Ecologia e comportamento da vespa escavadora Sphex ingens Smith 1856 (Hymenoptera, Sphecidae): subsídios para a conservação da espécie no Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Souza, Carlos Alberto dos Santos lattes
Orientador(a): Queiroz, Jarbas Marcal de lattes
Banca de defesa: Queiroz, Jarbas Marcal de lattes, Prezoto, Fabio lattes, Aranda, Rodrigo lattes, Silvestre, Rogério lattes, Lima, Mauro Sérgio Cruz Souza lattes
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal
Departamento: Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/9193
Resumo: Nos últimos anos, apesar dos muitos avanços alcançados através de pesquisas sobre conservação de insetos, o agravamento no declínio das populações de inúmeras espécies têm preocupado os cientistas e colocado em dúvidas a eficácia das políticas e ações governamentais voltadas à conservação de espécies, principalmente quando mais de ¾ da riqueza de espécies de insetos catalogada ainda é totalmente desconhecida quanto aos papéis desempenhados no funcionamento ou manutenção da estabilidade dos ecossistemas naturais. Sphex ingens Smith 1856 é uma das 147 espécies de Sphecidae com ocorrência confirmada para algumas áreas na região Neotropical, embora jamais houveram esforços para esclarecer questões básicas da sua história natural, como o comportamento predatório, capacidade de dispersão e influências das variáveis ambientais sobre seleção de habitats e distribuição da espécie. Logo, este estudo visou avaliar a ecologia e o comportamento da vespa escavadora, S. ingens, a fim de propor ações para a conservação da espécie no Brasil e direcionar futuras pesquisas. Os objetivos específicos se concentraram em: (1) avaliar a ecologia de predação de S. ingens considerando o nível de especialização predatória, as relações predador-presa e os mecanismos de transporte aprovisionamento de presas; (2) analisar a extensão da capacidade de voo de S. ingens; (3) investigar quais variáveis da estrutura física do habitat são preditoras nos modelos de seleção dos habitats; e (4) modelar a distribuição geográfica potencial de S. ingens na América do Sul, considerando a influência das variáveis bioclimáticas e de elevação, além de avaliar o grau de proteção oferecido pelas unidades de conservação brasileiras sobre as áreas de provável ocorrência da espécie. A ecologia e o comportamento predatório de S. ingens foi registrado in natura durante expedições em duas localidades no município de Angra dos Reis-RJ. Além disso, 236 indivíduos foram capturados-marcados-soltos para aferir a capacidade de voo em distâncias testes. As predições para seleção de habitat foram modeladas com inclusão de 15 variáveis da estrutura do habitat e sua relação com três tamanhos de paisagem a partir de 93 áreas visitadas no continente e na Ilha Grande (RJ). Por outro lado, registros obtidos em campo, através de base de dados indexadas ou obras especializadas, e em coleções entomológicas foram utilizados para modelar a distribuição potencial da espécie com as variáveis ambientais e estimar a proteção recebida pelas populações em unidades de conservação. As análises sobre o viii. comportamento predatório confirmaram elevada predisposição a especialização na captura de duas espécies de esperanças pseudofilíneas, Meroncidius sp. e Pleminia vicina (Orthoptera, Tettigoniidae), sendo provavelmente um importante fator de mortalidade para estas populações de presas. Além disso, o comportamento de arvorismo das fêmeas pode ser uma importante estratégia para reduzir o cleptoparasitismo de aves durante o aprovisionamento e/ou economia de energia durante o transporte das presas. Os ensaios de capacidade de voo, identificaram que a espécie pode voar longas distâncias (e.g., 4,5 km ou área de voo de 63,5 km2 ). Os modelos de seleção de habitat previram que em paisagens pequenas (3,5 km2 ) o tamanho das áreas de nidificação e superfície não impermeabilizada influenciaram significativamente a escolha da espécie por áreas que servirão como sítios de nidificação, enquanto que a presença de cursos d’água e o entorno antrópico são as principais variáveis preditoras em paisagens maiores (63,5 km2 ). Ao longo do trecho analisado de Angra dos Reis, S. ingens apresentou padrão de distribuição agregado e restrito a determinados habitats. O Brasil, mais precisamente a Mata Atlântica, concentra 96,4% dos habitats adequados para S. ingens (i.e., 50.845,5 km2 ) em relação a toda América do Sul. Entretanto, no caso do Brasil, apenas 20,2% das áreas de provável ocorrência da espécie encontram-se oficialmente protegidas por unidades de conservação. De maneira geral, os padrões ecológicos e comportamentais encontrados para S. ingens foram consistentes e elucidaram algumas questões acerca da história natural da espécie, embora não exclua a necessidade de mais pesquisas para consolidação de informações bioecológicas pertinentes ao manejo de suas populações e dos seus habitats. Certamente, as informações reunidas reforçam que a espécie requer urgente avaliação de prioridade em termos de status de ameaça de conservação. Além disso, a inclusão de S. ingens na lista de espécies ameaçadas seria de grande valor estratégico para a conservação a curto prazo no que se refere à proteção preventiva, cuja compreensão de outros aspectos da história natural requerem maiores detalhes.