Não tem cabimento: corpo e subjetividade no discurso de sujeitos gordos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Caetano, Virgínia Barbosa Lucena
Orientador(a): Vinhas, Luciana Iost
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pelotas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Letras
Departamento: Centro de Letras e Comunicação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://guaiaca.ufpel.edu.br/handle/prefix/4486
Resumo: Passamos, atualmente, por um período de grande valorização da imagem corporal. As representações de beleza e saúde veiculadas pela mídia e pelas redes sociais virtuais alimentam estereótipos de corpo perfeito e impõem configurações corporais muitas vezes impossíveis de serem alcançadas. Além disso, ao valorizar de forma extrema a magreza, a sociedade transforma a gordura em um símbolo de derrota moral e o sujeito gordo passa a ser visto como negligente, preguiçoso, incapaz. Partindo disso, em nossa pesquisa objetivamos compreender como se dá a relação entre corpo e subjetividade no discurso de sujeitos gordos, atentando para o imaginário que esses sujeitos têm de si e do outro. Para tanto, nos ancoramos teoricamente na Análise de Discurso de vertente pêcheuxtiana (AD), teoria que articula saberes advindos da Linguística, do Materialismo Histórico e da Psicanálise, nos permitindo, assim, considerar, pelo viés do discurso, a subjetividade tanto em sua constituição individual – considerando a subjetividade determinada pelo Inconsciente – quanto no plano social – observando a forma como o histórico e o político afetam as imagens que o sujeito produz de si e do outro. Nosso corpus é composto por quatro relatos, de autoria anônima, reunidos para um projeto digital intitulado Não tem Cabimento, que é desenvolvido na rede social virtual Tumblr, e tem como objetivo reunir e colocar em circulação depoimentos de sujeitos que passaram por algum episódio de gordofobia. Em nosso processo de análise, identificamos a presença de um excesso de discurso-outro que se lineariza, na materialidade em questão, pelo uso de discurso relatado e operações discursivas de negação. Compreendemos o excesso de discurso-outro como sintoma da falta do sujeito gordo reconhecer para si um lugar de enunciação. Para fins de análise, configuramos como a FD dominante a FD do corpo perfeito, que reproduz as evidências de que o corpo gordo é feio e doente. O sujeito gordo, interpelado por essa FD, não consegue uma identificação com as evidências que a FD produz, pois seu corpo se impõe como uma barreira para o processo de identificação; contudo, o sujeito também não encontra possibilidade de identificação fora da FD dominante. Percebemos, então, que o processo de subjetivação do sujeito gordo é atravessado por uma negação: o sujeito é aquilo que ele não é. Ao contrário de sujeitos que se autoidentificariam com o padrão de corpo determinado ideologicamente, o sujeito gordo precisa se subjetivar pelo avesso da evidência, instaurando, assim, a resistência no interior da formação discursiva dominante.