“Todo mundo aqui quer ser patrão”: pernambucanizando o empreendedorismo no Polo de Confecções de Roupas do Agreste

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Milanês, Renata Bezerra lattes
Orientador(a): Wilkinson, John lattes
Banca de defesa: Wilkinson, John, Carneiro, Maria Jose Teixeira, Schmitt, Claudia Job, Müller, Lúcia Helena Alves, Motta, Renata Campos
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
Departamento: Instituto de Ciências Humanas e Sociais
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/9443
Resumo: O empreendedor tem se tornado um dos personagens mais enigmáticos no cenário das transformações econômicas e sociais da contemporaneidade. Sua presença tem sido cada vez mais recorrente, tanto no debate acadêmico como nos meios de comunicação de massa, fazendo-nos questionar: estaríamos nós vivendo a era do empreendedorismo? Vários teóricos de diferentes áreas do conhecimento têm dedicado grande parte dos seus estudos na busca de tentar entender o avanço desse fenômeno. Entretanto, grande parte da literatura mainstream sobre o tema vem reforçando uma padronização dessa figura através de perspectivas hegemônicas, que tem como modelo padrão o empresário “modelo” do Norte global. Diferente dessa visão, a pesquisa que aqui se segue, não tem como foco os modelos clássicos sobre o empreendedorismo, mas traz como exemplo, o que vem ocorrendo no Agreste pernambucano, desde meados de 1950, quando homens e mulheres começaram a fabricar roupas com restos de tecidos e, a partir daí, conseguiram construir o que hoje é considerado como o segundo maior polo têxtil do Brasil. Diante desse contexto, através de um diálogo teórico com abordagens críticas sobre a economia e estudos pós-coloniais sobre o empreendedorismo, esta tese tem como objetivo principal analisar a trajetória dos empreendedores têxteis do Polo de Confecções do Agreste Pernambucano e refletir sobre as diferentes formas de inserção no mundo das confecções de roupas. Intenta-se com isso entender, de um lado, quais caminhos são trilhados na formação dos empreendimentos e das pessoas enquanto empreendedoras; e do outro, compreender como elas desenvolvem o aprendizado e as habilidades técnicas e econômicas para se manter no mercado do Polo. Esta tese lança, portanto, o seguinte desafio: como estudar esse empreendedor do interior do Nordeste brasileiro, que está à margem do contexto europeu-americano das teorias? Visando “pernambucanizar” o empreendedorismo para entender melhor a realidade analisada, os casos trazidos aqui se concentram nas trajetórias de vida de pessoas que possuem empreendimentos (de pequeno, médio e grande porte) voltados para a confecção e comercialização de roupas. A pesquisa revela que o que atualmente chamamos de empreendedorismo, na realidade local, pode ser definido como a cultura do “trabalhar sem patrão”. Se libertar da autoridade do outro constitui um dos elementos mais característicos e marcantes do Polo. É possível perceber que essa possível “vocação” empreendedora da região tem raízes profundas no contexto familiar dos indivíduos que compõem o Polo, assim como também na experiência histórica e anterior do trabalho agrícola dessas pessoas. Sendo assim, as trajetórias de vida dos entrevistados trazem à tona alguns elementos que serão abordados no decorrer dos capítulos, tais como: o trabalho desde a infância, o pouco acesso à educação, as distinções de gênero, a importância das redes de relações pessoais nos negócios, as crises, os calotes e a vontade de enriquecer. Por fim, tendo em vista a necessidade de abordagens alternativas e contra hegemônicas à forma predominante de conceber o empreendedorismo, espera-se que esta tese possa contribuir para a análise da atividade empreendedora em ambientes institucionais fluídos, com recursos escassos e em economias do Sul global, como é o caso do campo empírico desta pesquisa, para que possamos pensar no Brasil contemporâneo.