Pobreza e identidades humilhadas: processos de significação relacionados ao uso de crack

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: ACIOLI NETO, Manoel de Lima
Orientador(a): SANTOS, Maria de Fátima de Souza
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Psicologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/29643
Resumo: O objetivo dessa tese foi analisar os processos de significação relacionados ao uso de crack no Brasil, a partir de dimensões macro e microssociais. A proposta foi investigar inicialmente os contextos de significação que inserem essa droga enquanto objeto de preocupação pública. Em seguida, analisou-se como esse objeto social é concebido como pertencimento a usuários de crack inseridos em uma condição de pobreza. Para alcançar os objetivos propostos, a tese foi dividida em três estudos. O primeiro abordou a produção midiática sobre o campo das drogas, com o intuito de analisar como diferentes substâncias psicoativas foram representadas a partir de determinados marcos históricos. Os resultados indicam que ao se conformar uma substância com o rótulo de droga, instituem-se sentidos relativos a uma noção de ameaça social e contágio. O segundo estudo tratou da legislação sobre drogas vigente no Brasil. Partiu-se do pressuposto que são esses documentos que prescrevem as normas e as práticas direcionadas a esses sujeitos, sinalizando o modo como os usuários de drogas são concebidos no campo social. Destacam-se como resultados a indiferenciação entre usuário, dependente e traficante e a marca da droga como fenômeno a ser eliminado da sociedade. Por fim, foram realizados três grupos focais com usuários de crack, tendo como objetivo analisar a representação da pobreza e da experiência de viver com a desigualdade social. A partir desse estudo foi analisado como a pobreza é representada, sendo rejeitada como status de valorização social. Em contrapartida, os usuários entrevistados sinalizam para um quadro diferencial entre suas experiências de vida, delimitando dois universos simbólicos: a favela e os bairros nobres. Com essa distinção, surge o preconceito que vivenciam do “lado de fora” da favela e o sentimento de humilhação e ódio. Esses sentimentos aparecem como elementos fortemente articulados com a construção de suas identidades e com a rejeição de serem enquadrados enquanto figuras de alteridade. Como consequência, os resultados apontam o papel dos afetos na regulação das normas instituídas nesse contexto e das práticas sociais desempenhadas. Desse modo, a dimensão ética analisada indica que o sentido de vida que circunscreve as experiências desses sujeitos é a de buscar a inclusão no meio social o que se articula com a dimensão moral da inserção da criminalidade, destacada como um furo no sistema de exclusão que foram inseridos. Nesse contexto, os afetos atuam como mediadores dessas duas dimensões, regulando as práticas e representações instituídas em seus contextos de pertença.