A dicotomia entre corpo e mente e a sua influência no uso crescente e acentuado de psicofármacos na atualidade

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Mota, Tiago Cupolillo lattes
Orientador(a): Melo, Rosane Braga de lattes
Banca de defesa: Melo, Rosane Braga de lattes, Oliveira, Fernando Bonadia de lattes, Uhr, Deborah lattes, Chevitarese, Leandro Pinheiro lattes, Azize, Rogerio Lopes lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Departamento: Instituto de Educação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/14425
Resumo: O presente trabalho aborda o uso crescente e acentuado de psicofármacos, na atualidade, para o tratamento de sofrimentos psíquicos. Estes últimos, que outrora faziam parte do ato mesmo de viver, têm sido constantemente capturados pelo discurso da biomedicina, que os considera como resultado de desordens localizadas no corpo – no cérebro, mais especificamente –, reduzindo a amplitude possível das experiências humanas. Processo intenso de normatização produtoras de valores de unidade sobre a realidade – sua normatização. da vida que está relacionado ao papel fiscalista e normatizador transferido à medicina, antes responsabilidade do poder religioso, que visa, sobretudo, regular as relações sociais por meio de uma ética do trabalho que serve aos interesses do modo de produção capitalista. Diante desse cenário, aproximamos o constante avanço da jurisdição médica sobre as diversas manifestações da vida às críticas que Nietzsche direciona à filosofia e ciência moderna como produtoras de valores de unidade sobre a realidade – sua normatização. Para o autor, a tendência à cristalização dos saberes sobre a vida, diferenciando as suas manifestações entre Verdade e ilusão, está relacionada à herança da tradição filosófica socrática-platônica e do cristianismo sobre o pensamento e instituições da modernidade. Do ponto de vista da prática científica, a natureza múltipla (e o corpo múltiplo) e os caracteres secundários da matéria, foram postos à parte. Por outro lado, os caracteres primários, dado a sua constância e imutabilidade, além de serem matematizáveis, passaram a definir a realidade como um todo, fundamentando o paradigma mecanicista na investigação científica. A produção de unidade a qual se refere Nietzsche se refletiu na engenharia social inaugurada pela modernidade, que se manifesta no fenômeno da caça às bruxas, na monopolização e homogeneização dos saberes técnicos e no episteminicídio de outros, bem como na correção da realidade por meio da ortopedia social efetivada pelas técnicas disciplinares, à serviço do modo de sujeição capitalista. Por fim, como resultado dessa investigação, é possível afirmar que a defesa da existência de valores verdadeiros e, por isso, transcendentes à realidade imanente, deve ser pensada como um meio de efetivação do domínio e controle sobre as forças da vida. O desenvolvimento de tecnologias médico-farmacológicas pode ser entendido, portanto, como um processo de aprimoramento do controle social exercido pelos médicos profissionais e pelo saber da biomedicina, na manutenção e aprimoramento da exploração das forças corporais, que se fundamentam nos ideais de renúncia ao corpo e suas satisfações. Com base na filosofia de Espinosa, foi possível propor que parte da solução para o uso acentuado de psicofármacos na atualidade se refira à revalorização da experiência múltipla com o corpo e seus afetos; um resgate da experiência erótica, a partir da leitura de Foucault sobre as práticas de si da modernidade. Além disso, ao nos depararmos com o poder da indústria farmacêutica na manutenção do paradigma mecânico do sofrimento mental, que sustenta a terapêutica farmacológica, defendemos que sua superação deva ser vista igualmente como uma luta contra interesses mercadológicos no direito à saúde.