Intelectuais à pernambucana : a revista O Lyrio como espaço emancipatório da produção intelectual feminina no Recife (1902-1904)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: SILVA, Gilvânia Cândida da
Orientador(a): REZENDE, Antonio Paulo de Morais
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Historia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/39813
Resumo: O ano de 1902 encerrou-se deixando no ar um doce perfume floral. Numa época em que os discursos fundadores da República, da modernidade e do higienismo se mesclavam na massa orgânica que iria adubar o solo do Brasil, um grupo de mulheres resolveu que aquele era o momento de semear lírios. Era um jardim de ideias com diferentes cores, texturas e odores, versões distintas de um mesmo propósito: abrir espaços de participação e poder para as mulheres na sociedade brasileira da época. No dia 5 de novembro desse ano, o primeiro número d’O Lyrio ganhou vida através da Editora Imprensa Industrial. Mensalmente disponibilizada aos recifenses, a partir do segundo mês, a tarefa de impressão foi dada à tipografia do jornal A Província, que recriou um novo layout para a Revista. A nova marca permaneceu a mesma até junho de 1904, quando o último número saiu do prelo — totalizando 20 edições postas em circulação. Dito isso, o objetivo deste trabalho é entender a Revista enquanto plataforma de promoção de opiniões, exercício literário e espaço de ensaio para propostas e ideias acerca da emancipação intelectual feminina. Tarefa que se justifica, na medida em que, apesar de haver uma produção historiográfica expressiva sobre a inserção das mulheres, os aspectos ligados ao trabalho intelectual ainda carecem de mais investigação — sobretudo enquanto ocupação que contribuiu para a luta de emancipação e conquista de direitos civis femininos. Por essa razão, é crucial analisarmos o processo de escolarização e a coexistente ampliação do mercado editorial voltado para o público feminino. Assim, procuramos descrever a relação entre o aumento no número de leitoras e o alargamento das possibilidades profissionais dadas às mulheres, seja por sua maior instrução, e consequente adesão aos postos antes masculinos, seja pela criação de novas profissões. Para tanto, usufruímos como referencial teórico dos trabalhos de Sérgio Miceli, Michel Foucault, Joan Scott, Michelle Perrot, Alcileide Cabral, Marcus de Carvalho, bem como artigos, teses e dissertações de outros pesquisadores. Diante disso, nossa tese inicial presumia que esse periódico seria a fotografia de um tempo pré-modernista em que as mulheres escavavam o lugar social que seria usufruído, por exemplo, pelas sufragistas dos anos 1920. Felizmente, encontramos um pouco mais do que isso. Pois os textos d’O Lyrio demonstram que os ambientes político, social e cultural que culminaram nas décadas seguintes não só estavam praticamente prontos, como eram resultado de lutas ainda anteriores às daquelas mulheres.