Alterações laboratoriais e histopatológicas renais associadas à febre chikungunya

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: COSTA, Denise Maria do Nascimento
Orientador(a): SILVEIRA, Vera Magalhães da
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Medicina Tropical
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/45452
Resumo: A febre chikungunya foi detectada pela primeira vez no Brasil em 2014, causando uma epidemia subsequente. Além de febre e dor articular, a febre chikungunya pode apresentar-se com formas atípicas, incluindo manifestações renais. A lesão renal relacionada ao vírus chikungunya tem incidência extremamente variável a depender da população avaliada, acometendo de 0,6 a 79% dos pacientes, podendo estar relacionada a alta morbidade e mortalidade. Entretanto, foi apenas descrita em fase aguda da infecção e ainda carece de melhor caracterização. Assim, o objetivo desse estudo foi avaliar a ocorrência de lesão renal e investigar a presença de material viral no tecido renal de pacientes afetados por febre chikungunya em diferentes estágios da infecção. Tratou-se de um estudo exploratório, conduzido entre 2018 e 2020, em seis hospitais universitários do Brasil. Dois grupos de pacientes foram avaliados: o primeiro foi composto por pacientes com lesão renal estabelecida após febre chikungunya e comprovada por biópsia; o segundo, pacientes com manifestações crônicas articulares pós-chikungunya, sem lesão renal conhecida. Lesão renal foi investigada através da análise da creatinina sérica e exames urinários para detecção de hematúria e proteinúria, sendo indicada biópsia renal conforme protocolo habitual dos serviços. Partículas e antígenos do vírus chikungunya foram analisados no tecido renal através de imunohistoquímica, e microscopia eletrônica. No primeiro grupo, 15 pacientes com mediana de idade de 32 anos (IQR 17,5 - 41) tiveram lesão renal estabelecida entre 15 dias e 24 meses após CHIK. Creatinina sérica inicial variou de 0,2 a 22,3 mg/dl (mediana 1,2 mg/dl; IQR 1,0 - 5,6), e proteinúria e hematúria foram detectadas em 100% e 80% dos pacientes, respectivamente. Não foram detectados materiais virais no tecido renal. Os achados histopatológicos mais frequentes foram podocitopatias, além de nefrite lúpica classe IV, glomerulonefrite crescêntica, microangiopatia trombótica e nefropatia membranosa. Alelos de risco para desenvolvimento de síndrome hemolítico-urêmica atípica, glomeruloesclerose segmentar focal e glomerulopatia colapsante foram detectados em cinco dos sete pacientes com esses diagnósticos. Após seguimento mediano de 12 meses, houve progressão para doença renal crônica em 60% dos casos, sendo dois deles dependentes de diálise. No segundo grupo, 114 pacientes sem lesão renal conhecida e com manifestações crônicas pós-chikungunya foram avaliados quanto a marcadores de lesão renal de forma transversal. A média de idade foi 56,2 ± 11 anos e o diagnóstico da infecção havia ocorrido cerca de 35,6 meses antes da avaliação. A média de creatinina foi 0.9 ± 0,2 mg/dl e de proteinúria 71,5 ± 37,5 mg/dia. Hematúria não glomerular foi detectada em um dos pacientes. Nenhum desses pacientes apresentou critérios para indicação de biópsia renal, conforme protocolo do serviço. Em conclusão, nossos achados revelam o potencial do vírus chikungunya de desencadear lesões renais com diferentes graus de severidade. Entretanto, a hipótese de que o vírus pode se replicar a longo prazo no tecido renal, nos parece improvável.