Autoria como saber docente complexo: perfis e percursos de professores-autores de materiais didáticos para o ensino de línguas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Alves, Carolina Fernandes
Orientador(a): Leffa, Vilson José
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pelotas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Letras
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://guaiaca.ufpel.edu.br/xmlui/handle/prefix/14459
Resumo: Nesta pesquisa proponho a tese de que a autoria de materiais didáticos é um saber docente complexo. Na base teórica, relaciono os conceitos de autoria (ALVES, 2021; 2013 MARTINS, 2014; 2012; FOUCAULT, 2009; BARTHES, 2004), saberes docentes (TARDIF, 2014) e sistemas complexos (BERTALANFFY, 1975; MORIN, 2016; DEBRUN, 1996; LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008), tecendo um diálogo entre Educação, Linguística Aplicada e Teoria da Complexidade (LARSEN-FREEMAN, 1997; LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008; DAVIS; SUMARA, 2006; SÁ; BEHRENS, 2019). O principal argumento é que a autoria docente de materiais didáticos emerge das interações entre os professores com outros elementos do sistema educacional, de modo que, ao longo de suas carreiras, seus perfis e percursos de autoria vão sendo construídos por e a partir dessas interações. Nesse sentido, meu principal objetivo nesta tese é mapear uma dinâmica sistêmica organizacional que estrutura os perfis e os percursos de autoria de três professores de línguas que atuam em contextos de ensino diferentes: Adore, professora particular de inglês; Perseu, professor de espanhol, inglês e português no ensino fundamental de uma escola municipal; Paulo Gustavo, professor em um curso de Licenciatura em Letras/Espanhol de uma universidade federal. Na primeira fase da pesquisa, os participantes produziram textos escritos sobre suas histórias de autoria. Com base nesses textos, elaborei um primeiro ciclo de entrevistas com o intuito de aprofundar aspectos dos perfis e percursos de autoria de cada um. Na segunda fase, os professores compartilharam materiais didáticos de sua autoria, os quais, junto com os documentos obtidos na fase anterior, subsidiaram a elaboração de um segundo ciclo de entrevistas, focadas nas práticas autorais cotidianas desses docentes. Interpretei esses três tipos de autonarrativa (COSTA, 2021; COSTA e PICCININ, 2020) à luz da Análise Textual Discursiva (MORAES e GALIAZZI, 2011), metodologia que permite criar novas compreensões sobre um fenômeno as quais emergem da implementação de uma sequência interpretativa recursiva em três etapas: unitarização, categorização e metatexto. Como resultado, identifiquei que, nos casos de Adore, Perseu e Paulo Gustavo, a autoria enquanto saber docente complexo se comporta como um sistema que possui 5 agentes e/ou elementos centrais (professores, colegas, alunos, família e espaços de ensino), 4 saberes estruturantes (intencionalidade pedagógica, afetividade, criticidade e fluência tecnológico-pedagógica) e é regulado por 3 operadores (experiências de afeto e conflito (FONTANA, 2015), monitoramento reflexivo da ação (GIDDENS, 2003) e variáveis coletivas (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008)). Assim, os materiais didáticos elaborados são produtos de comportamentos complexos adaptativos (DAMINELI; SOUZA, 2008) que, durante o processo de socialização na profissão dos três professores, emergiram das interações deles com os demais agentes sistêmicos em diferentes espaços e tempos, reguladas pelos operadores dinâmicos mencionados. Concluo que um olhar complexo para a autoria docente permite enxergar o material didático não como obra acabada e desconectada de seu autor, mas como resultado de uma dinâmica complexa vivida pelos professores no desenvolvimento da sua profissão. Ainda, permite que se reconheça a importância, o potencial transformador e a legitimidade de materiais didáticos autorais, nos quais os docentes se projetam enquanto agentes de suas práticas. Isso tudo oferece subsídios para que se (re)pense uma formação docente que fomente espaços e práticas de autoria, incentivando a formação da identidade de seus futuros professores como autores.