Efeitos terapêuticos do extrato de mirtilo em modelos de transtornos psiquiátricos em roedores

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Spohr, Luiza
Orientador(a): Spanevello, Roselia Maria
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pelotas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Bioquímica e Bioprospecção
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://guaiaca.ufpel.edu.br/xmlui/handle/prefix/10816
Resumo: O transtorno afetivo bipolar e o transtorno depressivo maior são doenças psiquiátricas complexas e crônicas, caracterizadas por alterações graves de humor. Apesar do impacto negativo dessas doenças, ainda existe uma lacuna acerca dos mecanismos fisiopatológicos e tratamento. Sendo assim, se torna crucial melhor entender a neurobiologia, bem como buscar novas abordagens terapêuticas para os pacientes. Nesse contexto, destaca-se o mirtilo (Vaccinium spp.), fruto que contém polifenois com ação neuroprotetora em sua composição. Considerando o exposto, o objetivo desse estudo foi investigar o efeito da administração de extrato de mirtilo em parâmetros comportamentais e bioquímicos em animais submetidos aos modelos experimentais de mania e de depressão. Para o protocolo experimental de mania foram utilizados ratos Wistar machos adultos, os quais foram tratados durante 14 dias com água, lítio (45 mg/kg, duas vezes ao dia) ou extrato de mirtilo (200 mg/kg, uma vez ao dia) via oral. Do 7º ao 14º dia, os animais também receberam salina ou cetamina via intraperitoneal; no 15º dia receberam salina ou cetamina (25 mg/kg) via intraperitoneal e foram submetidos ao teste do campo aberto. Posteriormente, os animais foram submetidos à eutanásia, e o córtex cerebral e o hipocampo foram coletados. Para o protocolo experimental de depressão foram utilizados camundongos Swiss machos adultos, estes foram tratados durante sete dias com água, fluoxetina (20 mg/kg) ou extrato de mirtilo (100 ou 200 mg/kg) uma vez ao dia por via oral; no 7º dia receberam veículo ou lipopolissacarídeo (LPS) (0,83 mg/kg) via intraperitoneal e, após 24 horas, foram submetidos aos testes do campo aberto, suspensão da cauda, nado forçado e borrifagem de sacarose. Após os testes, os animais foram submetidos à eutanásia, e o córtex cerebral, o estriado e o hipocampo foram coletados. Os resultados obtidos demonstraram que a administração de extrato de mirtilo preveniu o comportamento tipo-maníaco (hiperlocomoção) induzido pela cetamina. Além disso, a cetamina induziu uma redução na atividade do complexo I e IV, citrato sintase e Ca2+-ATPase nas estruturas cerebrais avaliadas. No entanto, o extrato de mirtilo atenuou parcialmente essas alterações. Em relação ao protocolo com camundongos foi observado que a administração de LPS induziu o comportamento tipo-depressivo, caracterizado pelo aumento no tempo de imobilidade nos testes de suspensão da cauda e nado forçado, além de um aumento na latência para o início da autolimpeza e uma redução no tempo total de autolimpeza no teste de borrifagem de sacarose. O tratamento com extrato de mirtilo demonstrou potencial tipo-antidepressivo, pois preveniu essas alterações. Quanto às análises bioquímicas, observou-se que a administração de extrato de mirtilo preveniu as alterações induzidas pelo LPS, pois reduziu os níveis de espécies reativas de oxigênio, nitrito e substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico, bem como elevou o conteúdo tiólico total e a atividade da catalase. O extrato de mirtilo também preveniu o aumento nos níveis do fator de necrose tumoral-α (TNF-α) induzido pelo LPS. Além disso, verificamos que o extrato de mirtilo preveniu a redução na atividade da Na+ ,K+ -ATPase e da monoamina oxidase-A, bem como o aumento na atividade da acetilcolinesterase induzida pelo modelo experimental. Quanto aos resultados de expressão relativa de RNAm, verificamos que a administração de LPS induziu um aumento nos níveis de TNF-α, interleucina (IL)-1β e IL-10 em córtex cerebral e hipocampo, no entanto, a administração de extrato de mirtilo atenuou essas alterações no córtex cerebral. Além disso, os resultados demonstraram que a administração de LPS não induziu alterações significativas quanto à expressão relativa do fator neurotrófico derivado do cérebro e do fator de transcrição nuclear kappa B. Quanto aos resultados obtidos na análise de docking molecular, verificamos que as antocianinas malvidina 3-galactosídeo e malvidina 3-glicosídeo apresentam significativas interações com a enzima indoleamina 2,3-dioxigenase. Diante dos resultados obtidos, podemos concluir que o extrato de mirtilo apresenta potencial tipo-antimaníaco e tipo-antidepressivo, uma vez que atenuou alterações comportamentais, bioquímicas e moleculares induzidas por modelo experimental de mania e de depressão. Além disso, podemos concluir que o extrato de mirtilo apresenta excelente papel neuroprotetor.