Labirintos e segredos na narrativa de Juan Carlos Onetti : a saga de Santa María

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: GUEIROS, Antonio Márcio Monteiro
Orientador(a): CORDIVIOLA, Alfredo Adolfo
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Letras
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/49804
Resumo: O presente trabalho tem o propósito de escrutinar a narrativa de Juan Carlos Onetti, em particular o chamado ciclo de Santa María. O conjunto da obra onettiana é marcado por elementos e características atraentes e desafiadores, tais como: a intertextualidade – ou uma autorreferencialidade que, de tão intensa, beira uma proposta de obra literária total - , a metalinguagem – falamos de uma literatura que analisa a criação literária enquanto se cria – e a reescrita ficcional obsessiva sobre simulacros, dualidades e embustes; algo que já foi chamado jogo da impostura. Além deles, assoma-se uma proposta literária que questiona os limites entre realidade e imaginário, entre real e ficção, filiando-se, com convicção, no que o próprio autor denominava arte poética. A proposta deste estudo é a de trilhar o percurso de leitura das obras sanmarianas, passando pelos romances La vida breve, El astillero, Juntacadáveres, Dejemos hablar al viento e Cuando ya no importe, bem como pelas novelas Para una tumba sin nombre e La muerte y la niña, além de vários contos e relatos. Destaque-se que, com tal finalidade, precisamos analisar obras do autor que escapam ao universo de Santa María, mas que são incontornáveis, como as novelas El pozo e La cara de la desgracia. Na mesma direção, foram feitas incursões na correspondência de Onetti, em pinturas vanguardistas, em documentários e mapas descobertos durante a pesquisa. A plurivocidade de potenciais interpretações dos escritos do autor e a complexidade narrativa que se revelou demandaram abordagens muito distintas, por vezes até aparentemente cindidas, em cada paragem. Onetti é um escritor que dedicou a vida – mais de 60 anos dela, ao menos – para escrever uma ficção sobre a precariedade dos nossos discursos, personagens, histórias e narrativas; e o fez através da criação de discursos, personagens, histórias e narrativas tão precários quanto, mas com a clara consciência de sua condição. Trata-se de uma narrativa que se pretende total, mas elaborada sobre as faltas, as ausências, os mal-entendidos e as falhas. No curso do texto, portanto, buscamos, por um lado, uma investida profundamente teórica a respeito da díade clássico-barroco, da ficção em si e da análise de gêneros – em particular da novela – e, por outro, uma aproximação claramente ensaística, com uma miríade de paralelos que nos possibilitassem algumas compreensões de uma construção literária que traz a modernidade e as vanguardas para a literatura hispano-americana. Para tanto, dedicamo- nos longamente a analisar os textos do escritor à luz da literatura do final do século XIX (recorrendo a autores como Tolstói, Dostoiévski, Stevenson e Henry James), das vanguardas literárias do começo do século XX (com evidente destaque para Faulkner), da literatura rio-platense do período (com toda atenção para Arlt e Borges) e até mesmo da literatura contemporânea. Trata-se de um estudo que pretende abranger do princípio do corpus literário do autor, passando pela profusão narrativa que se pretendia infinita, até o seu romance testamentário e crepuscular. Uma trajetória dedicada a observar e discutir (nunca decifrar ou desvendar) os labirintos e segredos narrativos de uma obra que, mesmo depois de quase 30 anos da morte do autor, não deixa de se proliferar.