“Isso é doença ou é safadeza?” : sentidos sobre incesto em um grupo de diálogos com jovens da Região Metropolitana do Recife-PE

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: FALCÃO, Raissa Rodrigues
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
UFPE
Brasil
Programa de Pos Graduacao em Psicologia
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/19991
Resumo: O incesto, ainda que tabu não transcendental e/ou universal, mas sim contingente, é uma prática sexual muitas vezes silenciada como bem apontam alguns estudos sobre Sexualidade e Erotismo. A juventude é uma etapa da vida humana também culturalmente marcada por tensões ligadas à sexualidade. Dessa forma, este trabalho objetivou estudar os sentidos sobre o incesto construídos por jovens habitantes da Região Metropolitana do Recife. Tais jovens interlocutoras/es participaram de um grupo de formação chamado Ação Juvenil, ligado ao Projeto Diálogos para o Desenvolvimento Social em Suape. O grupo funcionava com o objetivo de trabalhar questões ligadas à sexualidade, violência de gênero, violência sexual, consumo abusivo de álcool e outras drogas e violência contra a mulher, uma vez que as vulnerabilidades sociais relacionadas a esses temas intensificaram-se na referida região desde a chegada da Refinaria Abreu e Lima. Dessa maneira, em formato de oficinas e a partir da perspectiva teórico metodológica do trabalho com grupos e epistemologia feminista, construímos um espaço que se mostrou privilegiado para lidar com questões ligadas à sexualidade e juventude. O método etnográfico inspirou a relação com o campo que tratou de maneira “espontânea” de aspectos sobre relações sexuais intrafamiliares. Os encontros foram vídeo-gravados, transcritos e posteriormente organizados em categorias analíticas temáticas. Assim, essas categorias foram marcadas pelos sentidos sobre o incesto trabalhados no grupo de jovens, que se atrelaram aos sentidos de abuso sexual intrafamiliar, de noções que questionaram as possibilidades de autonomia na infância e também de ideias ampliadas simbolicamente sobre violência, todas fortemente permeadas pelas desigualdades do sistema sexo/gênero, assim como as relações dentro do próprio grupo, também permeadas por essas desigualdades. Esses sentidos ligados ao incesto atravessados por ideias de violência ligadas às hierarquias de gênero produziram desdobramentos em outros sentidos sobre esse objeto. Esses outros sentidos estiveram, no entanto, pautados em um diferente registro ou sistema de ideias, mais ligados à ordem dos discursos de sexualidade e do erótico do que mesmo ao gênero propriamente dito, ainda que permeados por ele. Dessa forma, as demais categorias ligaram-se aos sentidos do incesto como vício em sexo, atrelados aos discursos científicos e religiosos sobre família e sexualidade, e de arranjos eróticos chamados de "safadezas" entre quem pode ou não pode fazer sexo. Assim, não só pelas relações de desigualdade, como também de possíveis subversões do sistema sexo/gênero atreladas ao marcador geracional juvenil trataram essas categorias. Por fim, o grupo funcionou a partir de sua propriedade interinventiva em que construímos processos marcados por multiplicidades de entradas e saídas, assemelhados a um rizoma, em que foi possível (res)situar os impasses e desenhar linhas de fuga para as relações e sentidos construídos na Pesquisa.