Vestígios de histórias silenciadas : vozes de mães sobre o genocídio negro
Ano de defesa: | 2019 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Dissertação |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Minas Gerais
Brasil FAF - DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA Programa de Pós-Graduação em Psicologia UFMG |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://hdl.handle.net/1843/41175 |
Resumo: | Esta pesquisa analisou o genocídio negro a partir das experiências de mães de jovens negros mortos em decorrência de intervenção policial. Baseou-se na diáspora africana/negra como uma geografia de morte constituída por uma pluralidade de processos genocidas antinegro, e momento de instauração do terror racial. A diáspora africana/negra, isto é, a dispersão forçada de africana(o)s ao redor do mundo, é instituída a partir da colonização das Américas, quando também ocorre a fabricação das raças, leia-se, sobretudo de negros, de modo a desumanizá-los e submetê-los à violência racial colonial, e também de gênero. Nesse momento da racialização dos corpos, foi estabelecida uma hierarquia de vida e de morte. Desde então, o corpo negro é marcado pela insígnia da morte simbólica, social, política e física. O racismo torna-se a base do direito de matar, sendo, portanto, o principal motor da necropolítica. O Estado moderno se estrutura a partir do domínio racial e toma para si a gestão da vida e da morte. Em um mundo antinegro, o Estado não investe na proteção e na produção de mais vidas para o povo negro, ao contrário disso, suas políticas são pautadas no fazer morrer ou deixar morrer. O medo e a insegurança retiram o valor das vidas negras, legitimando suas mortes de modo que deixem de significar uma perda. A produção do terror racial pelo Estado brasileiro se utiliza na contemporaneidade da “guerra às drogas” - eixo da atual política proibicionista de drogas no Brasil - para possibilitar a concretização do racismo em suas práticas, tendo em vista que mantém a população negra e pobre sob seu domínio violento, desembocando no encarceramento e/ou morte. A morte de jovens negros, principalmente pobres, na condição de inimigos do Estado, quando enquadrada como “auto de resistência”, se torna legitimada social e institucionalmente. O racismo mata e cala. Para quem historicamente teve a voz violentamente silenciada, falar significa existir e (re)existir. Logo, há uma potência política na palavra que desestabiliza “verdades” e restitui humanidade. Conversas realizadas com as mães, gravadas e transcritas, juntamente com os registros do diário de campo, são as fontes de análises do presente estudo. As vozes dessas mulheres carregam a potência política e teórica desta pesquisa. As mães contaram como o genocídio negro se materializa no dia a dia nas favelas e periferias e a maneira como marca suas vivências. São falas de sofrimento e raiva, assim como de resistência produzida na cotidianidade dessas mulheres na busca de garantir a própria sobrevivência e de suas/seus filha(o)s. O significado da maternidade negra transmitido pelas mães não se limita a uma condição biológica, mas, é, principalmente, um modo de preservação das comunidades negras e de politização da morte. As experiências das mães foram fundamentais para tecer compreensões da diáspora africana/negra como genocídio e compreender como se materializam as engrenagens genocidas antinegras do Estado brasileiro. São, sobretudo, as vozes daquela(e)s que vivem às sombras da morte que permitem ampliar as lentes políticas e epistemológicas sobre o genocídio negro, bem como forjar resistências e lutas políticas diante do Estado genocida antinegro. |