Da fome à estética: itinerário cinematográfico da ASCOFAM e o nordeste do Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: LIRA, Augusto César Gomes de
Orientador(a): TEIXEIRA, Flávio Weinstein
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Historia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/22220
Resumo: No ano de 1957, foi instituída no Brasil uma sucursal latino-americana da Associação Mundial de Luta Contra a Fome (ASCOFAM), entidade de caráter internacional com sede legal e estatutos depositados em Genebra – Suíça. A Associação tinha como objetivo capitalizar recursos para o desenvolvimento econômico de áreas consideradas de extrema pobreza. No Brasil, ela situara suas ações na região Nordeste, declarada na época, um caso exemplo de área subdesenvolvida, de onde também se observava um quadro dramático de fome endêmica com maior incidência em sua população rural. Um programa de abastecimento alimentar foi elaborado pela Associação para a região, e como parte promocional de sua campanha, busca fazer uso do cinema como instrumento de difusão ideológica e propaganda institucional. Contribuem para estabelecer as bases deste empreendimento: os italianos Cesare Zavattini e Roberto Rossellini, conhecidos realizadores do chamado “cinema neorrealista” italiano, tendência estética que ajudou a fixar as linhas de percepção da cinematografia moderna, tendo durante a década de 1950 servido de modelo para a produção independente nacional, hoje identificada como Proto-Cinema Novo. O projeto fílmico da ASCOFAM, que tinha o Nordeste como um de seus roteiros, ganha amplo debate na imprensa nacional. Sua emergência se dá nos anos áureos do “Programa de Integração Nacional” impulsionado pelo então presidente da República, Juscelino Kubitschek. A definição de um “Plano de Metas” sob o slogan “cinquenta anos em cinco”, com o qual Kubitscheck buscou legitimar a construção da nova capital – Brasília – e o seu programa de industrialização voltado para o centro-sul do país, contribuiu para que o Nordeste fosse identificado como um fato antagônico, símbolo do atraso, em contraste com outras regiões do país. Uma luta por classificações eclode no âmbito político e o lugar que a região deveria ocupar dentro da nova dinâmica de modernização do país ganha fórum privilegiado, sobretudo, após o longo período de estiagem que acometeu o Nordeste no ano de 1958, produzindo êxodos, mendicância e mortes por inanição. No mesmo ano, a ASCOFAM lança um filme intitulado “O Drama das Secas”. A película denunciava todo este desajuste social fixado na região, dando pulso a uma campanha nacional de resgate de sua economia sob o argumento das aptidões institucionais da associação. Esta dissertação busca analisar como este “microclima” de opinião promovido pela ASCOFAM, através de seu projeto cinematográfico, transforma-se numa zona cultural de maior dimensão social e acaba por influir nos acontecimentos da vida nacional como um importante dado político.