Representações de gênero e poder em São Bernardo, de Graciliano Ramos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Belon, Ligia Paschoal
Orientador(a): Durigan, Marlene
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufms.br/handle/123456789/1146
Resumo: O objetivo do trabalho é analisar representações de gênero e poder no romance São Bernardo, de Graciliano Ramos. Para a construção do referencial teórico e a orientação metodológica da pesquisa, são utilizados os princípios da Análise Crítica do Discurso, particularmente as contribuições de Fairclough (2001) e Meurer (2002). Para a constituição do corpus, foram tomados 91 fragmentos, selecionados pelo critério da representatividade dos posicionamentos dos atores sociais em conflito no romance. As análises consideram o uso efetivo da linguagem em face do contexto em que se constroem as representações da experiência humana e, pois, focalizam escolhas léxico-gramaticais e enunciativas, como as modalidades e a transitividade verbais e os modos de representação das falas das personagens, bem como outras categorias daí derivadas. O trabalho estrutura-se em dois capítulos. No primeiro, encontra-se um breve referencial histórico-teórico, que abriga princípios e procedimentos da ACD e questões pertinentes ao conceito de gênero e às relações entre homem e mulher. No segundo, discute-se a invenção do espaço (São Bernardo, fazenda e obra), da perspectiva da construção das imagens, e analisam-se as imagens e representações de gênero e poder que se cruzam nos discursos e na invenção das personagens que transitam nesse espaço. As análises evidenciam um discurso de alteridade enquanto estratégia narrativa de um narrador masculino que não quer ceder o lugar central de enunciação ao sujeito feminino e que põe em cena, dialeticamente, um distanciamento e um diálogo permanente entre posições diferentes de sujeito: homem/mulher; capitalista/socialista; narrador/enunciador; poder/não-poder, ora acentuando, ora silenciando as diferenças. Também se identificam conflitos gerados pela impossibilidade de realização dos sujeitos e de seus projetos pessoais, pondo em cena um sujeito feminino que se confronta com o masculino, numa luta entre posicionamentos políticos que extrapola o âmbito das relações de gênero. Esses atores, ao participarem das práticas discursivas (PD), constroem, como sujeitos sociais, imagens de si mesmos, do outro e da realidade, formando redes de significados e, pois, participando de uma prática social (PS) ativa, materializada no discurso em contextos comunicativos de confronto (oponentes) e de cooperação (como reguladores e até mediadores). Embora prevaleçam as situações de confronto (visíveis, aparentes), no discurso da obra predomina a naturalização: os fatos sociais e culturais são vistos como inevitáveis ou inquestionáveis, como é o caso da secular superioridade masculina, da resignação feminina, da morte, do casamento, das relações patrão-empregado no regime semi-feudal de São Bernardofazenda e no capitalismo mundial. Ao longo das análises, pudemos identificar diversas relações interdiscursivas na convergência/divergência de representações do capitalismo/anticapitalismo, do patriarcalismo/feminismo; (semi)feudalismo/burguesia, local/universal, materializadas nas vozes polêmicas de Paulo Honório e Madalena. Constata-se, pelas análises, que as relações de gênero são produzidas em um universo de valores centrado nas concepções de desintegração ou de fragmentação dos valores culturais até então constituídos, porém a mulher continua submetida ao homem, assim como este, ao capital.