Impactos do mergulho recreativo em ambientes recifais tropicais do Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Calado, Janaina Freitas
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/25629
Resumo: O mergulho recreativo (MR) é uma das atividades turísticas que mais cresce no mundo, gerando emprego e renda, além de poder contribuir com a conservação dos ambientes recifais, impulsionando a criação de unidades de conservação (UC) e auxiliando com insumos financeiros a manutenção de UCs já existentes. Apesar das vantagens socioeconômicas, quando realizado sem controle, o MR pode provocar impactos negativos ao ecossistema recifal, como alterações na estrutura das comunidades, danos físicos aos recifes e redução na resisliência do recife. Diversos estudos em recifes de corais no mundo têm caracterizado tais impactos propondo estratégias de manejo e indicadores biológicos para monitoramento. As peculiaridades dos recifes brasileiros, com baixa cobertura coralínea e elevada cobertura de algas e esponjas, torna necessário identificar e definir estratégias de manejo próprias para esse tipo de uso. O presente estudo avaliou o impacto que o mergulho recreativo provoca em ambientes recifais tropicais do Brasil. O primeiro capítulo é uma análise cienciométrica que indica as tendências dos estudos sobre os impactos do MR nos ambientes recifais brasileiros. Os resultados mostram o crescimento do número de publicações com esse tema ao longo do tempo e aponta a carência de uma análise integrada dos impactos que o MR causa na biota recifal. Além disso, observou-se a necessidade de delineamento do perfil, preferências e do comportamento dos mergulhadores. Nosso trabalho indica ainda que os recifes do Ceará e recifes urbanos da Paraíba e Alagoas são áreascom maior carência de estudos no tema. No segundo capítulo foi caracterizado o comportamento de mergulhadores recreativos em uma Área de Proteção Ambiental Marinha (AMP) no nordeste brasileiro, quantificando-se a frequência de toques no substrato recifal relacionado ao perfil do mergulhador e características do tipo de mergulho realizado. A frequência média de toques (FT) observada foi notadamente inferior no recife estudado, quando comparado a outros estudos em recifes de corais do mundo. As variáveis que influenciaram na FT foram: tipo de mergulho (scuba > snorkel), sexo (homens > mulheres) e na faixa etária (acima de 50 anos, maior que nas demais faixas etárias). A discussão deste capítulo aborda como as características físicas do local de estudo pode ter influenciado na redução da FT, e também a postura dos profissionais do turismo. O terceiro capítulo trata dos impactos do MR na ictiofauna e na comunidade bentônica em um ambiente recifal tropical do Brasil. Nesse capítulo a realização de uma análise integrada de múltiplas variáveis da biota marinha identificou importantes alterações na estrutura da comunidade recifal em função do MR. Essa abordagem permitiu a observação de possíveis relações de causa e efeito que a avaliação de apenas um grupo biológico poderia não detectar. As principais alterações documentadas foram: maior frequência relativa de areia e cascalho na cobertura do substrato e menores valores das categorias coral duro, coral mole e algas filamentosas nas áreas de Alto uso. A densidade média de corais não variou entre as áreas, contudo, a espécie de coral Favia gravida apresentou menor densidade nas áreas turísticas. As áreas de Alto uso exibiram ainda maior abundância relativa de ouriços pretos e invertebrados sésseis. As áreas de Baixo uso apresentaram maior cobertura de algas folhosas. Com relação a ictiofauna observou-se maior abundância, menor diversidade e dominância da espécie Haemulon aurolineatum nas áreas de alto uso. Nessas áreas destacaram-se as maiores abundâncias dos grupos tróficos invertívoros móveis, onívoros e carnívoros, com predominância de peixes da categoria de tamanho entre 11 – 20 cm. As áreas Controle apresentaram um padrão diferente com menor abundância total de peixes, maior diversidade e homogeneidade, com maior abundância de herbívoros, especialmente os territoriais, e destaque para as categorias de tamanho de 6 – 10 cm e de 21 – 30 cm. Nas áreas de Baixo uso observou-se valores intermediários e de maior semelhança com as áreas Controle. Essas alterações podem ser causadas diretamente pelo MR ou por efeitos indiretos, que é resultado da complexa forma como os diferentes táxons respondem aos danos oriundos da atividade turística. Apesar disso, essas modificações são espacialmente pontuais e com mais estudos, monitoramento, fiscalização e manejo adequado, acredita-se que os impactos possam ser reduzidos nas áreas turísticas. Neste trabalho ainda são sugeridas medidas de manejo para redução do impacto do MR e indicadores biológicos que podem otimizar o monitoramento de áreas recifais submetidas a atividade turística O quarto e último capítulo relata como o uso de uma abordagem metodológica diversificada em um projeto de Educação Ambiental (EA), cujo tema foi “os impactos do mergulho recreativo”, foi eficaz em uma escola pública do entorno de AMP alvo da especulação turística. Os resultados indicam que a combinação do conhecimento científico, conhecimento local, uso de mídias e visitas à ambientes não-formais são fundamentais para a eficácia de um projeto de EA. Esta tese apresenta dados pioneiros sobre os impactos que o mergulho recreativo gera em ambientes recifais brasileiros, contribuindo efetivamente para o manejo e desenvolvimento de um turismo sustentável em áreas protegidas marinhas.