Nas ruas do labor : configuração do processo de trabalho de pessoas em situação de rua em Recife-Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: SILVA, Patrícia Marília Félix da
Orientador(a): MUTZENBERG, Remo
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso embargado
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Sociologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/38919
Resumo: A articulação entre desemprego, desigualdade socioeconômica e pobreza, característica do Brasil, tem perpetuado a precariedade no mundo do trabalho, com influências diretas nas pessoas em situação de rua, cujos trabalhos, embora informais, contribuem à acumulação capitalista, considerando o indissociável entrelaçamento entre o formal e o informal. A heterogeneidade dessas pessoas, expressa nos motivos para entrarem, permanecerem e saírem dessa condição, é perpassada pela linha comum da pobreza extrema, a qual as submete a precárias situações de vida, a exemplo da ausência de moradia regular e de dificuldades para garantir a alimentação e a higienização pessoal. Ainda que o desemprego seja uma das principais causas para esta situação, pois a renda advinda do trabalho tem sido o principal meio para satisfação de necessidades, essas pessoas trabalham, executando diversas atividades laborais na informalidade, conforme se verificou em Recife, no centro da cidade e em Boa Viagem. Assim, esta pesquisa analisou a configuração sociotécnica do processo de trabalho das pessoas em situação de rua em Recife-Brasil, especificamente os trabalhos em torno dos/as barraqueiros/as da praia de Boa Viagem e a catação de materiais recicláveis, considerando a relação entre essas atividades e a dinâmica geral de acumulação capitalista e os efeitos desse processo na identidade laboral desses/as trabalhadores/as. Os dados foram coletados através de entrevista, grupo focal, observação e fotografia. Estes trabalhos foram analisados com base na perspectiva epistêmico-metodológica delagarziana do “trabalho não clássico”, em articulação com o Configuracionismo Latino-americano, considerando que a dinâmica do processo de trabalho é influenciada tanto por estruturas quanto por aspectos subjetivos. Para tanto, esta investigação se baseou em três eixos analíticos: situação de rua, controle sobre o trabalho e identidade. Estes foram analiticamente articulados às dimensões da configuração sociotécnica, especificamente ao perfil da mão de obra, à organização laboral e às relações laborais. A partir do primeiro eixo, constatou-se que a situação de rua, e todos os aspectos que a envolvem, marcados pela pobreza, influenciam o processo de trabalho. A partir do segundo eixo, constatou-se uma multidimensionalidade no controle sobre o processo de trabalho. Quanto ao último, verificou-se que as pessoas em situação de rua se identificam como trabalhadoras e consideram suas atividades como um trabalho, num processo marcado pela ambiguidade e pela oposição. Portanto, a tese defendida é que a situação de rua, articulada aos outros eixos, impacta o processo de trabalho dessas pessoas, inclusive em como se percebem como trabalhadoras, formando uma configuração sociotécnica.