Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2002 |
Autor(a) principal: |
RODRIGUES, Lucila Nogueira |
Orientador(a): |
LICARI, Luzilá Gonçalves |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
|
Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Pernambuco
|
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
|
Departamento: |
Não Informado pela instituição
|
País: |
Não Informado pela instituição
|
Palavras-chave em Português: |
|
Link de acesso: |
https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/7638
|
Resumo: |
Este trabalho tem por finalidade a exegese de uma obra que, apesar de responsável pela consagração nacional e internacional de seu autor, tem sido pouco considerada, quer pelo fato da intertextualidade presente em seus versos, quer pelo seu contraste com relação às demais obras de vanguarda cabralinas, em que a inovação formal de cunho metalingüístico oferece a tônica essencial. A análise aqui desenvolvida integra as perspectivas ideológica/mítica/utópica, destacando o pensamento e a estética realistas do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, contextualizados em interlocuções com outros intelectuais que, em sua época, também denunciaram o desamparo dos retirantes, como Graciliano Ramos e Cândido Portinari; além de autores que se indignaram contra a miséria no campo (Francisco Julião) e no mangue (Josué de Castro). Na seqüência, resultam pertinentes as meditações sobre o primeiro livro do tríptico do rio, O Cão sem Plumas, o qual, em sua estrutura ainda com elementos surrealistas, evolui em alegorias de fome e lama, vida curta e estagnada dos homens da maré, expressa em metáforas decompostas e reagrupadas de modo similar à figuração trencadis com que o poeta conviveu ao tempo em que serviu como cônsul em Barcelona, onde o livro foi por ele editado em impressora artesanal. A opção de Cabral pelo romanceiro para relatar o êxodo de Severino desde o Sertão até à capital pernambucana esclarece perspectivas ligadas ao coronelato do Sertão, à defesa da Reforma Agrária no campo, à denúncia da mortalidade dos severinos enquanto transcorre a festa do nascimento de Cristo: daí tratar-se o auto de Natal de uma verdadeira via-crucis a condenar um sistema de governo que permite essa afronta à vida humana: passa-se a exaltar as excelências das lapinhas de lama nos mocambos e palafitas, em sua forma não camuflada da vida. A análise ora proposta da obra cabralina evidencia que a lição de cidadania em tom brechtiano enunciada por Severino no Auto de Natal Pernambucano é uma crítica dotada de exemplaridade ao sistema capitalista que reífica e aliena o homem/severino do Nordeste; Morte e Vida Severina representa no plano da linguagem dramática e poética uma utopia libertária da qual participavam os estudantes e demais segmentos da comunidade nos anos cinqüenta e sessenta e que hoje prossegue transfigurada quer pela iniciativa oficial de um Ministério do Desenvolvimento Agrário, quer pela face alternativa do Movimento dos Sem-Terra, do qual Severino, com a inocência de um Cândido e a determinação de um Quixote, continua sendo uma referência a emocionar leitores/espectadores em seu calvário/natalino. Se a opção pelo auto faz notar a homenagem prestada à cultura ibérica, a inserção do pastoril dentro do auto denota a adesão cabralina a um projeto de extensão da cultura, ao contrário de seus outros livros voltados à elevação da cultura, os quais têm sido objeto de abordagens acadêmicas igualmente elevadas e sucessivas. Finalmente, este Cordão Encarnado, ao contextualizar nacional, regional e municipalmente o Auto de Natal Pernambucano, procura oferecer à Universidade Brasileira uma leitura Severina em que o discurso acadêmico surja articulado com o fundamento e a raiz de uma poesia como a cabralina, profundamente identificada com os mapas e percursos de sua terra, regional e universalmente definida |