Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2006 |
Autor(a) principal: |
PEREIRA, Patrícia Freitas
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Orientador(a): |
COSTA, Marcondes Lima da
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Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal do Pará
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Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica
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Departamento: |
Instituto de Geociências
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País: |
Brasil
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Palavras-chave em Português: |
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Área do conhecimento CNPq: |
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Link de acesso: |
http://repositorio.ufpa.br:8080/jspui/handle/2011/14700
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Resumo: |
O Estado do Acre está situado no extremo sudoeste da Amazônia brasileira. E o seu território, em mais de 80%, é coberto por rochas da Formação Solimões que é constituída predominantemente por rochas sedimentares silticas argilosas fossilíferas, intercaladas por arenitos finos, e tiveram como fontes os terrenos dos contrafortes andinos. No estado do Acre existem manchas de solos de boa fertilidade, com maior concentrações em sua região central (Feijó-Tarauacá). No entanto é notável que alguns cultivares se desenvolvem em tamanho exagerado como banana (banana comprida), melancia e principalmente o abacaxi “gigante de Tarauacá”, sem adubos ou fertilizantes, e apenas em algumas áreas específicas dessa região central, insinuando uma maior fertilidade, a julgar pelos 15kg que chegam a pesar os abacaxis gigantes. Essa fertilidade é também reconhecida nos sedimentos de praia (barra em pontal) dos rios que drenam o Estado do Acre. O presente trabalho tem assim objetivo o estudo da fertilidade dos solos da região Feijó-Tarauacá, sua origem e relação com os sedimentos de fonte sub-andinas transportados e redepositados pelo sistema fluvial ao tempo da Formação Solimões. Para a concretização deste estudo foram selecionadas 18 pontos de amostragem de solo com coletas de amostras em dois intervalos de profundidade (0-10 e 10-20cm), sendo oito pontos em áreas de roçado de abacaxi “gigante de Tarauacá” na Colônia Treze de Maio, 7 pontos ao longo da BR-364 no trecho Feijó-Tarauacá, 2 em área de mata virgem próximo a Tarauacá e 1 no roçado de abacaxi roxo nas proximidades de Feijó no sítio Coração de Jesus. Foi coletado também um abacaxi gigante desenvolvido no referido roçado. Na rede fluvial foram coletadas amostras de água, sedimento em suspensão e sedimento de fundo em 9 pontos de amostragem ao longo das micro-bacias de Tarauacá e Envira limitando-se à região Tarauacá-Feijó-Envira. As análises de solo consistiram de separação granulométrica (areia, silte e argila); determinação mineralógica por difração de raio-x (DRX); composição química (elementos maiores, traço e terras raras, por ICP-MS) e determinação de nutrientes (P, Mg, Ca, K, Fe, Mn, Cu e Zn) bem como Al disponível, e matéria orgânica. No abacaxi gigante foram determinados Ca, Mg, P, Na, K, Fe, Mn, Cu, Zn e Hg. As águas foram submetidas à análise de parâmetros físico-químicos in situ (pH, temperatura, STS, TDS, turbidez, transparência, cloreto, sulfato, fosfato, amônia, nitrito, nitrato, e determinação de metais dissolvidos em ICP-MS. Nos sedimentos em suspensão também foram determinados em ICP-MS os metais adsorvidos). Os sedimentos de fundo foram submetidos à análise de nutrientes. Os resultados obtidos demonstram que os solos da região Feijó-Tarauacá são rasos com pequeno desenvolvimento pedogenético onde seus horizontes se confundem facilmente com siltitos e argilitos inconsolidados de sua rocha fonte. São predominantemente silto-argilosos, e suas variações permitiram distinguir três agrupamentos: 1- silto-argilosos com teor de areia fina entre 4 e 20%; 2- areno-siltoargilosos; e 3- silto-argilosos com até 4% de areia fina. Todos os solos da Colônia Treze de Maio, onde são cultivados os abacaxis “Gigantes de Tarauacá” correspondem ao agrupamento 1. A mineralogia dominante nos solos-sedimentos estudados está representada por esmectita (33 a 61%) e quartzo (21 e 34%) seguidos de illita, caulinita, pouca albita e microclínio e às vezes calcita. Os solos da Colônia Treze de Maio apresentam os maiores conteúdos médios de esmectita e quartzo. A análise química revelou que estes solos-sedimentos são constituídos principalmente de SiO2 e Al2O3, além de Fe2O3, seguidos de K2O, CaO, e MgO compatíveis com a mineralogia, e o elevado conteúdo de SiO2 relaciona-se, ao conteúdo de quartzo, e quando aliado ao Al2O3 reflete também a abundância de argilominerais, principalmente as esmectitas. Os solos da Colônia Treze de Maio apresentaram teores de MnO, CaO e P2O5 consideravelmente mais elevados. A normalização com a crosta terrestre superior revela que os solos-sedimentos estudados se mostram empobrecidos