Aborto: um fenômeno sem lugar – uma experiência de plantão psicológico a mulheres em situação de abortamento

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Rebouças, Melina Séfora Souza
Orientador(a): Dutra, Elza Maria do Socorro
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/20088
Resumo: O presente estudo discorre sobre a experiência de um serviço de plantão psicológico na Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), na cidade de Natal, e apresenta como objetivo principal investigar os limites e as possibilidades dessa prática, ao oferecer atendimento para mulheres em situação de abortamento. O Ministério da Saúde considera o aborto um grave problema de saúde pública no Brasil e reconhece as repercussões que este provoca na vida pessoal e familiar das mulheres, principalmente as jovens, em plena idade produtiva e reprodutiva, que, se não forem amparadas, podem sofrer graves sequelas físicas e psicológicas. Esta pesquisa insere-se no campo das práticas psicológicas em instituição, as quais visam oferecer, por meio de modalidades diversas, entre elas o plantão psicológico, uma atenção psicológica nas instituições. A atenção refere-se ao acolhimento daquele que sofre no momento da crise e nos mais diversos contextos onde se faça presente uma demanda. Os sentidos dessa experiência foram analisados à luz da hermenêutica heideggeriana, que busca um determinado aspecto da realidade que se pretende conhecer/compreender, acompanhando o próprio movimento do homem em sua existência. Elegeram-se a cartografia e o diário de bordo escrito na forma de narrativa como recursos que possibilitam uma aproximação da experiência cotidiana. O plantão foi realizado no setor de curetagem da MEJC, no período de março de 2013 a fevereiro de 2014, todas as terças e quintas, das 9h às 12h. A trama existencial destecida nessa experiência revelou algumas possibilidades e limites da prática do plantão no contexto estudado. Entre as possibilidades, o plantão favoreceu às mulheres em situação de abortamento a produção de novos sentidos, como: perceber a necessidade de retomar o cuidado de si; ver no encaminhamento para a psicoterapia uma possibilidade de lidar com a perda vivenciada ou com outras questões de suas vidas; ampliar suas possibilidades de escolha; repensar sua vida sexual e reprodutiva; e rever suas relações afetivas e seus projetos de vida. O plantão apresentou-se como um dispositivo de cuidado em saúde ao sensibilizar as mulheres a buscarem as condições necessárias para cuidar de sua saúde e a questionarem o que naquele ambiente era encarado como natural. O plantão revelou-se como uma prática condizente com as demandas da saúde pública ao criar/inventar modos de atender às necessidades das mulheres. Além disso, promoveu uma abertura no horizonte técnico das mulheres, o que foi visto a partir do aparecimento de questões para além da saúde física. Quanto aos limites, algumas demandas extrapolaram o serviço de plantão e exigiram encaminhamento para acompanhamento psicológico e outros serviços especializados. O plantão não conseguiu abarcar a totalidade das demandas existentes no setor e não sensibilizou a equipe de saúde em relação à sua procura e a uma mudança de postura para além do saber técnico. Porém, embora não tenha realizado mudanças concretas nesse contexto, denunciou suas principais dificuldades, como o despreparo da equipe de saúde em lidar com o aborto para além dos procedimentos técnicos e a precariedade da infraestrutura e dos serviços oferecidos. Por fim, o plantão representou uma morada para as mulheres em situação de abortamento, permitindo que o seu sofrimento tivesse um lugar.