Odisseia vermelha : da ambivlência do sangue ao sistema das trocas sanguíneas nas sociedades ocidentais
Ano de defesa: | 2009 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Dissertação |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Minas Gerais
Brasil FAF - DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIA Programa de Pós-Graduação em Antropologia UFMG |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://hdl.handle.net/1843/55665 |
Resumo: | O sangue ocupa um lugar central nas relações sociais desde as sociedades antepassadas. Presente nos mitos e nas considerações de práticas ritualísticas, ou nos tabus referentes a uma hesitação constante, o sangue designava os aspectos tanto físicos como sociais e divinos inerentes ao estatuto de humanidade. Mas na atualidade, a relação entre nós e o nosso sangue encontra-se centralizada no trabalho técnico e científico dos hemocentros. Toda essa empreitada visa ao uso terapêutico do sangue, pautado em um intenso sistema de trocas sanguíneas em sociedade. Apesar dessa mudança radical nos quadros de uma relação entre os humanos e o seu fluido sanguíneo, existe uma característica fundamental, presente nesse vínculo, que tende a se manter no decorrer da história: um sentimento de hesitação sustentado pela consideração de uma força ambivalente presente na matéria sanguínea. Isto é, o sangue que é símbolo de vida, considerado um medicamento para os dias atuais, também é símbolo de nossa mortalidade, considerado substância de risco e transmissora de agentes nocivos. Para compreender os termos dessa atual relação com o sangue é preciso um retorno ao passado no intento de rastrear os pontos de passagem que permitiram uma profunda mudança, juntamente com a manutenção de uma ambivalência do sangue, presentes em nosso vínculo com ele. O evento fundamental que permitiu uma mudança para as considerações do corpo e do sangue, no ocidente, foi o advento da circulação sanguínea no século XVII. Na passagem do período medieval para a modernidade, essa novidade científica alterou as percepções e assentimentos cosmológicos em relação ao corpo, assim como o aparato tecno-científico e a conduta de vida das pessoas nas sociedades ocidentais. Ao seguir os desdobramentos desse acontecimento científico, levando em consideração um intenso processo de continuidades e mudanças, este trabalho visa apontar que, mesmo cerceado pelos mecanismos da ciência – que considera o sangue exclusivamente em seus aspectos biológicos – o atual sistema de trocas sanguíneas continua a reiterar o papel mediador do sangue em uma associação contínua dos seus aspectos orgânicos e sociais. Desse modo, o sangue reafirma, perenemente, que o estatuto de humanidade se perfaz em uma correlação de forças que não se restringe ou apenas aos aspectos sociais, ou apenas aos aspectos naturais de nossa existência. |