Nas trilhas das novelas de cavalaria portuguesas : reconfigurações formais no século XVI

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: SANTOS, Leticia Raiane dos
Orientador(a): VIEIRA, Anco Márcio Tenório
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Letras
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/55288
Resumo: A gênese da novela, para os historiadores da literatura portuguesa, como Maussaud Moisés (2012), Saraiva e Lopes (1975) e Fidelino Figueiredo (1960), encontra-se atrelada de modo exclusivo à Idade Média. Seguindo a mesma lógica, diversos estudos narratológicos escritos no Brasil e em Portugal atribuem à novela de cavalaria o papel de inaugurar, na literatura universal, a forma novelística. Contudo, pesquisas realizadas na Inglaterra, Espanha, França e Alemanha, por exemplo, desde 1960, já apontavam para origens de elementos formais e da novela propriamente dita desde a Antiguidade Clássica. Conforme Katherine Gittes (1991), gregos e romanos, do período clássico, exerceram influências na literatura europeia medieval, uma vez que a narrativa-moldura, basilar para o gênero novela, emerge de duas tradições literárias: uma ocidental, por meio da novela grega e romana clássica; e outra oriental, a partir de textos de caráter religioso indianos. Desde o seu surgimento, a novelística apresenta-se como uma forma mais popular e que possui maior maleabilidade formal e pôde transformar-se e readaptar-se ao longo dos anos. Assim, observamos que a novela de cavalaria sofre algumas alterações em sua composição ao longo do século XVI, apresentando novas temáticas, ciclos e modos de construção da narração (maior aprofundamento psicológico dos personagens; incursões em discursos líricos em meio à prosa; mescla entre verso e prosa; exaltação do povo luso, por meio de personagens representativos de seu caráter heroico inerente; entre outras coisas) não explorados no medievo. No entanto, essas transformações desse subgênero da novela não são observados apenas durante o Quinhentismo, uma vez que, desde o século XII, quando surge no Ocidente, a novela de cavalaria não emerge enquanto uma forma necessariamente acabada, pois emerge com uma escrita em verso, o Roman, passa por um processo de prosificação a partir do século XIII, no qual esse subgênero não só converte-se em prosa, mas herda alguns aspectos composicionais da historiografia medieval, como a inserção de um autor ficcional na narrativa, a súmula por capítulo e a preocupação da pormenorização dos eventos narrados no texto. Assim, a constituição da forma da novela de cavalaria é um processo não estanque, tendo em vista que o gênero novela em si possui maleabilidade formal desde os primeiros textos criados que se inseriram nesse tipo de tradição literária. O presente trabalho tem por objetivo apresentar as reconfigurações formais e os percursos da novela medieval lusitana do século XVI, a partir de obras como: Crônica do Imperador Clarimundo donde os Reis de Portugal descendem (1522), de João de Barros; Palmeirim de Inglaterra (1541-1543), de Francisco de Moraes; O Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda (1554), de Jorge Ferreira de Vasconcellos; e Crônica de Dom Duardos (1580), de Dom Gonçalo Coutinho. A partir de uma análise destes livros, buscaremos apresentar como e por meio de que mecanismos narrativos as novelas de cavalaria reconfiguram-se e transformam-se, assumindo uma forma distinta da que comumente encontramos no período medieval.