A produção do cuidado em saúde mental aos atingidos pelo rompimento da barragem de fundão em Mariana (MG) : sentidos produzidos pelos trabalhadores

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Maíra Almeida Carvalho
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
Brasil
FAF - DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
UFMG
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/57057
Resumo: O crime-desastre do rompimento da Barragem de Fundão da Samarco/Vale/BHP Billiton, em 2015, teve graves repercussões para as populações atingidas de Mariana (MG), ao longo do Rio Doce, até o Espírito Santo (ES). Um dos impactos deste crime em curso é o dano à saúde mental das populações rurais atingidas em Mariana. Como resposta, a Secretaria Municipal de Saúde efetuou um Plano de Ação que previa a suplementação da Rede de Atenção Psicossocial. A responsabilização das empresas mineradoras na reparação dos danos à população atingida direcionou o custeio das ações planejadas. No âmbito da saúde mental, propôs-se a criação de equipe específica – que essa trabalhadora-pesquisadora integra e coordena – para o atendimento das populações que passaram por deslocamento forçado. Os desafios do cuidado ofertado por esta equipe, mais tarde nomeada Conviver, deram origem a esse estudo, cuja necessidade se justifica pela saúde mental em desastres ser uma área recente no cenário das políticas públicas no Brasil e pelas lacunas da literatura sobre esse tipo de cuidado a longo prazo. O objetivo geral desta pesquisa é analisar, cogerir e documentar a produção do cuidado em saúde mental aos atingidos pelo rompimento da Barragem de Fundão em Mariana e os objetivos específicos são: analisar o histórico de implementação da equipe Conviver e os seus efeitos sobre o cuidado em saúde mental, e analisar os sentidos que os trabalhadores desta equipe atribuem à produção desse cuidado. O Método Paidéia e a Cartografia foram referências teórico-metodológicas para esse estudo. Como técnicas de produção de dados foram realizadas entrevistas coletivas com Agentes Comunitárias de Saúde que trabalham com os atingidos; entrevistas coletivas com gestores que coordenaram a implementação da equipe; Espaços Coletivos com os trabalhadores do Conviver. Para colaborar na análise da implicação da trabalhadora-pesquisadora, foi feito uso da escrita diarística de forma integrada ao texto principal. A partir do seu apoio institucional à equipe, os Espaços Coletivos foram conduzidos em cogestão para análises reflexivas sobre o sentido do cuidado. Tratou-se, portanto, de uma pesquisa-intervenção participativa também considerada como pesquisa-apoio. Identificamos conflitos de interesse na origem da equipe, cujos profissionais são financiados por terceirizadas da Samarco/Fundação Renova e cedidos para atuação nos dispositivos de saúde mental em Mariana. As precarizações trabalhistas e a desresponsabilização, tanto da empresa quanto do Estado, na manutenção da estratégia de cuidado aos atingidos culminou em inúmeros efeitos, como a degradação do trabalho em várias dimensões e a identificação e espelhamento dos trabalhadores do Conviver com os atingidos. Diante deste crime-desastre, o cuidado em saúde mental enfrenta desafios relacionados à integralidade do cuidado em saúde, sobretudo pelo adiamento das ações de reparação e manutenção da situação de injustiça, o que intensifica o sofrimento ético-político e prolonga processos de luto coletivos. A superação do assistencialismo, a necessidade do olhar para as determinações sociais, o cuidado pela prevenção, a luta pela garantia dos direitos e a necessidade da criatividade e inventividade se apresentaram como sentidos relevantes articulados ao cuidado em saúde mental em contextos de desastres da mineração, segundo os trabalhadores.