Comportamento e dieta de um grupo de macacos-aranha-da-cara-branca, Ateles marginatus (É. Geoffroy, 1809), no sul da Amazônia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: SOARES, Paola Cardias lattes
Orientador(a): LOPES, Maria Aparecida lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Pará
Museu Paraense Emílio Goeldi
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Zoologia
Departamento: Instituto de Ciências Biológicas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/7193
Resumo: A distribuição da precipitação ao longo dos meses influencia na distribuição anual dos recursos alimentares e a forma como esses recursos se encontram em um ambiente faz com que primatas adotem diferentes estratégias para ter acesso aos mesmos. Em nosso estudo, avaliamos as variações no comportamento e dieta do macaco-aranha-da-cara-branca (Ateles marginatus) na RPPN do Cristalino. Os primatas foram acompanhados e dados comportamentais e de dieta coletados sistematicamente ao longo de nove meses, entre setembro de 2011 até maio de 2012, pelo método de varredura instantânea. A variação em relação ao orçamento de atividades, uso do espaço e dieta foi analisada para três períodos caracterizados por distintas quantidades de pluviosidade (início das chuvas, pico e transição chuva seca). No pico das chuvas os primatas aparentemente maximizaram seu consumo energético, locomovendo-se mais (43,8%) de modo a ter mais acesso aos frutos, que provavelmente estavam mais disponíveis no ambiente, ingerindo-os mais (96,5%) e descansando menos (18,5%). As classes de altura superiores (>20 a 30 metros) foram mais utilizadas nos períodos de chuva, tanto no início quanto no pico, pelo menos em parte como forma de se abrigarem das chuvas e a área de vida e os percursos diários foram maiores no início das chuvas. Houve predominância de fêmeas nos agrupamentos, com machos sendo mais registrados (36,2%) no início das chuvas, provavelmente para copular, atividade que teve a maioria de seus registros ocorrendo em um mês (dezembro) desse mesmo período. Subgrupos maiores foram registrados em períodos de maior precipitação, e subgrupos menores em épocas mais secas parecem fazer parte da estratégia para evitar a competição intraespecífica. A dieta foi majoritariamente frugívora, sendo distinta na transição da chuva para a seca, não só pela menor contribuição de frutos maduros (54,3%) como também pela contribuição de folhas novas (35,8%), quando comparado aos outros dois períodos, quando frutos maduros compuseram mais de 70% da dieta. A diversidade da dieta de frutos maduros foi concentrada em um pequeno número de espécies-chave de plantas frutíferas e os frutos costumavam ser ingeridos por inteiro, com o descarte das sementes sendo pouco comum e ocorrendo apenas para poucas espécies. As sementes ingeridas passavam intactas pelo trato digestório dos macacos-aranha e o consumo de lagartas foi limitado a um curto período de tempo, constituindo fonte alternativa de proteína. Itens alternativos como madeira em decomposição e terra de cupinzeiros em meses de baixa precipitação parecem complementar a dieta ao mesmo tempo que suprem os primatas de nutrientes tais como sódio, cálcio e fósforo, pouco presentes em frutos maduros e o consumo de Eichhornia sp., embora pouco registrado, sugere que essas plantas aquáticas tenham conteúdo nutricional importante na dieta desses primatas. A alta frugivoria dos macacos-aranha e sua capacidade de dispersar sementes intactas para longe das plantas-mãe, reforçam sua importância na regeneração das florestas e justificam sua conservação e de seus habitats. Informações referentes à ecologia comportamental e dieta desses primatas, embora básicas, são pioneiras e essenciais para compreendermos as estratégias adaptativas da espécie.