Nominações, vozes e pontos de vista sobre a loucura na e pela mídia: da reforma psiquiátrica ao boom das doenças mentais

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: CORDEIRO, Rafaela Queiroz Ferreira
Orientador(a): CUNHA, Dóris de Arruda Carneiro da
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Letras
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/24983
Resumo: Desde a eclosão da reforma psiquiátrica até hoje, observamos, na mídia, uma atribuição de diversos nomes para variadas “doenças mentais”, a invenção de outras e uma medicalização da vida que é cada vez mais exibida. Ora, as palavras revelam muito daquele que diz. Desse modo, esta tese tem por objetivo estudar a construção discursiva da/sobre a loucura na e pela mídia, a partir da análise da circulação de nominações que dizem o sujeito louco, doente, em surto, com transtorno. Para isso, partimos de três hipóteses: i) a circulação de uma variedade de nominações da psicopatologia na mídia não implica um rompimento com os pontos de vista dominantes de outrora sobre a “doença mental”; ii) a circulação das nominações revela um embate entre vozes sociais e pontos de vista; iii) a circulação das nominações psicopatológicas na mídia constroem dialogicamente múltiplos sentidos, podendo haver pontos em comum na leitura. Tal estudo teve por base a triangulação do corpus a partir de três questões, referentes a três esferas discursivas tomadas pela mídia para noticiar acontecimentos: a da política, a do cotidiano (policial) e a da saúde. As questões que nos guiaram foram: i) como se constroem e se defendem diferentes pontos de vista sobre a loucura na mídia, a partir do contexto da reforma psiquiátrica?; ii) como é representado discursivamente o sujeito ora nominado como louco, doente mental, em surto, com algum transtorno, distúrbio, criminoso?; iii) como a circulação das nominações da esfera psicopatológica na mídia representa discursivamente os sujeitos? Cada questionamento busca investigar a construção discursiva sobre a chamada loucura e/ou doença mental em diversos acontecimentos por meio das noções: nominação, vozes e pontos de vista. O corpus foi, assim, recortado a partir dessas esferas discursivas, pois os discursos produzidos em torno da loucura/doença parecem circular nelas com mais frequência. Para fundamentação teórica, retomamos estudos de Bakhtin (1993b, 2015) e Volochínov (1926, 1930) sobre a linguagem, de Siblot (1998, 2007) e Moirand (2007a, 2009a) sobre o ato de nominar, de Bakhtin (2005) e Authier-Revuz (2004b, 2007) sobre as vozes, de Bakhtin (2003c) e François (2012a, 2012b) sobre o ponto de vista, de Foucault (1979c, 2010c, 2012b) sobre a loucura e as relações de poder, de Lacan (1985, 1998b) sobre o desejo e o gozo, entre outros. Além de nominação, vozes e ponto de vista, as noções de memória (BAKHTIN, 2003c; PÊCHEUX, 1999), representação do discurso outro (AUTHIER-REVUZ, 2015), entre outras, foram retomadas, uma vez que o ato de dar nome leva-nos a investigar sobre os sentidos construídos e as práticas discursivas representadas. Dentre alguns resultados, observamos que o uso de determinadas palavras, como distúrbio ou transtorno ao invés de loucura e doença mental, pode interferir na forma que os sujeitos recebem os objetos do discurso; a convocação de vozes, como a da polícia, para falar sobre crimes, se dá num processo de hibridização com a da psiquiatria; o ponto de vista é dinâmico, sua construção ocorre ao longo do tempo e espaço, e ele não é representado necessariamente num único direcionamento valorativo.