Resiliência integral: um caminho de possibilidades para formação humana de futuros docentes

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: BRASIL, Tatiana Lima
Orientador(a): FERREIRA, Aurino Lima
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Educacao
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/34274
Resumo: A resiliência enquanto fenômeno humano ganhou espaço na agenda do debate educacional contemporâneo, aparecendo como possibilidade de favorecer o processo de formação humana integral. Esta tese buscou compreender como a relação entre os quadrantes de Wilber, a resiliência e o reconhecimento podem favorecer a ampliação e o direcionamento a uma formação humana integral de futuros docentes, a partir da investigação de uma proposta formativa voltada para promoção de resiliência no intuito de apresentar suas contribuições para o processo de formação humana. Este trabalho situa-se no campo da abordagem qualitativa de base fenomenológica, interacionista e construcionista e faz uso da Metodologia de Análise de Redes do Cotidiano (MARES) para acessar o fenômeno. Durante quinze encontros, de quatro horas cada, investigamos um grupo de vinte e cinco participantes utilizando observação participante, mapas de rede, diário de gratidão e proposta formativa. Do total de participantes foram escolhidos dois que apresentaram maior índice de resiliência e dois com menor índice para entrevista em profundidade. A proposta formativa teve como objetivo nos proporcionar condições de elaborar o conceito de resiliência integral e suas contribuições para o processo de formação humana integral de futuros docentes. Tecemos a partir dos encontros as relações das possíveis contribuições da resiliência integral para a finalidade da educação compreendida como formação humana. A análise de campo desdobrou-se em uma descrição dos encontros interventivos, indicando a potencialidade da resiliência, bem como do reconhecimento de si a partir de uma proposta formativa cunhada nos quadrantes de Wilber e na teoria do reconhecimento de Honneth, visando fazer as possíveis relações entre as temáticas e suas contribuições no processo de formação humana integral. As entrevistas foram analisadas lexometricamente através do software Iramuteq e categorizadas conforme Bicudo em doze categorias abertas. 1) Enfrentamento: esforços comportamentais e cognitivos voltados ao manejo de um acontecimento; aprender a lidar com as adversidades, tornando-se mais suscetível para encarrar o enfrentamento, mais seguro e por vez com mais características resilientes. 2) Transformação cooperativa: movimento e necessidade de mudar; os participantes relatam que sentem os processos que implicam principalmente a formação formal dentro da instituição, ainda muito engessados, compilados por normatizações e regras muito duras, onde algumas vezes o pensar parece ser ruim. 3) Possibilidades ampliadas: o desvelar dos fenômenos nos processos de formação humana, porém não apenas deixando que emerjam, mas sim olhando de modo transformativo, onde o velho perde um pouco da força e dá lugar a um novo, com modos diferentes de não mais assujeitamento, e sim de rompimentos de barreiras propiciando o crescimento. 4) Compreensão e aprendizagem: compreensão não deve ser tida como algo permissivo, banalizando o processo de aprendizagem ou coisas semelhantes, e sim uma possibilidade de o outro vir-a-ser sujeito em todas as dimensões. 5) Superação e integração: indicativo de ação e movimento; ideia de ultrapassar barreiras, enfrentar problemas, ir além de crises e obstáculos, superar; não é apenas o movimento de passar sobre, alcançar o resultado apenas, e sim de aprender com a situação, problema, adversidade enfrentada, vez que o simples fato de alcançar o objetivo/resultado não implica um aprendizado, por isso propomos a integração, como forma de apreensão do vivenciado. 6) Ruptura dimensional: promoção em si de deslocamento e ruptura de padrões cristalizados em prol de um novo, de uma nova construção capaz de incluir outros fatores que antes talvez não se fizessem presentes no âmbito social, educacional, emocional, psicológico. 7) Cuidado de si: trabalhar-se, construir-se, reconstruir-se, inventar e reinventar a si próprio; assumir-se em seu projeto singular de existência. 8) Empoderamento: um processo individual e coletivo cujo objetivo é ajudar os sujeitos a conduzirem as suas vidas e também a se emanciparem; uma tomada de consciência crítica com o engajamento crítico e político dos indivíduos e dos grupos; o poder de ser e tomar suas decisões, ser dono de suas escolhas sendo capaz de sustentá-las e brigar por elas. 9) Reconhecimento em si: ideais da cidadania e do exercício democrático e na responsabilidade pelo futuro, buscando olhar de maneira integral para o sujeito, possibilitando-o e a si mesmo um caminho de aprendizados, observação de valores, cultura, limitações, potencialidades e capacidades múltiplas. 10) Estima e acolhimentos. 11) Autenticidade: livre de máscaras e genuinamente sincera: nesse tipo de relação, professores e alunos têm a liberdade de se expressar, sem censura ou condições, de modo que ambas as partes tenham condições de identificar pelas emoções do outro as ressonâncias e os limites de seu próprio “eu”. 12) Formação integral: o caminho proposto para o desenvolvimento da prática educativa que integre a complexidade humana, a partir da inclusão de práticas e exercícios e reflexões que contemplem e valorizem cada dimensão, inclusive a espiritual, assumindo um contexto integral e consequentemente uma abertura, um novo olhar frente à profissão escolhida e ao seu papel quanto educador. Os participantes assumem em suas falas a noção de resiliência já em uma perspectiva mais integral, contendo os elementos dos quatro quadrantes de Wilber, fora do escopo salvacionista e de resolubilidade total dos problemas. Podemos encarar a relação entre resiliência e reconhecimento como uma forma de luta e resistência às mais diversas formas de sofrimento, uma possibilidade de fazer diferente. Indicamos a necessidade de mais estudos sobre a promoção de resiliência integral no campo educacional, no intuito de possibilitar uma melhor qualidade de vida pessoal e profissional dos educadores, auxiliando na diminuição do sofrimento e adoecimento no exercício da docência.