em MgO, CaO, Na2O, K2O e P2O5; enriquecidos em TiO2; se equivalem em SiO2, Al2O3 e Fe2O3; e se mostram ainda enriquecido em MnO apenas nas amostras de solo da Colônia Treze de Maio. Quando normalizados com os folhelhos austrialianos pós-arqueanos-PAAS os solos-sedimentos se equivalem em CaO e SiO2 e se mantêm enriquecidos em MnO nas amostras de solo da Colônia Treze de Maio, se mostrando empobrecidos nos demais elementos. Quando comparados com os solos região central da Amazônia, os solos-sedimentos da região Feijó-Tarauacá encontram-se enriquecidos em MgO, CaO, Na2O, K2O, Fe2O3 e MnO e equiparáveis nos demais óxidos. O índice de alteração química (IAQ) indica solos-sedimentos pouco alterados, ligeiramente superior aos dos sedimentos de praia do Acre e dos rios Maranõn-Solimões, mas equiparáveis aos IAQ de esmectitas provavelmente devido as altas concentrações desse argilomineral no material de estudo. As análises de fertilidade revelaram concentrações elevadas de K, Ca, Mg, Fe, Mn e Zn, valores médios a altos de P, e valores médios de matéria orgânica, mostrando que esses solos-sedimentos apresentam elevada capacidade de troca catiônica (CTC), saturação por base acima de 75% e baixa saturação por Al. Contudo os solos da Colônia Treze de Maio se destacam dos demais por apresentarem um padrão de fertilidade superior, mesmo após os cultivos sucessivos de milho, arroz e abacaxi gigante. Este alto padrão de fertilidade sugere que apesar de já constatadas manchas férteis de solo na região do Acre, mais precisamente na região Feijó-Tarauacá, de fato existem nessa região, inseridas nas manchas maiores, “micromanchas” de solos com fertilidade ainda maior. Essas “micro-manchas” são do conhecimento empírico de pequenos agricultores que conseguem distingui-las das demais regiões de menor grau de fertilidade, cultivando banana, milho, arroz, feijão e os exuberantes abacaxis “Gigantes de Tarauacá”. A origem da fertilidade da região Feijó-Tarauacá está intrinsecamente relacionada com as características geológicas distintas da região, que por sua vez estão relacionadas, possivelmente com as variações nos processos de deposição ao tempo da Formação Solimões, principalmente com a mineralogia rica em argilominerais 2:1 como as esmectitas, mais abundantes nos solos de plantação de abacaxi gigante, sendo as principais responsáveis pelos altos valores de CTC dos solos, já que esses não são tão ricos em matéria orgânica. O exemplar de “abacaxi gigante” analisado pesou 4 vezes mais que um abacaxi comercial. O pH da polpa foi de 4,1. Seu conteúdo nutricional parcial revelou altos teores de elementos químicos nas três partes do abacaxi analisado (casca, polpa e miolo), sendo que a casca concentrou a maioria dos elementos, apresentando a seguinte ordem K> P> Ca> Mg> Mn> Na> Fe > Zn >Cu. Quando comparados com os abacaxis consumidos na Colômbia e no México, observa-se que apenas os teores de Na e Mg do abacaxi “gigante de Tarauacá” se encontram na média para os outros abacaxis, os demais elementos são consideravelmente maiores, com destaque ao P que é 22 vezes maior que o do abacaxi da Colômbia, e ao Mn que é 18 vezes maior que o do abacaxi do México. Os teores médios de Hg (55 ppb) dos solos estudados se encontram abaixo da média mundial, porém é o dobro da média encontrada para os sedimentos de praia dos rios Envira, Tarauacá e Juruá, já os teores de Hg (6 a 16ppb) no abacaxi gigante se assemelham aos de folhas e grãos de feijão cultivados nessas praias. Os altos teores de Mn disponíveis nos solos e no abacaxi gigante sugerem que este contribua juntamente com K e P, para o crescimento exagerado dos cultivares plantados nos solos das “micro-manchas”. A riqueza de nutrientes dos solos de terra firme da região Feijó-Tarauacá também foi observada nos rios que drenam essa região. Os sedimentos de fundo do rio Envira se mostraram mais rico em nutrientes que os do rio Tarauacá demonstrando que as terras da formação Solimões drenadas pelo rio Envira parecem ser mais ricas em nutrientes. As águas fluviais no período de enchente (inverno) se enriquecem em material inorgânico em suspensão com até 8 vezes mais do que no período de estiagem (verão), o contrário acontece com o total de sólidos dissolvidos (STD), com 3 vezes mais STD no período de estiagem. Os teores de metais disponíveis nos sedimentos em suspensão são em ordem decrescente Fe, Al, Mg, Mn, Na, Ti, Ba, Zn, Sr, Cu, B, Li, Sn, Pb, Rb, etc, (Ca e K não foram analisados). Os menores teores desses elementos se concentraram no rio Jurupari, afluente do Envira, com exceção do Se, Sn, Rb, Sb, Cs. Esses suspensatos são relativamente ricos em macro e micronutrientes explicando a mineralogia das águas fluviais e em conjunto a fertilidade das praias e, por conseguinte mostrando que os sedimentos da Formação Solimões são de fato a principal fonte de fertilidade dos atuais corpos praianos e de planície de inundação do Acre, como também dos sedimentos de terra firme, onde estão sendo cultivados os abacaxis “Gigantes de Tarauacá”, entre outros cultivares. |