Relações socioeconômicas e consequências ecológicas da utilização de plantas por populações tradicionais no sertão pernambucano

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: SPECHT, Maria Joana da Silva
Orientador(a): SANTOS, Bráulio Almeida
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Biologia Vegetal
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/33436
Resumo: Esta tese teve como objetivo investigar os determinantes de uso das espécies vegetais por populações rurais e as implicações ecológicas deste uso para a manutenção da biodiversidade de florestas secas utilizando a Caatinga como modelo de sistema socioecológico. Inicialmente apresentamos uma introdução ao tema discutindo sobre a importância biológica, socioeconômica e status de conservação das florestas secas e porquê estudá-las. Também levantamos informações sobre os impactos socioeconômicos das mudanças climáticas e das áreas protegidas sobre populações locais e sobre como a Caatinga representa um bom modelo para estudos socioecológicos e etnoecológicos em florestas secas. Utilizamos para a elaboração dos dois capítulos desta tese dados provenientes de 81 entrevistas semiestruturadas realizadas entre janeiro e julho de 2016 com moradores do Parque Nacional Catimbau e entorno para avaliar variáveis socioeconômicas, de gerenciamento de recursos e de uso do solo. No primeiro capítulo, nossos resultados mostram que as pessoas que vivem dentro do parque estavam enfrentando piores condições socioeconômicas, incluindo disponibilidade de água mais limitada, pior infraestrutura das casas, menor renda familiar e alta dependência de lenha, quando comparadas com famílias que viviam fora ou em condição de moradia dupla (dentro e fora dos limites do parque). As famílias que vivem dentro do parque estão estagnadas em um ciclo de dependência do apoio financeiro externo por programas de renda mínima e exploração de recursos naturais, com manejo ineficiente de terras e com cera de 76% vivendo abaixo da linha de pobreza com poucas oportunidades de mudança de cenário. No segundo capítulo, descobrimos que as famílias de baixa renda usavam mais espécies nativas coletadas de áreas naturais que famílias de renda mais alta. Famílias com mais disponibilidade de adultos para trabalho agrícola e famílias mais educadas usavam mais espécies de áreas florestais, indicando maior potencial para explorar a floresta. Além disso, encontramos um sinal filogenético nas categorias de alimentos e lenha, mostrando que as pessoas tendem a usar espécies estreitamente relacionadas nessas categorias. Nossos resultados mostram que a pobreza é um importante fator socioeconômico que impulsiona a intensificação do uso de espécies nativas. Essas atividades podem levar à perda da história evolutiva da comunidade vegetal por sobre-exploração, porque o padrão de seleção de plantas úteis pelas comunidades tradicionais de alimentos e lenha não é distribuído aleatoriamente sobre a filogenia. Os resultados desta tese demonstram que as relações entre uso de plantas por seres humanos e a conservação da biodiversidade na Caatinga não podem ser negligenciadas especialmente quando as populações humanas estão em situação de pobreza e irregularidade fundiária dentro de Unidades de Conservação. Estas situações conferem efeitos negativos importantes à flora local atual e pode gerar implicações na história evolutiva de clados. Dessa forma, estratégias de manejo que conciliem o uso dessas florestas e a manutenção da biodiversidade da Caatinga e dos modos de vida tradicionais são urgentes.