Fertilidade, caracterização química, mineralogia e morfologia de cerâmicas e solos de terra preta arqueológica do Sambaqui Jacarequara (Barcarena-Pa)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: REIS, André Heron Carvalho dos lattes
Orientador(a): COSTA, Marcondes Lima da lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Pará
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica
Departamento: Instituto de Geociências
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/10678
Resumo: Terra Preta de Índio (TPI) ou Terra Preta Arqueológica (TPA) são solos comumente encontrados nos sítios arqueológicos da Amazônia, sua coloração escura e fertilidade contrasta dos solos adjacentes, geralmente pobres em nutrientes. Sua formação é relacionada ao descarte de matéria orgânica oriunda dos antigos aldeamentos indígenas, além da ocorrência de artefatos líticos, carvões e diversos fragmentos cerâmicos de diferentes estilos e tradições. Pesquisas realizadas no intuito de se avaliar a morfologia do conjunto cerâmico, caracterizações químicas, mineralógicas e a avaliação da fertilidade dos sambaquis ainda são escassas. Tais pesquisas podem contribuir para avançar no conhecimento sobre a formação da TPA, sua fertilidade e ainda elucidar aspectos do modo de vida dos grupos humanos pretéritos. Este trabalho objetivou avançar nesta problemática, ao analisar os fragmentos cerâmicos e solos das camadas arqueoestratigráficas (definidos por atributos culturais e naturais) de TPA provenientes do sambaqui Jacarequara, município de Barcarena, Estado do Pará. As amostras foram submetidas a análises químicas e mineralógicas por ICP-MS, ICPOES, DRX, MEV/EDS, microscopia óptica, avaliação dos parâmetros de fertilidade e análise morfológica (aspectos técnico-estilísticos) da coleção cerâmica do sambaqui. Quanto aos solos, os dados obtidos denunciam elevada fertilidade (V > 87 e SB >10), pH de leve a fortemente básico (6,02-8,25), elevada concentração de P disponível (46,5-818,1 mg/dm3 ) e soma de bases composta predominantemente por Ca e Mg, retratando a composição química do material carbonático adicionado. Estes valores destacam-se nas camadas intermediárias 2, 3B e 3A com maior disponibilidade P e Ca, enquanto que estes valores diminuem consideravelmente na base do perfil (camada 6). Os solos também são formados predominantemente por SiO2, Al2O3, CaO, Fe2O3, K2O e MgO (85,37 %), refletindo a mineralogia composta por quartzo, calcita, aragonita e caulinita. A concentração de P2O5 é considerada alta (0,99%) porém menor quando comparadas com outros solos de TPA da Amazônia, presente possivelmente em fase amorfa. Quando confrontados com a média crustal, nota-se valores ligeiramente altos de SiO2, CaO, TiO2, P2O5 e MnO. Por sua vez, as cerâmicas mostraram pH básico (7,04-8,00), altos valores de soma e saturação de bases (SB >29,42; V > 94,7) atestando a alta fertilidade destas. O P disponível mostrou menores valores na cerâmica que no solo (12-389,9 mg/dm3 ) revelando a contribuição dos FCs para a fertilização do solo. 8 A composição química destas é formada predominantemente por SiO2, Al2O3, CaO, Fe2O3, K2O, TiO2 P2O5 (75,33 %). Nos fragmentos cerâmicos a concentração total de P e Ca são maiores que no solo (P 0,75 %; Ca 9 % médias) porém com concentrações de P menores quando comparadas com outras cerâmicas da Amazônia, como do Baixo Amazonas. Mineralogicamente as cerâmicas não diferem do solo, denotando uma origem local para a fonte de matéria-prima. Estas são formadas por fases de quartzo, muscovita, calcita, aragonita, anatásio, além de uma fase amorfa de metacaulinita, o que sugere uma queima superior a 550ºC. Não foram encontradas fases cristalinas relacionadas ao fósforo. Quando confrontados os dados químicos com a morfologia cerâmica, nota-se que fragmentos com maior capacidade volumétrica, granulometria fina e menor concentrações de conchas moídas na argila possuem maior concentração de P (> 0,70 %), indicando uma possível relação entre os materiais usados na confecção da cerâmica, formas de utilização do recipiente e a assinatura química resultante. Morfologicamente, os resultados enquadram a cerâmica na Tradição Regional Mina, contudo variações no padrão decorativo foram encontradas entre os níveis estratigráficos: a base do perfil apresenta uma ocupação em que as cerâmicas têm formas introvertidas, granulometria fina, engobo vermelho e maior diversidade no uso de antiplásticos, enquanto que a partir da camada 3 uma cerâmica caracterizada por conchas de maior granulometria, pratos com decorações plásticas (incisas, entalhados) e fragmentos muito mais fragilizados com ausência de engobo. Assim, conclui-se que os FCs são fundamentais para a manutenção da fertilidade das TPAs e também, que as dissimilaridades entre química, mineralogia, textura e tecnologia da cerâmica de cada camada delimita três fases de ocupação para o sambaqui: na primeira teriam ocupado um promontório de praia próximo ao rio, com uso dos recursos aquáticos em assentamentos temporários; no segundo um uso permanente da área, intensificação da pesca e do descarte de resíduos orgânicos no solo, resultando na TPA, e por último uma ocupação pós-sambaquiera, com menor dependência de recursos aquáticos.