Quando o destino me pisa,o barraco desliza: malandragem, trabalho e espiritualidade em Bezerra da Silva

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: NASCIMENTO, Vanessa Neto do
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
UFPE
Brasil
Programa de Pos Graduacao em Letras
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/19651
Resumo: Este trabalho se propõe a discutir os sentidos sobre a malandragem que atravessam o discurso de Bezerra da Silva, mais especificamente, sua produção musical, em dois períodos distintos: a fase malandra, tomada aqui na década de 80 e 90, e a gospel, no ano de 2005. Para tanto, vamos revisitar as condições sócio-históricas do que chamaremos Formação Discursiva da Malandragem, definida neste trabalho a partir de dois eixos condutores: o trabalho e a espiritualidade. Esse retorno à história permitiu-nos compreender como a mudança do regime colonial para o capitalista, no Rio de Janeiro, afetou diretamente a vida de centenas de ex-escravos e descendentes ao tentar afastá-los do centro da cidade e do contato com as camadas mais abastadas, não lhes garantindo as mínimas condições de vida. Nesse contexto surge um movimento de resistência dessa classe oprimida impulsionado pelo projeto de tornar a cidade “branca”, burguesa. Em virtude disso, entendemos inicialmente a malandragem no sentido de resistência a esses projetos, materializando-se na figura de um representante de uma classe negro-proletária que habita o imaginário nacional e que encontra no samba e na espiritualidade cantada a possibilidade de fuga da realidade a que é submetido, garantindo sua permanência no corpo social. Apoiados nos estudos da Análise de discurso de orientação pecheuxtiana, especialmente sobre a noção de formação discursiva e os conceitos a ela relacionados, procuramos delimitar o que definimos “FD da malandragem”, descrevendo os discursos sobre o trabalho e a espiritualidade que a atravessam e provocam deslizamentos de sentidos sobre o malandro e a malandragem . A delimitação dessa FD se mostrou necessária para que pudéssemos, a partir dela, verificar os deslocamentos que encontramos na produção de Bezerra da Silva com relação ao modo de compreender o malandro e a malandragem no morro, seja pelo viés do trabalho, seja na relação com a espiritualidade. Pelo viés do trabalho, temos deslizamentos de sentidos em relação ao malandro quando aparecem sujeitos que se relacionam com as drogas, seja como trabalho alternativo, seja em relação ao uso. No que diz respeito à espiritualidade, tem-se também deslizamentos de sentidos em relação à figura do pai de santo que procura ludibriar o outro para ganhar dinheiro, ao orixá pelo qual o sujeito clama e, na fase gospel, tem-se uma tentativa de afastamento do malandro tradicional e com a FD que o dominava, no intuito de romper com os sentidos sobre o malandro e a malandragem estabelecidos.