias, técnicos agrícolas e agentes envolvidos na comercialização da produção agrícola em diferentes mercados. É nessa trama de relações que os agrotóxicos são legitimados e questionados. Outro ponto importante são as relações estabelecidas pelos agricultores na esfera doméstica, particularmente as relações familiares. O medo da contaminação dos filhos, da esposa ou do marido, é um fator importante que, em algumas situações, contribui para reorganizar as práticas em relação a esses produtos. As práticas associadas aos agrotóxicos revelam, assim, incertezas, em um ambiente no qual essas tecnologias são ao mesmo tempo legitimadas e reorganizadas de acordo com as condições e estratégias dos agricultores familiares e dos diferentes agentes com os quais se relacionam. |